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Opa, foi mal a demora. Passamos por turbulências com o blogspot, mas estamos de volta com um "e" a mais, agora é HominisCanidaee e começamos com uma entrevista/resenha feita pelo Paulo Marcondes, um HominiCanidae nato.
Jair Naves é um músico (mesmo que ele não goste desse título, ou ao menos não gostava) e com esse EP mostrou uma evolução enorme em seu trabalho. Tanto no vocal (dessa vez, limpo, sem gritos e acompanhado por Júlia Frate, cantora) quanto em suas letras que estão de uma poesia enorma e com uma sonoridade bem diferente de tudo que todos esperavam. Algo calmo, mais fácil de se digerir do que o Ludovic (ex-banda do Jair) a qual comparações não serão feitas.
Se me pedirem pra classificar ou dar uma dica do que o som dele se parece, eu diria: "pega um pouco de Joy Division na época do Unknown Pleasures, de Dolores Duran, Walter Franco e Maysa. Agora mistura tudo, é, lembra um pouco." Como foi dito no post do Hominis: Não é rock. Não é folk. Não é samba. Não é moda de viola. É apenas o melhor letrista da atualidade em um projeto sincero e visceral.
Download do Ep: Jair Naves - Araguari EP (2010).rar
1. No começo do EP, existe um pedaço do filme "O caso dos irmãos Naves" há algum parentesco com eles?
Essa é uma pergunta que sempre me fazem e eu nunca sei exatamente o que responder, já que eu mesmo continuo com essa dúvida. Pelo que eu consegui apurar, havia uma ligação da família de Sebastião e Joaquim (as vítimas do ocorrido) com o pessoal da minha avó paterna, mas afirmar que eles eram meus parentes seria meio abusado da minha parte. O que me fez mencionar a história deles na introdução do EP não foi só a ligação com a cidade e a coincidência (ou não) do sobrenome, mas também a intenção de prestar uma homenagem a eles e de trazer o caso para o conhecimento daqueles que se interessam pelo que eu faço.
2. Você com esse projeto conseguiu trabalhar de maneira diferente nas letras. Lembro de uma vez que li que tinha planos em se expor menos.Acha que conseguiu isso em Araguari?
Infelizmente não (risos). Quer dizer, tentei trabalhar melhor com metáforas e falar um pouco mais da vida de outras pessoas, coisa que eu não fazia muito antigamente. Por outro lado, tratei de assuntos íntimos muito abertamente, com uma transparência até maior do que eu costumava utilizar no passado.
3. Em Araguari II (meus dias de vândalo) existe um verso que diz "minha reza de ateu". O que é Deus para você?
Olha, você realmente pegou pesado nessa. Eu poderia ficar escrevendo durante horas e ainda assim não conseguiria definir o meu conceito de Deus. Eu tenho uma visão muito pessoal a esse respeito, uma teoria que eu formulei de acordo com as experiências que eu tive, as perdas que eu sofri, os rumos que pessoas próximas a mim deram às suas vidas e etc. Sobre a música em si, a estrofe em que esse verso se encontra é toda sobre desespero, esgotamento, falta de perspectiva, questionamento sobre o futuro e angústias dessa natureza. Quando eu usei essa imagem, quis passar a impressão de alguém que apela para o último dos recursos – a tal “reza de ateu”. Tem uma conotação religiosa, obviamente, mas não é exatamente sobre crer ou não na existência divina.
4. Como é sair de uma banda e ter um projeto solo? Digo, tomar conta de quase tudo sozinho?
Ainda estou estranhando um pouco. Passei metade da minha vida fazendo parte de bandas, é a primeira vez que trabalho assim, lançando discos sob o meu próprio nome. De qualquer forma, por enquanto eu não posso me queixar de nada. As pessoas estão gostando das músicas, os shows têm sido bons e a minha banda não poderia ser melhor. Tenho muita sorte por poder contar com esses músicos que tocam comigo, são pessoas em quem eu acredito muito e que abraçaram o trabalho com uma dedicação tão grande que chega a ser até comovente pra mim.
