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sábado, 26 de dezembro de 2020

5 Melhores Discos Nacionais de 2020, por Otaner




2020 na produção musical no Brasil para mim foi um ano de M. Calma, não é o que você está pensando. Apesar da pandemia, o que provavelmente alterou e interrompeu o curso de diversas gravações que viriam a ser feitas durante o ano, também abriu possibilidades e desafios a quem tinha capacidade para tal. Pelo menos dois dos discos feitos no Brasil que considerei como os melhores dentre os que ouvi foram feitos dessa forma, em isolamento e recebendo parcerias de forma remota.


Outros já estavam prontos ou em vias de terminar. Mas, como curiosidade, acabou que a lista contempla cinco artistas masculinos: 4 com a inicial M no nome - dois com o mesmo nome, outros dois também com o mesmo nome! Como menção honrosa, a delicadeza de Luedji Luna com Bom Mesmo É Estar Debaixo D'Água. Se formos considerar EPs, Rico Dalasam e Eddie não poderiam deixar de ser lembrados. Mas minha lista no fim ficou assim:


05
Marcelo Callado - Saída

O baterista do Do Amor e de tantas e tantas outras bandas tem gerado uma produção de assinatura própria bem volumosa. É o quarto disco solo em cinco anos e aqui Callado, tocando vários instrumentos e colaboração distanciada de diferentes parceiros, condensa muitas ideias dos trabalhos anteriores de forma bem exitosa. O que torna um passeio a audição dessas canções com letras que se alternam entre poesias no estilo de Walter Franco a declarações bem diretas e sinceras sobre mães, avós e amores, com uma sonoridade que remete tanto aos anos 70 com guitarras que soam a Lanny Gordin aqui e ali ("Curtavida" é demais) quanto a gaúchos como Frank Jorge e Wander Wildner.


04
Marcelo D2 - Assim Tocam Os Meus Tambores



O processo de colaborações não-presenciais que Callado fez durante a pandemia sem muito alvoroço, o seu xará do Planet Hemp engendrou aos olhos de quem quisesse ver através da rede social Twitch. A banda americana Weezer mostrou seu processo de produção do disco Maladroit (2002) através de fóruns nos primórdios da Internet e pedia opinião dos fãs, enquanto PJ Harvey transformou a gravação de The Hope Six Demolition Project (2016) em uma instalação artística aberta ao público. Certamente existem outros exemplos de discos feitos em público e outros com participações feitas pela internet, mas ainda incomum da forma que D2 operou.


São mais de 20 músicos e artistas das mais diferentes origens, de Kassin a Djonga, do baterista Mamão, do Azymuth, a Juçara Marçal. Uma das melhores características de D2 desde o Planet Hemp, que é saber agregar e aproveitar a diversidade musical que temos por aqui, e que acabou fazendo seu melhor disco desde A Procura da Batida Perfeita.


03
Kiko Dinucci - Rastilho

O Rastilho de Kiko Dinucci foi lançado em janeiro, mas é um disco que poderia ter sido realizado durante a pandemia igual os dois acima, até porque foi imaginado quando o cantor estava de "molho", com o pé quebrado. Fora eventuais coros de vozes femininas e as participações de Juçara Marçal, Ava Rocha e Rodrigo Ogi, as músicas são basicamente Kiko cantando e tocando um violão de nylon.


Mas quem ouve sabe que essa aparente simplicidade instrumental passa longe de qualquer coisa próxima a minimalismo, com o violão ditando tanto a base melódica quanto o em geral intenso ritmo das músicas que mantém a qualidade das composições que faz com Metá Metá, solo ou em outros variados projetos, com destaques para "Febre do Rato", "Veneno" e "Vida Mansa".


02
Mateus Aleluia - Olorum



Após a divulgação discretíssima do lindo Fogueira Doce (segundo lugar na minha lisitnha de 2017), parece que o lançamento pelo Selo Sesc fez de Olorum, nova fornada de músicas de Mateus Aleluia, alcançar mais gente por aí. O cantor que fez parte do a cada ano mais incensado Tincoãs segue escrevendo canções que constroem a ponte com as raízes africanas presentes na nossa cultura, desta vez acompanhado de muitos músicos da cena paulistana (Bixiga 70, Thiago França, Gustavo Ruiz, entre outros), além de João Donato em duas faixas, o que incrementa, mas nunca ofusca a presença majestosa de Mateus Aleluia.


01
Mateus Fazeno Rock - Rolê nas Ruínas



Do segundo pro primeiro lugar, o primeiro nome permanece. Mas além dos mais de 50 anos de idade de diferença para Aleluia, o cearense Mateus Fazeno Rock (nome artístico genial) percorre outros caminhos para seu Rolê nas Ruínas. O nome é apropriado: em cerca de meia hora temos um passeio pelos escombros de vários estilos de música pop, em especial música eletrônica através do funk, rock sujo que pega tanto de Nirvana quanto Stooges, reggae, rap, mangue beat, com melodias que por vezes lembram o Rappa...


Mateus não tem problema em utilizar e se divertir com elementos jogados por aí por décadas, gritando Djavan enquanto ao fundo toca "Smells Like Teen Spirit". Tudo se junta de forma surpreendentemente harmoniosa e interessante com uma produção que acerta em todos os momentos. Que outros rolês venham.

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