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terça-feira, 8 de setembro de 2015

Resenha, fotos e 10 vídeos: a noite histórica no Circo Voador com Siba e Metá Metá (05/09/2015)






Ó Circo Voador! Escutai em vossas posses o clamor que a multidão profere em tão alto tom diante dos reis e rainha que desfilam majestosas melodias e pujantes ritmos .



Ó, lona tão vivida, presenciai a algazarra causada por tão delicioso festejo, o alvoroço arranjado até alta hora da madrugada, o calor espontâneo que brotou da noite fria de setembro.



Ó Circo Voador! Não duvidai da capacidade desses artistas. Não pelejai contra aquilo que não mais pode ser medido por execuções de rádio, vendagens de álbuns ou presença nos jornais (que ainda existem, até o fechamento deste texto) desta cidade.






Ó Circo Voador! Abraçai o novo, o que anda por tão estranhas terras onde o porvir se encontra no mesmo espaço que a tradição, onde os pedais de distorção mais suja se encontram com a flauta, onde a poesia tem suas sílabas entrecortadas pelas batidas percussivas mais ferozes.




Ó Circo Voador! Contemple aquilo que todos nós que víamos e ouvíamos esses artistas há algum tempo já tínhamos certeza. Siba e Metá Metá juntos em uma noite não poderia resultar em nada diferente do show histórico que fizeram na noite de sábado.






Não poderia ser diferente que, antes mesmo das onze da noite, os Arcos da Lapa já estivessem cheios e uma balbúrdia se instaurasse para entrar no Circo. Estamos falando de alguns dos maiores novos artistas da atualidade, a despeito da carreira de Siba já ter bastante chão, desde Mestre Ambrósio, mas pouco se discorda sobre a originalidade impressa em seus dois últimos discos.



Jamais um show poderia ser abertura de outro. Então talvez tenha sido pelo fato justamente do lançamento do mais recente disco de Siba, De Baile Solto, que tenha determinado que a primeira apresentação ficaria por conta do Metá Metá.






É provável que metade do público no Circo Voador não tenha achado que essa ordem fizesse sentido. E talvez a outra metade tivesse certeza que essa ordem não fazia sentido.



Mas uns 15 minutos antes de meia-noite o lugar já estava totalmente tomado e é de forma bastante calorosa que o Metá Metá começa seu show.






Para quem ainda não conhece o Metá Metá: é um trio, formado por Juçara Marçal na voz, Kiko Dinucci na guitarra, Thiago França no sax e flauta, que utilizam como matéria-prima a cultura musical afro-religiosa e a partir daí exploram uma mistura de ritmos que esta Cumbuca em particular nunca viu ser feita antes.



Para quem já conhece o roteiro do grupo, sabe que “Exu” dá início aos trabalhos (duplo sentido não intencional), mas agora vem uma introdução com versos de uma canção de caboclos (“sou caboclo, eu sou de guerra / fui o primeiro que cheguei aqui na terra / foi meu pai quem me mandou / eu sou príncipe, ele é reis é meu senhor / foi meu pai quem me mandou”).






É assim que o trio começa para, a partir do fim primeira estrofe de “Oya”, serem acompanhados de Marcelo Cabral no baixo e Sérgio Machado na bateria.



E quando Juçara termina de cantar a frase “é só pagar pra ver” percebemos que estamos diante de uma montanha-russa que só termina sua viagem uma hora depois. Tanta paixão um só corpo não aguenta.






Em “Oya” mesmo já sentimos os múltiplos caminhos que formam a encruzilhada musical do Metá Metá. Tem aqueles fraseados curtos e quebrados de guitarra de Kiko Dinucci que poderiam encaixar tanto num afrobeat quanto num math-rock ou num pós-punk.



Tem aqueles momentos caóticos que parecem um Sonic Youth usando sax - e, sendo mais específico, desembocamos na no wave de Nova York, de Arto Lindsay e James Chance, embora provavelmente Ornette Coleman e Sun Ra fossem nomes mais seguros de relacionar, e não só por causa de Thiago França.






Acima de tudo isso paira Juçara, que poderia ser uma voz celebrada da MPB, mas prefere expandir seus limites, tanto em sua carreira solo quanto com o Metá Metá e em “Oya” já sentimos isso.



Se logo no começo já temos tantas referências emaranhadas de forma tão original de música religiosa africana, free jazz, no wave, e algum estilo muito veloz de hardcore ou heavy metal que eu não consigo identificar na bateria de Sérgio Machado, isso não significa que eles não consigam apresentar muitos outros estilos nas mais ou menos dez canções seguintes, mantendo o clima montanha-russa.






Temos o transe de matizes africanas de “Man Feriman” que desemboca em fraseado nervoso do sax de Thiago França e o clima festivo de “Logun”. Temos o mesmo Thiago na flauta no momento em que a música do Metá fica mais próxima do que temos de “normal” na música popular brasileira, e nem assim a excelência se esvai.




O público canta praticamente tudo que é executado, à exceção da nova “Corpo Vão”, sobre a qual já falamos aqui, e se empolga e pula e dança e se descontrola, mas é curioso perceber que algumas pessoas, que talvez pudessem estar vendo Metá Metá pela primeira vez, carregam uma expressão atônita, de assombro, nos rostos.






