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sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Vídeos, fotos, resenha: Adriana Calcanhotto é a Mulher do Pau Brasil no Imperator (06/12/2018)





A rede vermelha ao fundo do palco forma um arco que poderia lembrar um sorriso. Um sorriso cheio de babados e rendas, é verdade. Mas não é um sorriso de satisfação. Parece mais um sorriso sardônico, travesso. A cantora Adriana Calcanhotto deitada na rede no começo do show poderia dar uma impressão de leveza, mas os tons das cores vermelha e preta não sugerem uma brisa à beira-mar.







Calcanhotto volta ao Rio de Janeiro (em certo momento diz que Marisa Monte quando toca na cidade avisa pros colegas, com regozijo: "hoje vou dormir em casa!"), mais precisamente ao Meier, no redivivo Imperator, para mostrar o show A Mulher do Pau Brasil, com o qual tem percorrido o país, após período em que lecionou sobre canções e poesias na Universidade de Coimbra, em Portugal. É um retorno também ao nome de um espetáculo de quando a cantora iniciou seus passos artísticos, ainda em Porto Alegre, segundo os anúncios da turnê.







Certamente o que vemos hoje, em termos de repertório e cenografia, é diferente do que deve ter sido em seu começo. Mas sobrou o nome e as intenções que são o norte de Adriana, mesmo quando o sobrenome muda de Calcanhotto para Partimpim em certos tempos. Essas intenções, no entender desta cumbuca, são de conjugar a popularidade de canções boas para todo mundo cantar junto com conceitos e ideias que dão substância e profundidade à arte que ela produz, como a clara alusão ao Manifesto da Poesia Pau-Brasil de Oswald de Andrade, que guiou os modernistas do século 20 e décadas depois inspirou os tropicalistas.









Nada disso é novidade no caldo de Adriana Calcanhotto, mas o tempo como professora em Portugal traz um sabor de aula-concerto na primeira parte do show, com a introdução de poemas musicados. E aí temos "A Dor Tem Algo de Vazio", escrita por Emily Dickinson, musicado por Cid Campos; "Mortal Loucura", poesia de Gregório de Matos que José Miguel Wisnik transformou em canção; e "Noite de São João", música que Fred Martins fez a partir de poema de Alberto Caeiro, autor fictício criado por Fernando Pessoa. São letras/poemas de dor, tristeza e solidão individual.







Para auxiliar a cantora, dois músicos que, entre outras muitas bandas, são responsáveis pelas cordas da banda Tono: Bem Gil (filho de Gilberto Gil) na guitarra e Bruno di Lulo no baixo, mas junto com Adriana se revezando e alternando por outros instrumentos como piano, tambores e programações eletrônicas, cumprindo eles o papel que já coube anos atrás ao +2 (Kassin, Domênico Lancellotti e Moreno Veloso), numa sonoridade que nunca preenche ou está alta o suficiente dentro do Imperator, mas vai marcando as melodias e o clima de cada música.








O que é possível descrever como segundo tema do show traz de forma mais forte os elementos modernistas/tropicalistas/antropofágicos. Não só de forma musical, mas também no figurino. Onde em outras épocas ela brincava com os parangolés de Hélio Oiticica, hoje coloca uma coroa de papelão na cabeça com logotipo da Shell, em aparente referência à época auge da Tropicália.







A costumeira reverência de Adriana a cânones como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e João Bosco busca fugir das obviedades e costura uma história de um Brasil que até termina nas belezas da "Geléia Geral" de Gil, mas tem as tensões sociais emolduradas em "As Caravanas" de Chico e nas desgraças que necessitam ser expostas com os palavrões de "Cu do Mundo" de Caetano e nos versos que batem forte da ótima "Nenhum Futuro", de João Bosco: "E eu suspeito que estamos fudidos / Enfim / 111 amontoados / Nosso mar vermelho / Chora o anjo da história / Pelo Brasil".







A geleia de Gil, quando chega, ficaria com gosto amargo com qualquer outro artista. Mas com Adriana não. A forma como apresenta suas ideias em forma de roteiro musical te permite um sorriso, talvez não tão comprido como o arco que a rede vermelha forma ao fundo, mas há satisfação na beleza do que é apresentado. E em meio aos temas de dor pessoal e de um país estão seus maiores sucessos, colocados de forma que o show nunca fica pesado demais. "Esquadros", "Inverno", "Devolva-me", "Vambora" e "Maresia" fazem o público cantar e no fim ir para junto do palco com a inusitada "Eu Sou Terrível" de Roberto & Erasmo, para quebrar protocolos e formalidades e aí sim sorrir um sorriso largo, dançando.







Para ver essas e outras mais fotos desse show, clicadas por Dine Araújo, confira aqui no nosso flickr.







Gravei alguns vídeos de baixa qualidade nas imagens mas boa qualidade sonora, que vocês podem ver aqui ou abaixo.





Músicas gravadas:


- "A Mulher do Pau Brasil"

- "A Dor Tem Algo de Vazio"

- "Esquadros"

- "Inverno"

- "Outra Vez"

- "O Cu do Mundo"

- "Vamos Comer Caetano"

- "As Caravanas"

- "Maresia"

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