Escrever algo sobre o Yuka é tentar ser redundante diante de alguém que verdadeiramente tinha o dom da palavra. Da palavra e das ideias, de percepção sobre quais sons combinavam com outros, quais ritmos seriam os possíveis a deixar o ouvinte mais instigado e qual o discurso que se adequava melhor. E se não se adequava, foda-se, pois a mensagem era importante demais para não ser passada.
Vi O Rappa poucas vezes ao vivo, mas uma delas, na época do Lado B Lado A, foi de graça sabe-se lá o porquê, na Fundição Progresso. De repente durante uma das músicas, salvo engano "Hey Joe", o som a casa toda falhou. Não se ouvia vocal, baixo, guitarra. Apenas a bateria de Yuka, que continuou tocando como se nada estivesse acontecendo. E o público acompanhou e continuou cantando a música e pulando até que, também de forma súbita, o som voltou e a catarse foi geral.
Anos se passando e vi Marcelo Yuka em diversas outras situações, quase sempre muito fortes e contundentes. Uma delas foi em um show do Planet Hemp no final de 2015, onde ele faz um discurso durante "Samba Makossa" de Chico Science & Nação Zumbi, que o Planet toca nos shows. Os assuntos eram Eduardo Cunha (terminando com um "vai tomar no cu") e a cada vez mais atual escalada do fascismo acontecendo no Brasil. A gravação, por motivos tecnológicos, estava avariada, mas dei um jeito de recuperar porque o curto discurso e a presença do Yuka foi emocionante demais e importante demais para ser perdido para agruras da informática.
Outro momento importante foi quando Yuka lançou o disco Canções Para Depois do Ódio no Circo Voador. Mesmo com problemas de saúde ocorridos enquanto o disco foi sendo produzido, lá estava Yuka conduzindo o espetáculo junto com A Entidade, como ele denominou o grupo que o acompanhou, que teve participações de Cibelle e Black Alien. Em um dos momentos em que se dirigiu ao público, a mensagem foi de esperança:
"É difícil correr por fora.
É difícil não ser o que eles planejaram que você seria.
É por isso que é bonito não ser o que eles queriam.
Vamos juntos, ainda tem muita coisa pra fazer."
Abaixo, os vídeos desse show. Infelizmente a pobre máquina registradora da Cumbuca nem sempre teve capacidade de captar os graves poderosos imaginados por Yuka sem sofrer com distorções.
Músicas:
- "Por Pouco" (trecho)
- "O Dia em que o Homem se Cansa"
- "Dali" (participação Black Alien)
- "Myto"
- "Confusão"
- "Um Minuto Antes do Fim" (participação Cibelle)
E mais um redundante clichê, porém verdadeiro: Yuka se foi, mas Yuka permanecerá por muito e muito tempo, permeando o que acontece na nossa cidade, inspirando cada ação de transformação e resistência. Vamos juntos, ainda tem muita coisa pra fazer.
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