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quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

5 Melhores Discos Internacionais de 2020, por Otaner

O que dizer/escrever sobre esse ano de 2020? Talvez fosse melhor xingar esse ano maldito, não é mesmo? Para as indústrias La Cumbuca significou deixar em suspensão um dos maiores prazeres que é escutar música ao vivo, ver uma banda ou um artista se apresentar, sentir de forma presencial como uma música pode transformar humores e sentimentos das pessoas. 



Coisas assim nos foram tiradas desde meados de março de 2020, no caso desta Cumbuca mais precisamente o dia 12, quando o cumbuqueiro se aventurou até Niterói para ver Jards Macalé e a turma da Encruza, no limite da possibilidade. E quem seríamos nós a reclamar disso? Muito pior está a situação para milhares - ou milhões - de músicos no Brasil e no mundo que utilizavam essa expressão artística como forma de viver. Não só eles, como toda uma rede que orbita em torno disso, de roadies, técnicos de som, iluminadores, assessorias, produções... 



Mas nós ainda temos a música. Se ela nunca foi a fonte mais lucrativa para a grande maioria dos artistas quando um disco tinha algum valor financeiro, imagina agora, na era do streaming? Mas a música está aí e as possibilidades de você recompensar aqueles que você admira são bem variadas. Discos continuaram a sair, alguns feitos antes e outros durante a pandemia. Se a relação de ouvir música certamente é afetada por essa pandemia, imagina as dificuldades? E mesmo assim houve uma torrente incessante de opções. Vamos começar pelos discos produzidos fora do Brasil.


 



Repetindo o que escrevi ano passado e quase todo ano escrevo algo parecido: a divisão nacional / internacional é porque no fim das contas a gente consegue prestar muito mais atenção no que é feito no Brasil, enquanto o recorte do que é feito no resto do mundo provavelmente não reflete o melhor produzido por aí.


Permaneci este ano com alto interesse no que tem sido produzido no continente africano, mais para o lado do norte, enquanto no universo ocidental permaneço firme com os ouvidos direcionados aos grupos novos que cataram no sebo ou no spotify tudo relacionado a pós-punk inglês e resolveram replicar por aí. Nada disso impediu a lista de ter alguns nomes que passam longe desse dois diferentes pontos musicais que tanto me agradam.


05
Pinegrove - Marigold



O Pinegrove já esteve no meu Top 10 gringo de 2016 e desde então eles vão aperfeiçoando aquilo que já estava lá que é mais ou menos como se o Jeff Tweedy (lançou bom disco este ano) escrevesse músicas para o Death Cab For Cutie e é meio difícil desvencilhar dessa ideia com a primeira faixa, "Dotted Line". Um emo para adultos, se você quiser uma definição rápida e simplista que talvez não te leve a apreciar um álbum que te dá um belo respiro nesse mundo duro. Recomendo as faixas "Moment" e "Phase".


04
Flaming Lips - American Head



De tantos artistas mais conhecidos com bons álbuns lançados este ano, dos medalhões Neil Young (mas material antigo) e Paul McCartney, passando por Strokes e Gorillaz, que poderiam estar nesta lista, o que mais me interessou foi o retorno do Flaming Lips a um universo mais próximo ao que eles estavam no fim dos 90/começo dos 2000, mas entrando fundo em uma espécie de Pink Floyd desolador (exemplo óbvio: "Watching The Lightbugs Glow"), às vezes um Queen psicodélico (senti isso em "Flowers of Neptune 6"), em uma reconfortante melancolia condizente com os nossos tempos.


03
Bambara - Stray



E então chegamos ao representante do tal pós-punk que mencionei mais acima. Se eu tivesse considerado todos os discos dentro disso que identifico como um estilo como os melhores deste ano, teriam entrado. E foi uma produção bem interessante que, se você curte coisas do gênero, pode conferir: 925, do Sorry; Ultimate Success Today, do Protomartyr (quase entrou); A Hero's Death do Fontaines D.C.; Ultra Mono do Idles. Esses dois últimos vão estar em várias listas, com justiça. E ainda tivemos os veteranos Psychedelic Furs e Wire!


Sim, são discos diferentes uns dos outros e o Bambara difere bastante de todos eles. O grupo americano não parece nem um pouco americano e curte demais aquele Nick Cave and The Bad Seeds dos anos 80, aquela vontadezinha de estar na trilha sonora de algum filme do Wim Wnders ou do David Lynch. Some a isso um retrogosto de surf music ou rockabilly (Cramps?) que em discos anteriores não ornava tão bem e agora está melhor encaixado. Não dá pra ficar indiferente a faixas como "Serafina" ou "Machete".


02
Bab L' Bluz - Nayda!



Dentro da ignorância que a cumbuca possui em relação à riqueza e exuberância dos sons vindos da Africa, este ano fui atropelado por esse grupo chamado Bab L'Bluz, que adapta uma caldeirada de sons contemporâneos à música gnawa, do Marrocos. Ainda conhecendo sobre, mas talvez não pudesse haver melhor ponto de partida, com tanta energia e inventividade envolvidas. Deixou comendo poeira a turma do Mali que lançou bons trabalhos este ano: Afel Bocoum, Songhoy Blues e Tamikrest. Mali que é uma região diferente da origem geográfica do Bab L'Bluz, mas todos possuem essa aura de mantra hipnotizante com blues que recomendo bastante.


01
Lucinda Williams - Good Souls Better Angels



Lista de melhores é claro que é algo bem pessoal. O critério que costumo utilizar é bem simples: se tivesse que escutar novamente apenas um disco dos que escutei que foram lançados em 2020, qual eu escolheria? Para mim geralmente isso me facilita a resposta (o difícil é do segundo para trás) e quando Lucinda Williams lança um álbum igual a Good Souls Better Angels aí fica mole.


Ela já tinha alcançado esse patamar com Down Where the Spirit Meets the Bone de 2014 (fez parte da minha lista de 2014), um disco duplo com quase duas horas primorosas de rock, blues, country e folk. Nenhuma mudança com o disco deste ano, apenas mais concisão e aspereza (em especial na voz de Lucinda) que me deixa sem fôlego em momentos como "Wakin' Up" e "Bone of Contention", substituindo qualquer chance de novidade por uma intensidade que é recompensadora.

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