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quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Gota D'água

Não é exatamente música, mas tem muita música. E é claro que os colaboradores do blog mais onipresente aos eventos baratos desta cidade (ei, Police, vai tomar no...) não perderiam a promoção 'Teatro Para Todos". Logo, a nova montagem de Gota D'água realizada pelo diretor João Fonseca foi a escolha óbvia.

O interesse inicial era mesmo ouvir ao vivo músicas do quilate de "Flor da Idade", "Bem Querer", "Partido Alto" e "O Que Será", mas há muito mais do que isso no espetáculo. Segundo o nosso cumpadi Google a peça, escrita em 1975 por Paulo Pontes e Chico Buarque, é uma adaptação da tragédia grega Medéia para o cotidiano dos morros do Rio. A Medéia carioca dessa vez ficou a cargo de Izabella Bicalho. Ela está ótima (e gritando muito) na interpretação de Joana, mãe de duas crianças que está amargurada porque o sambista Jasão (Lucci Ferreira) a trocou pela filha do abastado dono do conjunto habitacional onde a ação se desenvolve. Conforme solicita a narrativa dos vários acontecimentos paralelos (o sucesso de Jasão nas rádios, os preparativos do seu casamento com a nova amante, os protestos dos moradores contra o constante aumento das prestações e os planos de vingança de Joana) o cenário se divide em até 3 núcleos simultâneos ou se unifica. Mesmo sendo um drama a peça é hilariante em muitos momentos. A habilidade do diretor em escolher o elenco adequado aos papéis também fica evidente.

Muitas vezes o D'Iollanda imprime um certo maniqueísmo nas suas criações - certa vez Eric Hobsbawm disse que isso era uma crise de consciência típica de um aristocrata esquerdista. Nessa obra também está presente o embate entre os bons (que são pobres, é lógico) e os maus (os ricaços). No entanto existem outros aspectos. Por exemplo, não dá pra enquadrar Joana em nenhuma dessas duas categorias. É verdade que há todo um discurso sobre a luta de classes, mas os autores conseguem inserir isso de uma forma palatável lançando mão de uma sucessão de fatos na trama (chovem metáforas sobre o populismo) que faz alguns dos"mocinhos" se corromperem e de diálogos espirituosos entre as personagens. Aliás, quem gosta de botar na conta do Papa e de mandar o 07 trazer a 12 pode fazer a festa com chavões pegajosos do tipo "se fosse eu, dava-lhe um tiro no cu" e "continuamos fodidos, sem grana e sem graça".

A peça fica em cartaz até o final desta semana no Teatro Glória. O preço promocional do ingresso é dez merréis (precisa comprar antes em algum dos quiosques espalhados pela cidade). Começa por volta das 20h na quinta, na sexta e no sábado e 19h no domingo. Chegue cedo, pois tem lotado.



4 comentários:

Otaner disse...

Belo texto, Rodrigo! Que esse seja o paradigma das postagens futuras dos cumbuqueiros. :P

Dine disse...

corram pra ver porque vale muito a pena mesmo.

e também gostei do texto. trate de escrever mais rodrigo! =P

Anônimo disse...

A peça é simplesmente sensacional e Izabella Bicalho estava perfeita no papel de Joana.
Marco Donza

Anônimo disse...

Lindíssima... apesar de um contexto imerso na malandragem carioca com ótimas tiradas cômicas, a peça conservou a verve trágica da obra em que foi baseada.
Excelente elenco, sem "superatuações"... Mas meus parabéns se dirige especialmente para a atriz que interpretou Joana. Passei alguns dias com a sua expressão facial e voz na cabeça. Bravo!