A conquista em uma premiação não-muito-musical de um canal de tv por assinatura como melhor versão para “Me Perco Nesse Tempo”, da banda paulistana de pós-punk As Mercenárias (que está no EP virtual lançado este ano) é mencionada e plenamente justificada ao vivo, com uma roda de pogo formada na plateia, para visível preocupação de Kiko Dinucci.








Preocupação essa que é externada após “Rainha das Cabeças”, onde novamente o público reage com selvagem animação, com pedidos por parte de Kiko para que o pessoal cuide das pessoas que estão ao lado, em especial das mulheres. Notava-se, porém, que várias mulheres também participavam da roda de pogo.






Antes de “Rainha das Cabeças”, outra pequena roda até chegou a ser ensaiada, a de ciranda. Foi durante a participação de Siba, cantando com o Metá Metá “Vale do Jucá”, música pertencente ao primeiro disco de Siba com A Fuloresta (Fuloresta do Samba), regravada pelo Metá no primeiro disco do trio.






“Obá Iná” é apoteose pura e, num set mais curto do que costumam fazer, mesmo prometendo que retornariam após o show do Siba são convocados a voltar para um bis, com “São Jorge”.






A troca de palco até que foi rápida, como prometido, e é com o percussionista e flugelhornista Mestre Nico fazendo voz de locutor de quermesse do interior que o baile solto proposto por Siba começa.






Consolidando as propostas que já surgiam com o trabalho anterior, Avante, de trazer referências universais e modernas, mas voltando a puxar um pouco mais perto de si o repente, o maracatu e a tradição cultural estabelecida no contato com a cultura da Zona da Mata a banda é caprichada. Além de Mestre Nico, Leandro Gervazio na tuba (que toma o lugar do baixo no conjunto), o cabeludo Lello Bezerra na segunda guitarra e Antonio Loureiro na bateria completam a formação.






Ao vivo é Antonio Loureiro, somado ao batuque de Mestre Nico que trazem um diferencial em relação ao registro em estúdio, com uma pegada mais potente e veloz. Quando ainda na parte inicial fazem “Marcha Macia”, com letra de forte cunho político, o público já está conquistado.






Quando fazem a sequência marcha-frevística “A Jarra e a Aranha”, “A Bagaceira” (da época de transição entre A Fuloresta e o Avante), e “A Velha da Capa Preta” (do repertório da Fuloresta), a metade do público que achava e a outra metade que tinha certeza que a ordem dos shows talvez pudesse ser inversa provavelmente já tinham mudado de ideia.






Ou então isso aconteceu quando Mestre Nico comandou os agora foliões em animada e um tanto confusa coreografia. Siba, aceitando de bom grado do público os adesivos de Redução Não É Solução, não tem aquela explosão de arranque empreendida pelo Metá Metá, mas faz um show construído para ir conquistando aos pouquinhos, com elegância, reservando golpes fatais para o fim. Nessa construção, lembra um pouco os conterrâneos do Eddie.






Apesar disso, uma pena que somente uma música do Avante tenha sido tocada. Como deixar de fora composições como “A Brisa”, “Ariana”, “Bravura e Brilho” e “Qasida”? “O Inimigo Dorme” parece transitar bem entre os dois solos de Siba, cumpre bem o papel dessas faixas, conta com participação de Kiko Dinucci ao vivo e vence a possibilidade de dispersão que uma música menos rítmica àquela hora poderia causar.



A participação de Kiko evidencia também o que ele e Siba tem em comum, os fraseados de guitarra com sotaque africano, geralmente límpidas no caso de Siba, normalmente elétricas e distorcidas no caso de Dinucci, mas não nesta participação.






Juçara Marçal também participa, no repeteco de “Marcha Macia”. “Toda Vez Que Eu Dou Um Passo o Mundo Sai do Lugar” seria o golpe fatal mencionado alguns parágrafos acima, mas aí chegou o momento que cravou a alcunha de “histórico” nesse sábado no Circo Voador.






Já falamos aqui: Metá Metá retornou ao palco para se juntar a Siba e seu conjunto. Juntos, fizeram algo parecido com um carnaval noise, com as rimas improvisadas de Siba e Juçara sendo seguidas de um estouro de marcha de maracatu acelerado, cheio de barulhos e efeitos nunca imaginados para esse tipo de música.






O resultado não poderia ser outro que um baile muito mais que solto. Um baile totalmente largado, deixando-se levar pelo ciclone, como pode ser visto no vídeo gravado por esta Cumbuca. Um baile que dificilmente vai ser esquecido pelas mais de 2.000 pessoas que foram ao Circo Voador. Pessoas que, torçamos, se fizeram ser ouvidas para que o retorno seja breve deles. E do Passo Torto, e do Baiana System, e do Black Alien... Escutai, ó Circo Voador...






Vídeos do show do Metá Metá aqui ou clicando abaixo.





Músicas gravadas:

- Oya

- Corpo Vão

- Me Perco Nesse Tempo

- Vale do Jucá (com Siba)

- São Jorge





Vídeos do show de Siba (com Metá Metá no final) aqui ou clicando abaixo.





Músicas Gravadas:


- Marcha Macia

- A Jarra E A Aranha

- A Bagaceira

- A Velha da Capa Preta

- O Inimigo Dorme (com Kiko Dinucci)

- Marcha Macia (com Juçara Marçal)

E o final estrondoso com todo mundo junto.




Fotos de Dine Araújo. Álbum completo de fotos, clique aqui.

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