![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh1t8WX9DD6JrNZ5xd2rkmqMvsJV0wGZGfgWptSYMHWKF9toVK3YS32C8PjGyvxh5FHOii8cspWMWTDTaZU14suDKLxZ9t9F2cZLcYpCc10MrTM_yLBHxBhtcK08oqX32lvOaTEJDHN9u4/s1600/WP_20151008_18_52_23_Pro-001.jpg)
Não dava para não pensar no Rio de Janeiro enquanto acontecia aquela cena tão difícil de acreditar, devidamente comprovada em registros fotográficos e em vídeo para que não tenhamos dúvida. Já vimos cenas semelhantes na cidade. Stephen Malkmus do Pavement tomando uma cerveja na Baratos da Ribeiro enquanto assinava discos e cartazes do show que faria no dia seguinte no Circo Voador, Eugene Hutz causando sempre um rebú batucando seu violão em festas ou pelas ruas da Lapa e zona sul carioca. Mas o que aconteceu ontem foi um capítulo especial na história secreta da cidade.
O cantor e compositor norueguês Sondre Lerche está no Brasil para uma turnê pelo país, com shows em Porto Alegre, Recife, Fortaleza e em São Paulo, onde se apresenta no Popload Festival. Tantas cidades, não teria como incluir o Rio de Janeiro no roteiro da turnê? Aparentemente não, por conta de algum tipo de exclusividade que o festival em São Paulo pediu em relação ao Rio, o que é, no mínimo, estranho.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgDiywE0ndHflx1oPuwUYEZP_5z35GRCGxPM9npDPEhOyMfp3Vw4jdEyrsAKl8939orpw2V3xfJfC1ci79cx_97als2iooXhn291twC75evIdq8zucwMgywurVqfjMemBNZJW8RufN8xJU/s1600/WP_20151008_18_40_43_Pro-001.jpg)
Mas Sondre e o baterista Dave Heilman passariam alguns dias antes do início da mini-turnê no Rio de Janeiro. E essa experiência, a considerar fotos e vídeos em Instagram, Facebook e Twitter, estava sendo bastante fantástica. Então, já que não poderiam fazer show, que tal um ensaio?
O cantor avisou no Facebook que talvez levasse seu violão para a Praia Vermelha, na Urca, por volta do pôr-do-sol. Mesmo com um certo ceticismo de que isso realmente fosse acontecer, cerca de 30 fãs compareceram ao local. Já tinha começado a anoitecer quando Sondre Lerche cumpriu a promessa.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNHRNdQR_j0Hjbz2qFaTyC5ewZabr_2Xjh7d4BjaWgJBw_T2D90l-R6GI_KmQvZomzQcKqq95WqZGF9CzcFw4MLTiCTFivqmbYCsI18t_28lqdXEqMKJIa6APfI6taWcdaY-1CaEP3axY/s1600/WP_20151008_19_06_32_Pro-001.jpg)
Simpático ao extremo, ele e o baterista Dave, nesta noite pandeirista, levaram os fãs para a areia e ali fizeram um luau, atendendo a pedidos de músicas, respondendo perguntas, conversando sobre a gastronomia local (caipirinhas de maracujá, tapioca, brigadeiro, Braseiro, Nova Capela, açaí, graviola... - dá para cantar "Ratamahatta" com essa lista), sobre se enganar e subir os trilhos para o Cristo a pé (!), sobre tudo para a gente ser "20 minutinhos" de distância e sobre música brasileira, no final tirando fotos e assinando discos. E para terminar, segundo contam, com um banho peladão no mar!
Para quem conhece o artista, é notória a admiração que tem pelas melodias da música brasileira, em especial por Milton Nascimento, com quem já cantou. Milton inclusive disse para o norueguês que o português dele é "melhor do que o do Paul Simon", o que talvez não tenha sido necessariamente um elogio.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_AlATyNH4DeGO2KAqj6GgxpM71Vmys9MaLVnHc2p1SkmmTm4jyz62AbzOfvgZ6PeZ8nn0yXEZd9Pd5ayA90dYiRlAztsw_sl046chvowuUDTmaty9Ttc7472OQBIzOCzBysnC6i2j6SM/s1600/WP_20151008_18_51_09_Pro-001.jpg)
Mas listou outros tantos que gosta, de Tom Jobim aos Mutantes, pontuando com um "fuck the Beatles" (será que Sérgio Dias dos Mutantes concorda?) diante de nossa amplidão musical. Vale a pena conferir a playlist que fez no Spotify com artistas nacionais.
Com os acordes em mãos, mas sem o domínio das letras, tocou (a maioria dos acordes de) "Águas de Março" de Tom Jobim, com uma das fãs cantando. Depois se limitou a bater palmas enquanto todo mundo cantava "Vai Passar", de Chico Buarque. Do seu repertório teve "Two Way Monologue", "Crickets", "Bad Law", "Modern Nature" e outras, além das que estão gravadas nos vídeos abaixo.
![](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiHWg15eKrizHIx4OeVO09D2rOW8TkZ-VnO3fY-E3RsVaEizGJCqztextTofgm1XJpY8rP1jQac_18zur626Z0m7hANuTE4z02lTjvWH_bN0Q2Oj4a-HQ_L7cnQYrwjLgZ6wnUl5ToZGf8/s1600/WP_20151008_18_39_08_Pro-001.jpg)
Mas no começo do texto ameaçava falar sobre o Rio de Janeiro. Vivemos em uma cidade com muitos problemas. As grandes cidades são assim, mas estamos em um momento particularmente difícil por aqui. Caos no trânsito, milícias dentro e fora dos órgãos municipais, corrupção desenfreada, violência para coibir violência que foi causada pela... violência, descaso generalizado.
Mas é a cidade de Tom Jobim, da bossa nova, do samba, e de todo um imaginário que permite que artistas talentosos como Sondre Lerche venham de lugares distantes buscando viver a experiência da cidade que idealizam e, muitas vezes, conseguem vivê-la da forma que gostaríamos que fosse sempre. É uma cidade onde as pessoas desejam aquilo que a cidade poderia ser e, de vez em quando, por conta desse desejo, acaba se tornando. Melhor ainda que no caso do Sondre Lerche ele tenha retribuído e proporcionado uma noite difícil de esquecer para quem esteve lá.
Os vídeos que gravei, clicando aqui ou aí embaixo:
Músicas gravadas:
- Go Right Ahead
- Minor Detail
- Águas de Março
- Sleep On Needles
- Phantom Punch
- Tragic Mirror
- Hell No
- Vai Passar
Nenhum comentário:
Postar um comentário