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sábado, 21 de janeiro de 2023
5 Melhores Discos Nacionais de 2022, por Otaner
Confesso que, apesar da óbvia qualidade na produção musical feita no Brasil, e não foi com desprazer que ouvi mais de 150 discos durante o ano (veja nossa lista de lançamentos 2022), acho que esperava um pouco mais de obras com começo, meio e fim. Sabe aquela ordem de faixas que faz você querer ir até o final do disco e colocar ele pra tocar de novo? Acho que faltou um pouco, ainda mais com o arrefecimento da pandemia, facilitando os encontros para produção e gravação. Será que 2023 vai ser O ano?
O que não quer dizer que, além dos meus 5 preferidos, outros discos não possam ser recomendados. Exemplos: O segundo volume dos Sambas do Absurdo de Rodrigo Campos, Juçara Marçal e Gui Amabis; as homenagens a Letieres Leite (Moacir de todos os santos, que ele gravou com a Orkestra Rumpilezz antes de falecer) e Mestre Môa do Katendê (Raiz Afro Mãe); e mulheres incríveis de diferentes gerações como Iara Rennó (Oríkì, seu melhor trabalho até hoje), a maturidade de Alaide Costa (O Que Meus Calos Dizem Sobre Mim, ouçam "Pessoa-Ilha") e o frescor de Rachel Reis (Meu Esquema)
Outros discos que me fizeram coçar a cabeça de forma positiva e é algo que procuro buscar quando ouço música: o 8 Hits! da Raquel Dimantas; Foi Mal do Pelados (!) e essa loucura meio progressiva que o Luneta Mágica fez em No Paiz das Amazonas.
Tem muito mais pra ouvir e reouvir. Como é bom poder ouvir música e como é bom termos essa pluralidade que nunca termina. Acompanhe abaixo os que mais gostei.
05
Crizin da Z.O. - Alma Braba
Se não contar os dois remixes no final, são 6 faixas em menos de 20 minutos. Em geral consideraria isso mais como um EP, e tivemos outros bons discos/EPs de curta duração que também poderiam fazer parte dessa lista, como Juçara Marçal, Rico Dalasam e Roberta Sá.
Mas pela quantidade de repetições que Alma Braba teve aqui, ficou impossível não figurar entre as principais recomendações. Partindo do funk carioca e um eletrônico mais industrial, os produtores AkaDindo e Marcelo Fiedler competem com o vocalista e compositor Cris Onofre quem é mais doido. Tem metal e tem samba numa infinidade de programações, samples e interferências que não ficam indigestas, onde talvez a melhor definição esteja quando Cris canta: "Eu venho do Rio, mas não venho da praia".
Me lembra bastante Mateus Fazeno Rock (meu preferido de 2020 com Rolê nas Ruínas), Tantão e os Fita e Teto Preto, mas ao mesmo tempo não é possível cravar que essas seriam de alguma forma referências. Não é perfeito, mas é corajoso pra caramba.
04
Tulipa Ruiz - Habilidades Extraordinárias
Lembra do começo da década de 10? Dava a impressão que nós tínhamos pelo menos dois artistas que iam vingar de uma forma "para além" da cena independente nacional: Marcelo Jeneci e Tulipa Ruiz. Eles lançaram em 2010 respectivamente Feito Pra Acabar e Efêmera, este meu disco favorito na época.
Os anos se passaram e Tulipa lançou outros dois discos bem legais, ficando estabelecida no cenário musical, mas sem talvez alcançar o tamanho que merece. Sete anos depois do último álbum cheio (Dancê), Habilidades Extraordinárias não muda muito o diversificado pop-MPB com balanço e aquele toque bonito de guitarras vindas do irmão Gustavo Ruiz, produtor do disco, e outros timbres e ideias que diferenciam Tulipa e Gustavo do resto do bando. E as letras bem acima da média? Então o que não falta aqui é motivo para Tulipa ocupar postos cada vez mais altos na música brasileira, bem perto do topo.
03
Russo Passapusso e Antonio Carlos e Jocafi - Alto da Maravilha
Embora "Você Abusou" não fosse desconhecida pra mim, a primeira vez que me tornei ciente da dupla Antônio Carlos & Jocafi foi quando Marcelo D2 usou "Kabaluerê" como sample para "Qual É". Um tempo depois, a profusão de blogs dedicados a espalhar em MP3 a música brasileira menos conhecida me permitiu conhecer melhor a discografia inicial desses baianos que eram presença constante em trilhas-sonoras de novelas nos anos 70.
Após tanta gente daquela época sendo "redescoberta", chegou a hora deles, de uma forma diferente. Russo Passapusso, vocalista do Baianasystem, já tinha mostrado com seu primeiro disco solo uma formatação musical que captava algo da MPB/samba/funk dos anos 70 sob o olhar de Russo e do produtor Curumin com seus parceiros habituais. Alto da Maravilha tem tudo isso de volta, mas adicionando Antônio Carlos & Jocafi. Ou seja, não mudou quase nada, só ficou melhor.
E se "Vapor de Cachoeira" não está em alguma novela, a Globo tá dando mole.
02
Ratos de Porão - Necropolítica
A parte mais triste desse disco do Ratos de Porão é que, assim como o álbum Brasil, de 1989, que falava sobre Amazônia e os perigos do nacionalismo, os temas berrados por João Gordo continuem atuais por muito tempo, mesmo com a derrota do bolsonaro. E de forma surpreendentemente inteligível, talvez para que a gente entenda mesmo sem ter que ler as letras. Dito isso, que bom que este país tenha João, Jão, Boka e Juninho para com peso, velocidade, urgência, registrar um período de nossa história com passagens tão horrendas.
Mesmo que eles quisessem falar de outros assuntos, ainda assim a música seria incrível. Talvez no geral um pouco menos violento e veloz que o disco anterior, Século Sinistro, mas o mais lento que o Boka consegue tocar bateria ainda é rápido pra caramba. E continua aquela mistura de hardcore e thrash metal que eles sabem fazer como ninguém. Mas o combustível de se opor a um governo fascista é que faz a banda explodir em porradas sonoras em série.
01
Planet Hemp - Jardineiros
Se o Ratos de Porão teve como "estímulo" o enfrentamento contra o governo fascista de jair bolsonaro, o que dizer de um disco novo do Planet Hemp depois de mais de 20 anos? A banda já estava de volta à ativa desde a década passada, mas sem perspectiva de um álbum, afinal o que mais precisava ser dito em relação à liberação da maconha?
Bom, com Jardineiros eles mostram que não só ainda há muitas formas diferentes de falar sobre maconha e gritar o nome da banda a cada música, como também há muito mais que eles podem fazer juntos em termos de manifestações políticas e também de sonoridades.
Há músicas que poderiam perfeitamente estar nos discos anteriores e há coisas absolutamente originais que ultrapassam o que já fizeram, como a mistura de hardcore e trap em "Taca Fogo" e o rockão "Veias Abertas" que simplesmente mete um sample de Tantão & os Fita (da música "Portal") no refrão. Se a gente precisava de um novo disco do Planet Hemp, 2022 foi o melhor ano para a gente descobrir que sim.
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