Talvez com o tanto de séries sobre música, esta cumbuca não ficou tão atenta como gosta de estar sobre os lançamentos produzidos fora do Brasil. Algo comum em se fazer listas é que elas certamente mudam com o passar do tempo, como mudam nossas percepções e também por descobrirmos e até redescobrirmos discos, canções, filmes, livros... E sem nenhuma vontade em ser 100% coerente nessa vida, mas até que olhando para listas em anos anteriores, não tenho grandes vergonhas e entendo minhas escolhas.
Mas algo me diz que essa lista em particular é capaz de mudar, sei lá, na semana que vem até. Ou se manter. De qualquer forma, esses são os meus cinco discos favoritos na lógica de quase sempre, que é: se tivesse que recomendar apenas um disco, então esse é o primeiro lugar, se tivesse que recomendar dois, então temos o segundo, e por aí vai. Muitos álbuns ficam de fora e vou mencionando alguns aí no decorrer da lista.
05
Dinosaur Jr. - Sweep It Into Space
Nos últimos anos, se você reparar em minhas listas, tenho dividido mais ou menos assim meu interesse na música internacional: músicos do continente africano que trazem suas tradições para as possibilidades atuais; nova leva de grupos que revisitam o pós-punk do fim dos anos 70, com mais variante que vírus pandêmico; e tudo que não é nenhuma dessas duas coisas.
Na última categoria tem aqueles artistas que você já sabe o que esperar e cumpriram com as expectativas que se tinha deles, como Courtney Barnett (Things Take Time, Take Time) e Cloud Nothings (The Shadow I Remember), que poderiam figurar nesta lista. Mas Dinosaur Jr fez um "bom de sempre" que, sem novidade nenhuma, agradou demais. Não consigo decifrar se a presença de Kurt Vile na produção teve algum papel nisso, mas as canções de J. Mascis (e duas de Lou Barlow - "Garden" é bonita demais) descem todas redondinhas.
04
Tune-Yards - Sketchy
Não dá para chamar um disco da Tune-Yards como "o mesmo disco bom de sempre", já que há bastante variação e inventividade na trajetória da banda capitaneada por Merrill Garbus. No último trabalho, I Can Feel You Creep Into My Private Life, Merrill apresenta algo mais voltado pra pistas de dança, sob sua ótica maluquinha, enquanto Sketchy remonta mais ao tempo em que a grafia do nome do projeto eRa coM leTRas mAiúScuLas e mInÚsCulAs, com ótimo resultado.
Não é fácil fazer um comparativo com Tune-Yards, mas outros artistas inventivos que valem a pena ser mencionados em 2021 são o coletivo Sault (Nine) e outra artista criativa, a St. Vincent (Daddy's Home), não fez nem de longe seu melhor trabalho, mas sempre dá para aproveitar alguma coisa.
03
Mdou Moctar - Afrique Victime
Desde muito tempo aqui no La Cumbuca tenho indicado e comentado em minhas recomendações o blues-mantra da região africana entre o Níger e o Mali: dos "pioneiros" (acho que dá pra chamar assim) Tinariwen e caminhando (pelo deserto?) para Bombino, Tamikrest, Tal National, Songhoy Blues, Terakaft e agora chegou a vez de Mdou Moctar.
Todos esses grupos têm bastante em comum na sonoridade, apesar de diferenças em intensidade e velocidade e na qualidade da produção, mas Mdou Moctar parece ser mais uma peça na construção de uma discografia irresitível vinda dessa área.
Turbinado por ter sido lançado pela Matador Records, noto que entrou em um monte de listas de publicações gringas. Compartilhando da região e da hipnose sonora, mas de uma forma diferente, 2021 também trouxe Ballaké Sissoko cheio de convidados em Djourou (demora a engrenar, mas na última faixa você estará estatelado no chão) e Nahawa Doumbia com Kanawa, ambos ressaltando mais a instrumentação ancestral africana, apesar de elementos mais modernos aqui e ali.
02
Tony Allen - There Is No End
O baterista Tony Allen, aquele que deu o beat ao afrobeat de Fela Kuti, nos deixou ano passado. Deixou também alguns projetos incompletos, entre eles esse álbum projetado para que fosse uma colaboração com artistas do hip-hop de várias partes do mundo, desde nomes mais conhecidos como Skepta e Sampa The Great a outros que, pelo menos pra mim, são novidades, caso de ZelooperZ, e menciono este rapper porque o grande destaque do disco é a faixa em que ele participa, "Coonta Kinte".
Os produtores e rappers demonstram que entenderam a responsabilidade de criar um disco que faça jus ao nome envolvido e à sua história. Nada parece forçado e o ritmo por vezes intricado e com detalhes complexos de Tony Allen se misturam bem às métricas e versos dos convidados. Dentro do tema "Fela Kuti", podemos mencionar também o disco Legacy+, de um dos filhos do homem, Femi Kuti, junto com um dos netos do homem, Made Kuti.
01
Shame - Drunk Tank Pink
O disco anterior, Songs of Praise, esteve na minha lista de melhores de 2018, atrás apenas de Joy as an Act of Resistance do Idles. Era a estreia dessa molecada inglesa, dando a leitura deles para esse novo retorno ao pós-punk que vem sendo feito por diversos grupos e de variadas formas.
Após três anos, deram uma bela evoluída, sem que isso signifique necessariamente "amadurecimento", algo desnecessário para eles que ainda exibem em suas novas músicas bastante juventude, empolgação e uma boa gritaria sempre que necessário. Mas expandindo horizontes, climas, andamentos e ideias.
Outras bandas dessa nova onda de
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