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quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

A Farsa do Metrô 24 Horas e outras considerações sobre a atuação do poder público no Carnaval Carioca





Muita gente se anima quando é anunciado que o metrô vai funcionar 24 horas por dia durante o carnaval no Rio de Janeiro. Considerando que muitos ônibus durante essa época fazem trajetos mais surpreendentes que o Boi Tolo, e que este ano nem mesmo tinha ônibus, já que a prefeitura está cortando dezenas de linhas para ferrar de vez com nossas vidas, ficamos muito gratos e até acreditamos que essa operação é pensando no morador e turista folião que quer aproveitar ao máximo a cidade.



Mas a verdade é que o interesse principal é no deslocamento para os desfiles das Escolas de Samba. Para o Metrô Rio, o carnaval acaba terça-feira às 23:00, mesmo com milhares de pessoas ainda curtindo os blocos pela cidade. Não informaram no release que mandaram para a imprensa, mas na terça as estações Praça Onze e Central ficaram abertas para embarque até 3 da manhã e todas as outras para desembarque, por conta do desfile das Escolas Mirins. Curioso que o Metrô Rio solte diversos tweets na quarta-feira de cinzas e nos dias seguintes dizendo que o carnaval não acabou, mas não disponibilize o mesmo esquema dos dias anteriores.



Além disso, as estações Presidente Vargas e Catete ficaram fechadas durante todo carnaval, sendo que a estação Catete poderia servir como mais uma opção de saída para quem vai assistir aos blocos que desfilam no Aterro do Flamengo. Alguns dos esquemas para os grandes blocos da cidade incluíam exclusividade de embarque apenas para quem possuía algum dos cartões pré-adquiridos do metrô.



Pode-se compreender essa e outras estratégias para um melhor funcionamento do metrô. Mas a realidade é que esse meio de transporte não é utilizado de forma satisfatória e adequada para a realidade do carnaval de rua. Se temos críticas ao funcionamento do metrô, o que dirá dos trens, que nem consigo entender as tabelas com seus ramais, só consegui entender que deixa de funcionar após no máximo 23:00 em um dos dias, e das barcas, que encerrava seu funcionamento entre 23:30 e meia-noite. Uma cidade com pouca mobilidade durante uma festa tão aguardada todos os anos é uma cidade que segrega sua própria população. Nada que ninguém já não tenha percebido, com esse encerramento de diversas linhas da zona norte com destino à zona sul...



Já que estamos falando dos problemas que são responsabilidade do poder público, o que dizer da atuação das nossas polícias? Já falamos aqui da violência cometida contra os blocos secretos. Isso pode dar a impressão que existia um policiamento ostensivo e, não que eu fosse escolher essa opção se pudesse, mas dentro de uma política de segurança militarizada pelo menos poderíamos nos beneficiar de andar com tranquilidade pelas ruas do centro à noite, certo?



Não, nem um pouco certo. Amigos foram assaltados, pelo menos um furto foi presenciado, e nesses momentos, por algum mistério, a polícia some. Em alguns casos, diante do descaso e até do deboche, a impressão que dá é que alguns policiais militares se beneficiam do resultado desses furtos e roubos. A verdade é que a PM e a guarda municipal e esses "Presente" inventados agora só estão ali para defender regras e objetivos de empresas que possivelmente contribuirão nas próximas campanhas eleitorais. Qualquer coisa fora desse escopo fica relegado ao abandono.



Como ficou mais uma vez o centro da cidade, não só na questão de segurança, mas em questões mínimas como a decoração das ruas e algum cuidado em não transformar as obras que já duram tanto tempo serem um estorvo para quem deseja curtir a região. A iluminação em algumas ruas próximas da Avenida Graça Aranha, onde aconteceu o desfile de blocos históricos como Bafo da Onça e Cacique De Ramos, e a região próxima do IFCS, eram inexistentes.



Não sei se em Copacabana e Ipanema, onde saem muitos dos blocos patrocinados pela cerveja que monopoliza o carnaval, foi diferente em termos de infraestrutura. Mas onde o patrocinador não tem interesse em investir (o que já não é correto, afinal quem tem que decidir isso deveria ser a prefeitura), o poder público tem que fazer sua parte. E o maior exemplo de ausência de suporte público ou privado são os banheiros, justamente num carnaval patrocinado por uma cervejaria!



Que bom que colocam uns 20.000 banheiros químicos nos blocos oficiais. Mas e o resto da cidade? Este ano a Praça Tiradentes não tinha nenhum banheiro químico, pelo menos em duas vezes que passei por lá. Só em ruas adjacentes era possível encontrar alguns, mas aí ia depender da sua sorte saber em qual rua estava o banheiro. No MAM a situação é ainda mais esdrúxula, já que são muitos os blocos que todo o ano não só vão para lá, como também ensaiam. A prefeitura e os órgãos envolvidos sabem os lugares que são frequentados na cidade, não precisa que os blocos sejam registrados para saber onde dezenas de milhares de pessoas vão circular. Falta só exigir do seu parceiro comercial ou fazer a sua parte.







Um exemplo de que é possível o poder público agir bem está na Comlurb. Em todas as vezes que cheguei na área do Museu de Arte Moderna estava tudo impecável, em uma ocasião com dezenas de garis se entreolhando quando chegava ali o Vem Cá Minha Flor. Ao sair do Me Enterra Na Quarta, em Santa Teresa, já víamos os funcionários da limpeza urbana da cidade limpando onde o bloco tinha acabado de passar. Lembrando que se trata de bloco não-oficial, mas veja só, lá estava o poder público fazendo o que tinha que fazer.



Até com certo exagero, e talvez o trabalho deles fosse facilitado se mais lixeiras fossem disponibilizadas e fossem colocados mais banheiros, mas sem dúvidas digno de elogios, além de boa demonstração do que se deseja para a cidade, vinda de uma categoria que mostrou sua força e o quanto são necessários, quando fizeram greve dois anos atrás.



Esperamos que o próximo prefeito pense melhor nessas questões importantes para um ótimo carnaval para todos e que consiga mostrar que é possível combinar lucro e retorno financeiro (para a cidade, de preferência) com respeito ao cidadão. E, aí sim uma grande missão, sem tornar a Escolas de Samba, os blocos patrocinados e o carnaval livre como entidades excludentes ou antagônicas. O carnaval tem que ser de todos.

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