Maquinado no Teatro Odisséia - 27/04/2010
Depois de acabar de assistir ao show de uma figura lendária e das mais influentes (e desconhecida por aqui) na música internacional, será que valeria a pena assistir ao projeto paralelo de Lúcio Maia da Nação Zumbi? Essa pergunta deveria ser retórica, afinal estamos falando do maior guitarrista do mundo na atualidade.
Então, depois de sair extasiado com o que Jonathan Richman havia feito no Circo Voador (conto essa história depois) e passar na hora que o Maquinado iniciava seus trabalhos no Teatro Odisséia, não havia outra opção.
Nesse mesmo fim de semana aconteceu o Coachella, festival americano incensado por jornalistas e blogueiros ligados em música. Isso porque traz dezenas de shows bacanas e numa dessas você pode assistir um Pavement e logo depois um Public Image Ltd. Ou um LCD Soundsystem e no palco do lado está começando o Them Crooked Vultures. Não sei se a ordem dos shows lá foi essa. Mas ter a oportunidade de ver Jonathan Richman e logo depois Maquinado é sequência digna de um Coachella.
Apesar de não só eu, mas muita gente considerar o Lúcio Maia o maior dentro das 6 cordas da guitarra hoje em dia, isso não significa que veremos um show de virtuosismo com solos intermináveis. Acompanhado do baixista (Rian Batista) e do guitarrista (Regis Damasceno) do Cidadão Instigado, mais Gustavo da Lua (Nação Zumbi) na percussão, PG (Mamelo Soundsystem) nas programações e pickups e Beto Apnéia na bateria, a onda aqui é mostrar as possibilidades sonoras de uma guitarra dentro de um som feito em parte para dançar e em parte para mostrar que, fora Jimi Hendrix, os heróis de Lúcio estão quase todos longe do instrumento com o qual é identificado.
A galeria de ilustres que Lúcio expõe nas versões que faz é composta desde Nelson Cavaquinho e Baden Powell ("Juízo Final" e "Canto de Ossanha", respectivamente), Jorge Ben ("Zumbi"), Bad Brains ("I and I"), Mundo Livre S/A ("Super Homem Plus"), Kraftwerk ("Computer Love") e João Donato ("Cala Boca Menino").
Releia os nomes acima e pense em alguém capaz de tocar tudo isso numa mesma noite. Melhor ainda, criar uma unidade e costurar um baile ao mesmo tempo cadenciado e barulhento. As composições próprias, presentes nos dois discos do Maquinado, acabam perdendo muito espaço dentro do setlist, mas no final tudo isso parece ser material de uma mesma banda.
Na volta para o bis, Lúcio puxa vários riffs clássicos de rock (Led Zeppelin, Black Sabbath) e os encaixa dentro de uma batida eletrônica / orgânica e desemboca em "Rational Culture" do Tim Maia. "Vendi a Alma" condensa muitas das influências do guitarrista, começando pesada, se transformando em um samba retorcido de tão torto e entrando em um discurso com jeito de ficção científica. Termina apocalíptico com o peso de volta onde aí sim os solos de guitarra surgem, que só mostram o quanto elas servem à música, e não o contrário. E exatamente por isso hoje Lúcio Maia é o maior guitarrista do mundo.
Fotos do show
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