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domingo, 23 de dezembro de 2007

La Cumbuca Entrevista : Qinho [Vulgo Qinho & Os Cara]

Primeira entrevista do blog! Hoje o entrevistado é o Qinho [sem o ''u'' mesmo] frontman do Vulgo Qinho & Os Cara, banda que faz show na rua e tocou num dos ultimos vespeiros [show esse que até rendeu um texto aqui]. A entrevista aborda desde fãs até o medo das pessoas saírem pras ruas, fato esse que levou a banda [junto com o Freddy Ribeiro] a fazer shows na calçada em pleno Leblon. Segue abaixo a entrevista:

Túlio - La Cumbuca: Uma coisa que me chamou atenção na banda é a presença de um poeta! Da onde que veio essa idéia?

Qinho: Bom, eu, o poeta (Omar) e o guitarrista da pedaleira (Caio) éramos do mesmo período do curso de comunicação da PUC e nos conhecemos lá. Eu e Caio, junto com o primeiro baterista da banda (Fabiano Ribeiro), começamos a trabalhar em algumas músicas minhas para criar a banda. O Omar sempre esteve por perto por ser muito próximo e amigo de todos. Por acaso, logo que a banda estava quase saindo da garagem, aconteceu a festa de 10 anos da extinta livraria da Dantes, que ficava no Leblon, na rua Dias Ferreira. O Omar foi convidado a recitar poemas seus no evento e teve a idéia de chamar a banda para participar junto com ele. Misturando poesia e música. Depois desse dia fizemos mais alguns shows em outros eventos de poesia e quando a gente se deu conta Omar já era um integrante da banda. Para a nossa felicidade hehehehe.

Túlio - La Cumbuca: Legal, então foi meio que sem querer a coisa.

Qinho: Foi ao acaso, e depois a gente apostou na presença dele como integrante mesmo. Achamos uma fórmula para ele caber dentro dos arranjos das músicas.

Túlio - La Cumbuca: Ficou bem legal. A banda sempre teve ligação com a literatura, antes mesmo do Omar entrar na banda?

Qinho: A literatura, pra mim, junto com o cinema é a maior fonte de alimentação que existe para a criação. Eu gosto muito de ler, é uma coisa que faz a minha cabeça rodar e por isso me estimula.

Túlio - La Cumbuca: Algum livro ou filme em especial alimentou essa desorientação toda?

Qinho: Ôxi rapaz são tantos: Kubrick; Henry Miller; Pasolini; Nietzsche.

Túlio - La Cumbuca: Kubrick! Tava querendo ouvir isso! Ele tem alguma presença na banda, se assim podemos dizer?

Qinho: Ah, todo mundo adora. Logo no início da banda a gente listava ele como uma das nossas influencias.

Túlio - La Cumbuca: Hm, e musicalmente, quem é a influência mais forte na banda?


Qinho: Algumas né, entre o batera, o baixo e o guitarra existe uma unanimidade clássica: Red Hot Chili Peppers. Baixo e batera tem escola funkeira, com os pés fincados nos anos 70, o guitarra é seguidor de Jimi Hendrix, e eu puxo mais para o lado do Jorge Ben, Caetano, Luiz Melodia, Marvin Gaye. Tudo década de 70 também. Omar é filho de Waly, então uma influencia forte de Jards Macalé e Gal Costa são presentes também.

Túlio - La Cumbuca: Foi fácil jogar tudo isso junto e fazer um disco?

Qinho: Nada é fácil, né. Demorou 2 anos pra gente começar a gravar o disco e ainda assim eu sinto que falta muita estrada pra gente. Esse ano a gente fez 3 anos de banda. Hoje eu sinto o som muito mais seguro de si do que na época em que gravamos o disco. Acho que o proximo vai ter mais a nossa cara mesmo, com uma identidade forte num jeito de fazer música brasileira com influência negra sem farofagem.

Túlio - La Cumbuca: Como que foi a gravação do disco? Você disse que agora faria algo mais diferente, o que tu mudarias no disco?

Qinho: Eu não mudaria nada no disco, porque ele está lá, pronto, é o produto de uma época, de um trabalho de um momento. Tudo o que eu quero que mude eu pretendo realizar num segundo. Eu imagino o próximo disco quase como grande música que vai se remendando em várias pequenas músicas. um conceito mais orgânico, e uma proposta mais uniforme.

Túlio - La Cumbuca: O disco de vocês foi lançado pela Bolacha Discos, vocês procuraram eles ou eles que acharam vocês e decidiram contratar?

Qinho: Eles acharam a gente.

Túlio - La Cumbuca: Numa daquelas apresentações na rua?

Qinho: Não, como eu disse a gente já vinha tocando por aí há 2 anos e logo quando a gente decidiu gravar o disco o bolacha procurou a gente num sincronismo forte e hoje está aí o resultado.

Túlio - La Cumbuca: Vocês tocaram no MOLA e agora vão tocar no HPP! Como que vão os animos por ai?

Qinho: À flor da pele. o MOLA foi muito legal pra gente. Tocamos para mais de 1.000 pessoas no Circo Voador e a repercussão foi maravilhosa, do palco deu pra sentir que o público ficou conectado no som e no show o tempo todo. Foi muito bom. A gente espera que o Humaitá Pra Peixe seja melhor ainda. Estamos muito felizes com essas inserções nos festivais porque simbolizam o fruto de um trabalho sério e árduo que aos poucos está sendo reconhecido.

