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segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A Demissão do Maestro John Neschling

Pronto, daqui a pouco estaremos falando aqui de música barroca e o escambau. Mas tenho acompanhado com interesse essa história. Para resumir: John Neschling trabalhou por 12 anos na Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo, ou, para ocupar menos espaço, OSESP. Ele acumulava as funções de regente e diretor. Há 12 anos atrás, pelo que li, a orquestra não era nada e tocava na Benedito Calixto (pensa na feira de Ipanema, é um pouco melhor) em troca de um churrasquinho de gato no final, sim, eu estou exagerando, mas pelo menos foi essa a sensação que tive em cima do que li. Com José Serra no governo estadual, começaram a surgir atritos que tiveram como consequência primeiro a não-renovação de seu contrato, que iria até 2010, e agora a demissão.



Eu não entendo nada dos meandros de uma orquestra sinfônica: como ela funciona, que tipo de disciplina ela deve ter, quais são os parâmetros para ela ter sucesso, quanto um maestro deve receber e qual o papel do maestro no sucesso da orquestra. E não confio também nas notícias dos sites de jornais que em muitos casos parecem achar a demissão justificável. Tampouco confio em outras páginas virtuais que defendem fervorosamente o maestro. Mas existem alguns fatos inegavelmente repugnantes nesta história.



Número 1: o maestro foi demitido por email! Email esse que foi postado no site da OSESP, pelo que entendi ao mesmo tempo em que o email fora enviado para Neschling. Ou seja, na prática ele foi demitido através do site. Um tanto quanto desrespeitoso, considerando que na própria carta há o reconhecimento pelo trabalho e esforço de John Neschling para que a Orquestra tivesse "alcançado o patamar de qualidade e o respeito internacional que hoje possui".



Número 2: quem assina a carta de demissão é o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que continua presidente, mas agora do conselho de administração da fundação OSESP. Na minha opinião de leigo no assunto, cargos como esse deveriam ser dados a músicos, pessoas verdadeiramente ligadas ao mundo da música clássica. O restante do conselho é formado em grande parte por banqueiros, empresários, economistas e jornalistas envolvidos com o partido de José Serra, o PSDB, que não queria mais John Neschling frente à orquestra. Fica difícil saber se o conhecimento dessas pessoas sobre música clássica é tão grande quanto o meu (ou seja, nenhum), mas certamente não têm tanto conhecimento quanto um maestro.



Número 3 e essa é a parte que achei pior: a motivação para a demissão seria uma entrevista que o maestro deu para o Estado de São Paulo. Na entrevista, Neschling criticava o processo de seleção empreendido pela Fundação para a escolha do maestro que iria substituí-lo em 2010. Criticava principalmente a intereferência política em um processo artístico. Considerando o quadro de membros desse conselho, fica evidente que há interferência política. Mesmo que não houvesse, ele expressou sua opinião. Não ofendeu ninguém, mas a Fundação viu na opinião de Neschling motivos para demití-lo, uma atitude, no mínimo, anti-democrática. Estranhamente não vejo nenhum veículo achando isso um absurdo, quando deveriam achar.



Um pouco estranha essa tempestade em copo d'água por causa de um maestro de orquestra, né? Nessa entrevista ao Estadão alguns números me chamaram a atenção sobre o atual estágio da OSESP: "A Osesp é uma instituição de R$ 67 milhões ao ano", "no começo, tínhamos uma média de 90 pessoas por concerto; hoje, são 1.400", "um número de assinantes que ultrapassa 12 mil pessoas". Essa parte dos assinantes me chamou ainda mais atenção. Procurei saber os valores para os assinantes e encontrei este link, que diz que os preços variam entre R$ 192 e R$792. 12 mil pessoas, você faça as contas. É dinheiro e quem construiu isso não tem só dinheiro, tem poder. Isso talvez clarifiquem os motivos para essa demissão com estranhas motivações e o porque da existência de um conselho político para cuidar de arte.



Como não devo voltar a este assunto, é só interessante notar: 12 mil pessoas que pagam para assistir música clássica em São Paulo. Pensa aí em como vão as coisas no Rio de Janeiro no mundo do pop, do rock...

3 comentários:

Edu Martins disse...

É claro que há interesse político, ou pelo menos parece muito haver esse interesse.

Mas ao mesmo tempo, nao acho que um músico seja a pessoa adequada para administrar a OSESP. São músicos, não administradores, acostumados com os meandros da coisa toda.

É uma questao complicada, claro, por que envolve interesses externos e claro, grana.

Anônimo disse...

Pior é que o Serra é um dos favoritos da corrida de cavalos que vai acontecer em 2010...

Otaner disse...

Pois é, Edu. Claro que não digo que para administrar as finanças da OSESP o cara precisa tocar um oboé. Mas administrar a parte artística é outra história. E é isso que está acontecendo, aí acho errado. E ainda mais vendo esse grupo (FHC, Pérsio Arida... Pedro Malan!!!!) resolvendo se um maestro deve ou não ir embora, como escolher um novo maestro... Isso eu achei nojentão!

Abraço