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sábado, 2 de fevereiro de 2008

Songoro Cosongo e Z'Africa Brasil no Humaitá Pra Peixe (19/01/08)

Sábado cinzento no Rio de Janeiro. Deslocava-me até a Baden Powell para conferir o penúltimo grande show (pelo menos pra mim) do Humaitá Pra Peixe. Além da chuva chata, uma desagradável invasão de tricolores no metrô vinda do Maracanã parecia o prenúncio de uma noite não muito interessante. Chegando lá, uma surpresa: já imaginava que teria pouca gente, mas não tanto. Provavelmente não tinha mais de cinqüenta pessoas assistindo. Bruno Levinson desconversa dizendo que foi a chuva que espantou o público, mas a verdade é que quase ninguém conhece ou bota fé em Songoro Cosongo e Z’Africa Brasil, as estrelas da noite. Como eu era o único membro de La Cumbuca presente ao evento, posicionei-me rapidamente na primeira fila para aguardar o início do show.



Pra mim o Songoro Cosongo era a atração principal. A banda composta por músicos do Brasil, Argentina, Venezuela, Colômbia e Chile, com base em Santa Teresa, tem uma sonoridade que mescla o melhor da música latina: samba, salsa, merengue, cumbia, frevo e muitos outros. O que mais se destaca no grupo é a qualidade dos músicos, todos multi-instrumentistas. Chega a ser injusto citar um em particular, mas naquela noite se destacava o baixista René Rossano que, junto com percussão e tantã, criava uma cozinha muito poderosa que reverberava fundo no coração de quem ouvia.

Depois que o Songoro é anunciado por Bruno Levinson, surge, caminhando em direção ao palco, a figura de Jairo Waxinton da Silva, personagem morador de rua, vendedor de frutas e quase presidente da República (forte candidato para 2010). Abrem com Aipim e Sancocho, entre as melhores deles do primeiro e, até o momento, único disco deles, Misturado com cachaça fica muito bom. Depois vem Songoro Cosongo, momento em que a banda parece ficar mais à vontade no palco e a coisa começa a engrenar de vez, com uma salsa maravilhosa. No final de Yorunga, parecia que havíamos sido transportados para um terreiro de umbanda. Depois vem uma seqüência de três músicas do novo disco, que ainda não foi não gravado, não tem nome nem tem previsão, da qual se destaca Nunca digas nunca. O ponto alto do show viria com Maracujá, catártica, com uma percussão ainda mais forte do que o habitual, seguida de Começa a valer a partir de agora, com um solo espetacular de René Rossano na guitarra (embora em alguns pontos lembrasse de longe axé).

No bis tivemos um longo e sublime solo de baixo e percussão, seguido de outros solos também incríveis e entrecortado por gritos de "hey!", que ficaram no vácuo, pois a maior parte do público morno não acompanhou.



No intervalo, minha expectativa pelo Z’Africa Brasil caiu ainda mais. Imaginava algo bem clichê e cheio de "atitude", algo que não me agrada muito. Mas tive uma grande surpresa. O Z’Africa é impressionante, têm letras bem interessantes e uma preocupação com a musicalidade rara de se encontrar no hip hop. Prova maior disso é o fato do grupo ter se apresentado com uma banda completa, os Z’Africanos, incluindo um irreconhecível Theo Werneck (do H, lembram?) na guitarra; além dos "efetivos", os mc’s Funk Buia, Pitcho e Gaspar, e o DJ Tano.

A primeira coisa que chamava a atenção era o logo da banda no telão, um trabalho gráfico muito bom, além da competência e forte afinidade dos mc’s. O show começa com Somos todos brasileiros e A cor que falta na bandeira brasileira, que falam sobre a diversidade étnica do Brasil e agressões contra negros e índios. Depois de Tô ligeiro, a sala fica às escuras e passa no telão um trecho de um filme do Mazzaroppi onde ele e a polícia chegam na casa de uma senhora e interrogam se ela ouviu tiros e a resposta é a clássica "não vi nada, não sei de nada", que faz um paralelo muito interessante com Eu não vi nada, música seguinte que fala sobre abuso policial. Em Da quebrada a vida é rara a sintonia com o público finalmente se estabelece. Sapo na banca mostra uma outra faceta do Z’Africa, o reggae; trazendo várias referências à Jah, Preto Velho, umbanda, maconha e redução de danos ("quem usa não abusa, quem não usa não acusa"), além de uma percussão maravilhosa e interação com a platéia. Do reggae para o dub cascudo, Hip hop rua, mostrando todo o talento de todos os integrantes, principalmente baixo e scratches.

No bis (muito mais longo que a primeira parte) "solo" de DJ Tano, com muitos scratches, samples e Funk (o legítimo). Em seguida os outros voltam ao palco e mandam Quilombo invencível sem a banda, só com DJ e mc’s, rap puro e vigoroso. Após isso vem o já o tradicional "salve", ao Capão Redondo, Taboão da Serra e morros do Rio; Mantenha a guarda, com a banda de volta e mais um salve, dessa vez ao Sabotage. A partir daí eu já estava extasiado demais para registrar, mas teve uma longa série de músicas, performances quase teatrais dos mc’s, fanfarronices de Theo Werneck no violão e finalizando com dose dupla de Tem cor age, cantada por um público já contagiado. O show terminou às 23h em ponto, e a meia dúzia de oito ou nove pessoas que ficou até o final teve a certeza de assistir uma das três melhores noites do HPP 2008.

5 comentários:

Bruno disse...

O bloco do Songoro Cosongo parte do Curvelo, em Santa Teresa, amanhã às 15h e Segunda às 9h.

Otaner disse...

Muito bom o texto, Bruno, mas muita gente deixou de ir por causa da chuva sim, inclusive eu. Escrevi sobre isso pro site do hpp: http://2008.humaitaprapeixe.com.br/zineonline/noticias/2008/01/eu_no_hpp_eu_nao_estava_la_mas.php

Otaner disse...

opa, quebrando o link pra poder aparecer:

http://2008.humaitaprapeixe.com.br/zineonline/noticias/
2008/01/eu_no_hpp_eu_nao_estava_la_mas.php

amanda. disse...

oi, eu comentei naquele post em que voce escreve sobre o retrofoguetes... e so agora eu percebi que o post é velho...

eheh
enfim, um abraço!

Túlio disse...

Mais um exelente texto rapaz!
Eu não fui porque não leveva muita fé na noite, e com chuva então... Ficar em casa parecia melhor.
Mas to vendo que essa com certeza foi uma das melhores noites lá em Copa, que assim como o show do Guidis não chamou muita gente

Quando sair DVD eu prometo ver!
@ Amanda : Pode comentar a vontade aonde vc quiser =P Continue visitando!!!