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sábado, 19 de fevereiro de 2011

LCD Soundsystem no Vivo Rio 17/02/2011

Texto também publicado no Move That Jukebox.

O prenúncio do fim de uma banda querida costuma doer. A predileção tem seus porquês, sejam os momentos importantes vividos com aquela trilha, as razões para um desespero desde a primeira audição, ou a vontade de entrar num vídeo do YouTube que te leva a quebrar seu monitor. Tá, exagero, mas assim funcionou o LCD Soundsystem. Dá tristeza saber do fim próximo da banda, mas ao mesmo tempo presenciar o auge criativo do grupo, e ter certeza de que essa foi uma decisão sóbria, te enche de orgulho por ter acompanho o caminho até o fim.



O show começou uma hora após o combinado para dar tempo dos empolgados com o cigarro/bate papo entrarem. A partir daí, sem margem de erro, a vibração foi toda pra banda. Quando “Dance Yrself Clean” dá os primeiros passos, a expectativa se mistura com a ansiedade e explodem juntas ao ver o gordinho James Murphy puxar o enredo. A música que abre This Is Happening é ideal na sua forma de se apresentar, começa calma e grave, a voz entra de leve, até acelerar o batimento e contagiar na gritaria. Jogada certeira da banda, confirmava-se assim os delírios vindouros.

Com muita festividade, os membros da banda sabiam exatamente a potência da arma que tinham em mãos. Sem cerimônia, jogaram tudo para o público, provando que não é só de colisão entre as placas tectônicas que se fazem os terremotos. A “cozinha” no enquadramento tradicional, baixo – bateria no fundo de palco, foi revisitada. Uma bateria montada bem na frente, e o contrabaixo nada tímido (algumas tiveram dois contrabaixos na execução) atestam a alquimia do palco. O volume de som é tão denso, instigante e potente que não parece ser real a fisgada causada.

O trejeito sonoro de repetir frases no sintetizador (especialmente em “Get Innocuous” e “All My Friends”) insere um eco involuntário para acompanhar a batida da cabeça do tempo. Esse frenesi domina e gera uma situação crítica, em que o menor descompasso da banda leva tudo abaixo. Felizmente, o risco fica só como estatística. Essa conversa no mesmo tom entre a banda revela que o processo vai muito além de James, mas ao mesmo tempo ele se sobressai como um maestro.


Proclama as letras que o público entoa junto, mas surpreende quando puxa os inúmeros “aaaaaaaahhhhhhhhhh” e não perde o fôlego. Soa como uma mensagem para pautar a banda na direção correta, e a julgar pela sincronia dos dois elementos tudo andou muito bem. Na versão alucinante-frenética-que-música-foda de “Yeah”, os paramédicos deveriam ter ficados atentos para uma possível arritmia cardíaca no frontman, mas as paradas só aconteceram no intervalo das músicas. Num destes, apenas a luz azul estava acessa. Direcionada no globo espelhado ela criou uma sensação de culto. Com esse movimento, “Someone Great” entra no setlist. O público levanta as mãos e, sem perceber, desacelera sem perder o pique. O jogo de luzes casado com a música lembrou Contatos Imediatos de Terceiro Grau, numa pegada menos misteriosa e mais no groove – parecia arte de extraterrestre mesmo.

Se o fim da banda não era novidade pros presentes, o fim do show pegou com surpresa pela velocidade da noite. Depois de avisar que eles tocariam as duas últimas músicas (de verdade, não teve bis), senhor Murphy agradeceu aos fãs cariocas. Disse algo como “enquanto os fãs de Nova York não conseguem comprar ingressos, aqui vocês pagam o show”, sinceramente agradecido com o Queremos e sua trupe.

Reservaram para o final a singela “New York I Love You, But You’re Bringing Me Down”. O lamento desesperado pela cidade amada corre como as lágrimas. Podem demorar para sair, mas uma vez para fora, encharcam o rosto. Lenta, guiada por um timbre de piano, e com seus picos de atividade, em que a guitarra e a voz são liberadas para exorcizar toda cicatriz. A música em seus últimos segundos finge um fim para depois queimar o resto de estamina dos músicos. Os refletores do palco acenderam na potência máxima para registrar cada um extravasando como pode. Depois de apagados para sempre, só houve quem pressentisse a saudade pelo show, porque igual a esse, não teremos mais.

Fotos por Eduardo Magalhães

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