Deixei passar uma data importantíssima para tudo que existe na música. Ontem Cartola completaria 101 anos. Certamente um dos maiores compositores da Terra, que partiu na devida hora e deixou vários filhos para contar história. Uma história única e interminável. Se não bastassem as canções, Cartola construiu em sua vida um enredo que o ser humano vai demorar alguns séculos para entender, se conseguir. Não é qualquer um que jovem ajuda a inventar o conceito de 'Escola de Samba', é contemporâneo de Noel Rosa, e fica anos esquecido, sendo redescoberto por um cronista que o viu lavando carros na Zona Sul.
Seus discos só saíram quando já estava em idade avançada, nada que tirasse o brilho de suas interpretações. Conseguiu ainda em vida ter o reconhecimento que muita gente boa não alcançou. Seu defeito era ser tricolor mas... Futebolices a parte, ninguém pode contestar a genialidade de Cartola.
A vida foi bastante generosa com ele, mas morte deve ter passado perto várias vezes. Quantas mulheres ele não teve ter chifrado e adquirido um certificado de ódio? Revogado em pouco tempo, claro, nada que um samba resolva. Nessa vida selvagem, o carioca psicografou tudo o que não se pode descrever com facilidade. Aprendeu a plantar a raiz da rosa que chamam de amor, seja por uma mulher ou Escola.
Além disso, ele teve uma felicidade tremenda em conseguir que a maioria dos seus discos ganhassem um acabamento estético extraordinário. As capas são imagens que se tornaram ícones da nossa cultura, como a foto de Ivan Klingen que carimba o 'Verde que te quero rosa' (acima) ou a clássica cena dele e dona Zica na janela, estampada no disco de 76.
Desculpo-me pela repetição, nada de novo foi dito aqui. Mas eu me sinto obrigado a fazer um apelo para quem não conheça buscar a obra do mestre. Cartola merece um espaço do lado dos seus discos do Strokes. Vá lá, corra e olhe o céu.
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