Por Bruno Silva, Otaner e Rodrigo Nunes
Duas ruas com música, mendigos, travestis, gente bebendo, malucos em geral, polícia e religiosos protestando. Não, não era a Rua do Riachuelo e a Mem de Sá na Lapa!
Conforme já andamos dizendo aí embaixo, a rapaziada do Vulgo Qinho & Os Cara resolveu organizar uma série de shows pelas esquinas de Ataulfo de Paiva e Visconde de Pirajá, onde ficam os bairros do Leblon e Ipanema, respectivamente.
La Cumbuca andou na contra-mão para contar sobre alguns dos shows.
Os Outros tocavam em uma ponta da Praça Nossa Senhora da Paz com o baixista Vitor Paiva por vezes assumindo os vocais, como na divertida Jovem Guarda de "Um Leão Está Solto Nas Ruas", do repertório de Roberto Carlos.
Tocaram ainda "Agora ninguém chora mais" de Jorge Ben, quando ainda se chamava Jorge Ben. Um mendigo circundava o grupo, fazendo altas performances. Apesar do som do lugar meio fraco, Os Outros causaram uma boa impressão no público que parava por ali.
Enquanto isso, na outra ponta da praça, o vocalista e guitarrista do Solana Star anunciava que iam tocar uma música que gostam muito e ali, em frente ao Bradesco, despejam uma versão muito competente e suja de Fire, do Jimi Hendrix.
Na esquina seguinte o artista plástico Rafael Inácio pintava um quadro, enquanto alguém batucava em cima de uma música vinda de uma caixa de som. Próxima parada: Binário.
O Binário já tem literalmente "anos de praia" no quesito shows ao ar livre: até o início deste ano eles se apresentavam nos domingos de sol entre os postos 9 e 10 em Ipanema. Mas isso não impediu que eles quase sofressem o maior revés da noite.
Logo nas primeiras músicas chega a polícia mandando parar com o "barulho", por conta de reclamações de vizinhos (embora certamente os ônibus fizessem mais barulho). Alguns moradores acompanham atentos o desenrolar da história.
O vocalista e guitarrista Lucas Vasconcellos, com sua serenidade habitual tira de letra e no final "ozôme" pedem somente para baixar o som, o que serve de pretexto para Lucas pedir para o público chegar mais perto (umas 30 pessoas nos momentos de ápice).
Com um time reduzido a "só" um baterista, mandavam no sapatinho mais uma versão nessa noite, o mela-pagode "É Tarde Demais" do Raça Negra (aquela que o cara de língua presa ficava cantando sem parar "Que pena, amor, que pena") transformado em um dub-rock, com riff marcante. Vocês podem ver essa versão tocada em 2006 aqui. Mais tarde terminariam a apresentação de forma apoteótica com "Balinha".
Mas deixando os caras ao som da excelente "Romântico 2" para ir para a próxima fase, que é o Bonde Som, tocando ali na Henrique Dumont, fronteira entre Ipanema e Leblon. Das bandas que este blog presenciou era o espaço com mais gente assistindo, e deve ajudar o fato de ser em frente a alguns bares.
Também foi a banda com o som mais redondo e bem equalizado. Suas levadas dançantes com misturas de ritmos latinos levaram uma dupla de travestis a protagonizar cenas inusitadas de dança e movimento oriundos d'Os Trapalhões.
O "próxima fase" escrito acima se justifica com a versão do tema de Super Mario World que eles mandam logo em seguida, onde cada musiquinha do game é costurada aqui em vários ritmos, sem perder aquela sensação de familiaridade com os temas originais.
Atravessando o canal e chegando no Leblon, já não haviam muitas bandas nos locais indicados, até começar a ouvir "Shop Chop/ I Picture Myself" meia quadra antes de chegar à Bibi Sucos, onde Do Amor se encaminhava ao fim de seu show.
Show que de início teve problemas com a Igreja Santa Mônica, que fica a poucos metros da esquina da Ataulfo de Paiva com José Linhares, onde o quarteto se apresentava: uma senhora saiu de lá e simplesmente desligou a tomada que plugava os instrumentos.
Resolvido o contratempo eles mandaram suas músicas com Marcelo Callado apertando teclas de um teclado casio no lugar de uma bateria de verdade. Surpreendentemente funcionou muito bem, em especial em "Meu Coração", e considerando as adversidades o som estava coeso.
Desde que La Cumbuca chegou por lá já havia a participação de Silvia Machete com seu número de bambolê (e seus inúmeros bambolês), em um uniforme de fazer Jane Fonda morrer de inveja.
Para finalizar, chamam Flu, outrora integrante do De Falla, para tocar um hit de sua ex-banda "Não me mande flores", numa versão guitar acelerada, com intervenções de Flu no teclado casio de Callado.
Flu estava com o mesmo "figurino" da banda mais despojada desse dia: todos de chinelo e bermuda, como se tivessem acabado de sair do praia (o que talvez tenha sido o caso).
Voltando para Ipanema ainda foi possível ver 3 a 1 na Farme de Amoedo, cantando sobre o carnaval ("No Carnaval") enquanto o vocalista e um dos guitarristas pegavam instrumentos de percussão e aproveitavam o sinal fechado para tocá-los do outro lado da rua.
A maior parte das bandas estava vendendo seu cd (ou melhor, smd) por 5 reais. A compra era quase sempre feita diretamente com a banda. Uma senhora idosa comprou o cd Do Amor. O nome simpático da banda deve ter ajudado.
O evento foi uma iniciativa muito inspiradora e que possibilitou para cada uma das bandas no mínimo uma história inusitada pra contar. Esperamos que aconteçam outras edições ou outras intervenções dessa natureza pelo Rio de Janeiro tão cultural e tão carente de cultura acessível ao mesmo tempo. Quem sabe um dia da praça?
Enquanto não acontece, fiquem com um trecho da apresentação de Silvia Machete, sem áudio infelizmente:
Um comentário:
Mais um furo de reportagem de La Cumbuca.
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