Túlio - La Cumbuca: Eu acredito que se vocês mandarem material para essas rádios MPB com certeza elas vão tocar, ontem eu ouvi no Ronca e então deu pra perceber que o trabalho de divulgação do disco já começou, o que vocês-selo têm feito?

Qinho: A gente tem conectado todas as pessoas que possam se interessar pelo trabalho para multiplicá-lo para mais e mais pessoas. Estamos aos poucos entrando em contato com gente bacana que está disposta a ajudar e tocar pra frente a nossa bola. É sempre um processo complicado sair do zero e ir entrando no mercado, mas nós estamos forçando a barra para entrar.

Túlio - La Cumbuca: Qual foi o maior obstáculo que vocês enfrentaram pra conseguir lançar o disco?

Qinho: Cara, os processos de mixagem e masterização foram demorados, um pouco complicados porque somos todos marinheiros de primeira viagem. E fizemos o disco inteiro praticamente sozinhos. Além disso, os processos burocráticos também são bem chatos, mandar o disco pra fábrica, coisa e tal.

Túlio - La Cumbuca: Existe a possibilidade de sair uma versão em LP?

Qinho: Não, bem que gostaríamos, mas não existe. Quem sabe no próximo???

Túlio - La Cumbuca: Vamos esperar então! Fugindo do assunto do disco, como que foi pra escolher o nome da banda? Acho que isso é sempre um problema...

Qinho: É, e foi mesmo. O nome da nossa banda é complicado, grande e tem uma grafia diferente então suscitou muitas argumentações contra, mas seguramos a onda e o mantivemos. Depois de um tempo percebi que o nome continha um pouco do conceito da banda. Essa grafia "errada" faz sentido quando pensamos que existe um poeta na banda, que só fala, alguma coisa que poderia muito bem ser considerada "errada". Além disso é um nome grande de compreensão não muito simples. Acho que tem a ver com a proposta da banda, de não ser simples, de ser densa no que faz e no que diz, um tipo de som que vc precisa ouvir mais de uma vez para digerir, assim como o nome.

Túlio - La Cumbuca: No início vocês levavam a banda como um hobbie ou era profissional [já pensavam em um disco e tal...]?

Qinho: A gente já pensava em levar a sério, mas o comprometimento foi aumentando com o tempo e hoje a nossa postura é bem profissional em relação ao nosso trabalho.

Túlio - La Cumbuca: Uma coisa que chama atenção no show de vocês, que eu não posso deixar de falar aqui, são os 17 pedais! Caramba cara, a culpa é toda do guitarrista ter criatividade para usar tudo isso ou alguém sugeriu isso [fora Hendrix]?

Qinho: Essa viagem é da cabeça dele. Ele sempre fez questão de usar vários pedais e a gente o chama de o cientista da pedaleira, pesquisador de timbres. A gente adora.

Túlio - La Cumbuca: Hahahaha, eu acho que ficou muito bem utilizado, de vista o pessoal geralmente pensa que é muita coisa, mas nas músicas percebem que é necessário. O que você mais gosta no fato de ter uma banda? Pegar as fãs doidas!?

Qinho: Hehehehe! Não. Eu sou até contra esse tipo de discurso que diz "você só começa a tocar violão porque quer pegar as gatinhas", "você é artista na verdade pra pegar as gatinhas". Acho que isso diminui muito a nossa escolha profissional, o nosso trabalho. E além disso eu acho que não precisa tocar nada nem ser ninguém pra pegar gatinhas. Pra pegar as gatinhas basta querer. Mas o que me dá mais prazer em ter uma banda é trabalhar. Eu adoro trabalhar. Tocar, ensaiar, gravar, pensar, compor. E a banda me dá a oportunidade de eu fazer tudo isso que eu tanto gosto e além de tudo ainda tem o retorno das pessoas que gostam do seu trabalho, dos amigos que te apóiam. É claro que o trabalho é duro e não tem nada de fácil, mas o prazer é maior, sem dúvida. Tem que ser sempre em todas as escolhas da vida.

Túlio - La Cumbuca: Tá certo! Bem, já passou os dois lados do disco do Weather Report, acabou agora um do Kraftwerk... ou seja já estou te alugando há muito tempo. Pra finalizar, deixa uma mensagem aí!

Qinho: A mensagem que eu tenho a deixar é a do diálogo, a do encontro. Eu acho que a nossa cidade, principalmente a zona sul, está cada vez mais fechada em si mesma, com medo de tudo. E a maneira mais apoiada de solucionar esse problema é atacando a margem, a periferia, os morros, com ainda mais violência. Eu discordo totalmente desta política de relacionamento. Acredito acima de tudo no afeto e no amor. E vejo que a gente está carente de diálogo, de encontro, de derrubar esse muro que supostamente divide a cidade em dois. A mensagem é essa, vamos nos encontrar, vamos ocupar as ruas, as cidades e dialogar com afeto e amor.
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Acabou, só dedicar essa linha em agradecimento, o Qinho me aturou por mais de uma hora... Valeu mesmo, cara!

2 comentários:

Anônimo disse...

não tem de quê... !
foi um prazer
=D

Anônimo disse...

E dia 24 no HPP!!!
ao vivo e com 17 pedais, nao posso perder