Novidades musicais de todos os tempos. Também estamos em:

Flickr : Youtube : Twitter : Facebook

Destaques do site:




terça-feira, 30 de agosto de 2011

Festival Back2Black (26 e 27/8/2011)

Decorada pelos grafiteiros Osgemeos, a Leopoldina estava com um charme a mais que o usual. Do lado de fora, painéis enormes situavam quem passava por ali e davam a dimensão que alguma coisa estava acontecendo. O prédio da antiga estação de trem recebeu novamente o festival Back2Black

Balões gigantes com traços d'Osgemeos preenchiam boa parte do teto. Cada um tinha um rosto desenhado, com olhos abertos ou fechados. Pairando acima do público, eles foram uma caricatura do que se passou nos dias de show, da gente aberta ou fechada pra música que circulou. Comportamento presente em festivais do tipo, mas ainda mais evidente quando se trata de um evento que leva a música negra da África junto com a música negra alicerçada no pop mainstream.

Foto: Mauricio Valladares (Ronca Ronca)

Na sexta feira, os tuaregs do Tinariwen subiram no palco vestidos a caráter. Dava para imaginar o calor que fazia atrás das túnicas, pareciam fantasias. Percussões típicas a tiracolo; junto com violão, contrabaixo e guitarra. Cantam com calma canções sobre uma areia bem diferente daquela da praia carioca. Um dedilhado rápido no violão cria uma base, ora sobrescrita pelas guitarras, ora como presença fundamental para integrar a percussão no conjunto.

A banda investiu no início do show em músicas mais lentas. O andamento calmo foi preenchido principalmente com o dedilhar no violão junto com um batuque conciso, o que forma uma unidade no som dos africanos. Unidade no sentido de essa combinação - o jeito de bater no 'casco', junto com inclinação diferente dos dedos nas cordas do violão - ser o que faz soar tão típico, distinto, característico da cultura representada pelo Tinariwen.





Nessa pegada mais lenta, o público não se interessou tanto. O show engrenou quando o ritmo entrou com mais peso. Convidados a dançar, a massa se mostrou mais receptiva. Indiferente a isso, foi uma apresentação muito especial dos tuaregs. É muito bonito ver eles no palco, passando uma energia sonora catalisadora da música que faz bem.

Macy Gray tocou depois. Ela virou a grande headliner do B2B depois que Prince caiu fora. Trouxe a maioria das pessoas presentes na sexta. Exagerou um pouco no quesito 'interação': apresentou a banda duas vezes; ficou bajulando o Rio de Janeiro e todas as 'sexy people'. Ousou em colocar um cover de "Nothing Else Matters" (Metallica) no repertório. Julgue como quiser. Ela se acha uma estrela bem maior do que ela realmente é.

Na estrutura montada do lado de fora, o Palco Compacto, bandas brasileiras tinham seu lugar. Devido aos inúmeros atrasos, ficou inconciliável acompanhar. O show do Tono marcado para 20h30 começou mais ou menos 21h30. Num festival com muitas bandas ou num show solitário, espera-se organização e cumprimento com os horários - cariocas deveriam cobrar mais isso dos produtores. Evita conflito para quem se planejou, e dá uma ajuda pra quem não quer chegar em casa tão tarde.

Foto retirada do site do B2B
No sábado, a malinesa Oumou Sangaré se consagrou. Cheia de carisma, a cantora chegou forte no palco. Assim como o aconteceu com o Tinariwen, a maioria das pessoas não conhecia uma música do repertório. Sua postura no palco e o suingue que a banda passava justificam as diferentes recepções que os dois artistas africanos tiveram. Se os tuaregs demoraram mais para convencer, Oumou pegou de primeira.

Ao mesmo tempo que testava os ouvidos (língua diferente, instrumentos estranhos), agradava com o ritmo festivo. Só não contagiou quem foi para cruzar os braços e se encostar na parede. Boa porta pra a música africana se popularizar por aqui.

Numa tentativa de se aproximar mais do público, ela apontou para um tambor típico do Mali e perguntou quem já tinha tocado aquilo. Uma moça que estava próxima a grade levantou a mão e lá foi... aparecer. Mico da noite, já que ela mal conseguiu segurar o instrumento. Nada que destruísse a dinâmica do show, rapidamente recuperada pelo vigor da diva malinesa.

