Quando você fecha os olhos, o que é que você vê?
Eu vejo isso:
Eram 9 da manhã em São Paulo, centro da cidade, ali entre as avenidas Rio Branco e Ipiranga. A terra da garoa já prenunciava o sol violento que se estenderia durante todo o dia. Ele já estava ali, lutando para se fazer presente no meio daquele monte de prédios. Eu já estava há um pouco menos de 24 horas acordado, empanzinado pelo banquete sonoro que era oferecido desde as 18 horas do dia anterior e sofrendo os efeitos das caminhadas de um palco a outro e a privação de sono. Seria tortura se não fosse tão bom.
O máximo que consegui dormir foi um cochilo de uns 40 minutos dentro do Teatro Municipal, às 6 da manhã, ninado pelo Pepeu Gomes e família tocando o que deveria ser o disco Geração do Som na íntegra, mas tocaram outras coisas no meio de algumas das faixas desse disco. Bem da verdade que nem dava pra reclamar, afinal de contas, repetindo: eu estava cochilando às 6 da manhã, dentro do Teatro Municipal ao som de Pepeu Gomes. Que importa o que exatamente ele estava tocando numa situação estranha dessas?
Voltando às 9 da manhã, havia ali um dos principais motivos para eu ter ido a São Paulo. No meio de um monte de coisas legais e diferentes, eles eram um dos shows mais aguardados por mim. Na verdade um dos dois principais motivos para eu estar lá. O outro era Siba e a Fuloresta, que fecharia mais tarde, de forma perfeita, a minha Virada Cultural. Os "restantes" eram preciosos bônus. Mas nem eu esperava o que senti ao ver a Banda de Pífanos de Caruaru.
Tudo que eu conhecia da banda veio de uma época de soulseek/conexão discada, que não encorajava tanto assim a demorar horas para baixar um álbum inteiro. Então coletâneas aleatórias eram feitas da forma que a busca aos arquivos iam trazendo as faixas. Numa dessas, o pífano apareceu. O nome da música: "Marina". Um arrasta-pé ligeiro com uma letra simples e direta. Não procurei mais sobre eles, mas a música ficou aqui, guardada e lembrada, durante anos. E ali, na frente da banda.
Eram 9 da manhã em São Paulo, centro da cidade, ali entre as avenidas Rio Branco e Ipiranga. Sim, eu sei que eu já disse isso. Mas é que nesse lugar e naquela hora, ainda com poucas pessoas presentes, eu vi os sujeitos entrando, todos os seis de camisas laranjas, uniformizados, com chapéu de couro, fora uma banda de apoio. Assim como a Jane Birkin, havia muita história ali em cima. Pelo menos da parte de quatro deles que pareciam fazer aquilo há décadas.
Cada um com suas características, tinha um mais mandão, sempre pedindo pra mesa de som melhorar alguma coisa, o outro mais velhinho que reclamava dos próprios erros, o outro mais preocupado de estar tudo certo, mas na hora que tocavam, viravam uma coisa só. Um som muito bonito, completamente regional e ao mesmo tempo universal. Uma das primeiras músicas que tocaram foi "Marina", enquanto um arco-íris ilustrava um céu limpo e sem nuvens, sei lá eu como isso é possível. Foi difícil conter a emoção e as lágrimas diante de tudo isso.
Entre arrasta-pés, cocos, forrós e outros ritmos nordestinos, o pessoal ia chegando e enchendo um pouco mais a avenida. Amigos aparecendo, alegria, danças, até que quando eles começaram a tocar ciranda uma roda gigantesca foi sendo feita. Sem análises ripongas sobre pessoas dando as mãos e demonstrando e celebrando união, o que importa é que foi divertido pra caramba e o show mais especial de 2008. Talvez ainda volte a falar da Virada Cultural aqui, já que só de ver o que eu perdi, como isso, isso, isso e isso (opa, esse eu vi no telão) já dá uma idéia de como foi a diversidade e qualidade do negócio, então de repente vale a pena falar do que mais eu vi.
Aqui um vídeo do show (com participação especial da minha napa), feito pelo Gallo.
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