5. O que você considerou mais difícil neste ep? Compor, gravar, mixar, tentar desviar a ansiedade?
Tudo foi extremamente difícil, desafiador. Não só por eu ter trabalhado por conta própria na maior parte do tempo, mas também porque acho que nunca fui tão exigente comigo mesmo quanto dessa vez. Como eu não queria me repetir ou fazer aquilo que as pessoas esperavam de mim, levei muito tempo lapidando as músicas e letras. A gravação também foi complicada, tanto pela complexidade de alguns arranjos quanto pelo fato de eu ter introduzido muitos elementos com os quais eu ainda não estava muito habituado (sintetizadores, piano, muitos backing vocals, vozes femininas, samplers, etc). Na mixagem e masterização foi um pouco mais tranqüilo. Tive o privilégio de poder contar com o Renato Coppoli, um verdadeiro mestre do ofício, com quem aprendi muita coisa no pouco tempo que trabalhamos juntos. Quando já estava tudo pronto, tive que esperar um pouco para conseguir a liberação dos trechos de “O Caso dos Irmãos Naves” que foram utilizados em “Araguari I (Meus Amores Inconfessos)”. A ansiedade foi realmente enorme, eu não tinha idéia de como as pessoas iriam receber essas músicas, mas valeu a pena passar por tudo isso. Com toda a franqueza, acredito que esse é o meu melhor trabalho até o presente momento.
6. Onde foi parar a loucura do vocalista da Ludovic? Ela persistira ao vivo mesmo com um som considerado mais "calmo"?
Acho que foi parar nas músicas em si. Acredito que esse EP contém algumas das minhas composições mais ousadas, de estruturas menos óbvias, mais “experimentais” no sentido literal do termo. Sobre os shows, difícil dizer. Não tenho qualquer interesse em repetir coisas que eu fiz no passado, mas ao mesmo tempo eu tenho minha personalidade, meu jeito de fazer as coisas, características das quais eu não vou me livrar nunca, mesmo que eu queria. Cabe a vocês ir aos shows e tirar suas próprias conclusões, creio eu.
Vídeo de Araguari II no show de Lançamento do EP na festa da Travolta Discos
Nunca penso nisso enquanto componho. Acho muito perigosa essa preocupação com o que as pessoas vão pensar – aliás, não só perigosa, mas sem sentido. É impossível prever a quem você vai ou não agradar, então a única coisa que você pode fazer é ser sincero consigo mesmo, se esforçar ao máximo em todas as etapas e depois torcer pra que alguém mais goste do resultado. A recepção por parte dos fãs do Ludovic tem sido muito melhor do que eu esperava. Enquanto eu estava gravando o EP, me parecia algo tão diferente de tudo que eu fiz no passado que me dava a certeza de que muita gente iria torcer o nariz. Mas foi o contrário disso, a resposta que eu tive foi surpreendentemente positiva. Fico feliz com isso, me dá segurança para explorar novos caminhos no disco que a gente tá gravando atualmente.
8. Reza a lenda que você não é muito a favor do download gratuito. Isso mudou?Qual a sua posição sobre o assunto musica livre na internet e essas coisas?!
Hoje em dia você precisa se adaptar a essa condição, não tem jeito. A regra atual do jogo é essa, o perfil de quem consome música mudou completamente, é preciso achar maneiras de usar essa nova conjuntura a seu favor. Para mim continua parecendo um pouco estranho, uma vez que o público e o mercado exigem gravações de boa qualidade, o que evidentemente custa um bom dinheiro, mas nem sempre quer pagar por isso - o que, pelo menos para músicos independentes, não é um quadro nada animador. Mas é assim que funciona, então o negócio é focar no lado positivo da coisa, pensar nas alternativas possíveis e seguir em frente.
9. Quais os planos com o projeto solo?! Pensa em sair do gueto e rodar mais o país?! Fale o que quiser pra quem quiser...
Os planos são de tocar o máximo possível, com quem nos chamar, em qualquer palco que nos receber. Fora isso, estamos gravando atualmente um disco "cheio", que deverá ter de 10 a 12 músicas inéditas, cuja previsão de lançamento é ainda para 2010. Estou muito empolgado com essa nova fase, espero poder contar com o apoio daqueles que me conhecem de meus projetos passados. Fora isso, muito obrigado a vocês pelo espaço. Tomara que a gente se encontre por aí em breve.
Foto por Patrícia Caggegi
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