Depois, tempo de ver o Qinho tocando com Jards Macalé. Com Jards foram três músicas. A versão de "Mal Secreto" ficou longe da melancolia da original. Mais alegre e com versos declamados com entusiasmo pela dupla. A notar também a banda de suporte dos dois, vários músicos conhecidos da cena fincada na zona sul carioca.
Foto: Mauricio Valladares (Ronca Ronca)

Chaka Khan chamava no palco principal. Grande intérprete da soul music, Chaka não mente com sua voz. É realmente impressionante os agudos que ela consegue sustentar. Cantou seus hits, falou de Deus, e agradou a todos os não muito críticos. Exceto pelo som, estava de rachar os ouvidos. A negona tem uma voz sensacional, mas tinha algum descuido na hora de ecoar a voz dela pelos amplificadores.

Os agudos doíam de tão forte. As dores de cabeça podia ser curadas com um pouco de cerveja, mas nem todos estavam imune. Com um pouco mais de bom senso no equalizador, o concerto fluiria melhor. Banda ensaiada, cantora afim e público simpático não quebram.

Moreno Veloso + Domenico + Pedro Miranda + Luis Filipe de Lima

De volta para o palco exterior, agora para Moreno Veloso. Com disco novo em progresso, e com Domenico e Pedro Sá na banda, a expectativa era de um ótimo show. Moreno recebeu também Pedro Miranda, que definiu ainda mais o rumo do espetáculo.

Pedro manda muito bem nos seus sambinhas e versões de Roque Ferreira, mas foram essas músicas que tiraram lugar de canções autorais de Moreno e Domenico. O setlist teve menos de dez músicas. Ficou faltando músicas do +2: a única, "Alegria Vai Lá", que saiu no segundo álbum do +2,  foi o destaque. Programações energizadas, guitarra do Pedro Sá bem posta; Domenico livre na batera; e até a inusitada dança de Moreno entre os fios do palco.

A animadinha "Ilê de Luz" lembrou o tempo de Ilê Aiyê. Do álbum solo de Domenico (Cine Privê), a faixa título e "Pedra e Areia" tiveram sua chance. A essa altura, com o fim da Chaka, a concentração das pessoas já era maior. O burburinho com o bom show só não foi maior porque a plateia tinha a participação especial de Caetano Veloso. Gente na frente de costas pro palco e milhares de flashes sendo disparados. 

Jorge Ben Jor

Jorge Ben foi fechar o dia. Escalado na última hora para 'substituir' o Prince o cantor não pareceu nem um pouco acanhado para tal função. Até porque ele não estava tocando para substituir ninguém. Ícone da música brasileira, Jorge fica longe de ser um plano B para qualquer ocasião. Chega e vira destaque. E assim foi por cerca de duas horas.

A Banda do Zé Pretinho é ligada e a máquina não para. Os músicos ficam encarregados de apoiar em toda canção que Ben lembra. A tônica é um improviso insano e sempre acertado. Para dançar e cantar junto.

Brincou com músicas do 'Tábua de Esmeraldas', mas passou longe do que promete ser o show dedicado ao álbum. Esse, se vier a acontecer mesmo, será o grande evento do ano; mas quem ainda não viu um show do cara, faça o favor que o arrependimento será zero. Não tem Prince que pague a energia dele.





Ben contou com alguns convidados: Will Calhoun, ritmista do Living Colour, entrou na banda como se lá estivesse há muito tempo, aumentou o nível febril do show; Caetano Veloso (vídeo), que estava na área VIP, foi intimado a subir no palco, cantou junto duas faixas feitas em parceria com Jorge; e as várias mulheres que subiram para dançar com ele em 'Gostosa'.

O segundo dia do festival foi mais animado que o primeiro. Os acertos nas atrações do dia ficaram melhor que no papel. Quem quisesse ficar por lá ainda podia curtir as festas na lona montada. Invejo quem ficou com energia depois das duas horas de com Jorge Ben.

Um comentário:

Jeferson Farias Calazans disse...

Massa demais o texto. A noite de sábado foi demais. Jorge Ben e sua metralhadora de hits acaba com qualquer um.

Otaner e Tulio, deixar um agradecimento especial para vocês. Valeu mesmo pelo ingresso.