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terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
Pré-Carnaval no Rio de Janeiro parte 2: Baile do Prata Preta, cortejo ferroviário da Charanga Talismã, Orquestra Voadora no Méier
Não está fácil ser do Rio de Janeiro por montes de motivos, e os acontecimentos da semana quiseram nos lembrar isso várias vezes de diversas formas. Enchente, incêndio, chacinas, governantes, a lista de desgraças segue nesse ritmo. Mas se tem uma coisa que não podemos fazer é nos entregar às tristezas. Senti-las sim, não negá-las, porém também nos lembrarmos que estamos aqui para tentar melhorar o mundo.
E o carnaval é uma dessas formas. Apesar de vários cancelamentos, em alguns casos até necessários, por conta dos estragos que as chuvas fortes da semana passada causaram em algumas regiões, mesmo assim muitos outros blocos fora da agenda oficial da prefeitura mantiveram seus ensaios.
O Cordão do Prata Preta, por exemplo, realizou um baile de carnaval dentro do Museu da Historia e da Cultura Afro-Brasileira, localizado na Gamboa, perto da Praça da Harmonia. O ingresso para entrar custava apenas 5 reais e, apesar de bem barato, ajudava o cordão a realizar seu desfile este ano. Além disso acabou servindo de divulgação para esse lindo museu, mesmo que as exposições nesse dia aparentemente não estivessem acessíveis, mas vale a pena voltar para conhecer melhor.
Curtir um baile de carnaval em um espaço desses já é uma maravilha, com a criançada correndo, o pessoal já cada vez mais fantasiado à medida que o carnaval se aproxima e o som de sambas e marchinhas rolando. Primeiro uma roda de samba com vários sambas-enredo e depois de um intervalo entrou o bloco para entoar as marchinhas de carnaval.
Só que naquela configuração de velocidade que o cordão costuma oferecer. "O Prata Preta não breca", diz o lema, que esquece de explicar que, além de não brecar, eles correm a 200 quilômetros por hora. Ou mais de 200 BPM. Impossível não se mexer e suar muito desse jeito, enquanto confete voava e a noite caía, algo perceptível já que esse era um baile de carnaval a céu aberto, no pátio do museu. Aquela mágica que o Prata Preta costuma empreender.
No dia seguinte o Leão Etíope do Méier comemorava 5 anos de atividades culturais nas ruas do bairro onde ninguém bobéier trazendo espírito carnavalesco com apresentações da novata Charanga Talismã e os "veteranos" da Orquestra Voadora, que chegam ao décimo carnaval em 2019.
Mas a Charanga Talismã resolveu começar a festa antes mesmo de chegar, pegando o trem na Central do Brasil até o Méier. Numa cidade que já teve cortejos aquaviários pela barca partindo de Niterói com o Se Melhorar Afunda e hoje mantém mais ou menos essa tradição com a Sinfônica Ambulante, até que demorou alguém organizar um cortejo ferroviário (*).
Talvez porque em grande parte os blocos que foram surgindo na retomada do carnaval deste século não deem a devida atenção aos bairros e regiões cortados pelos ramais de trem e a linha 2 do metrô. A Charanga parece que quer mudar um pouco isso e ano passado fizeram um cortejo por Vicente de Carvalho.
E desta vez pegaram o trem. Pouco antes das 17:00 a estação central estava bem colorida e com uma quantidade de foliões suficiente para saber que não ia caber todo mundo em um vagão só. Quem conseguiu ir no vagão com os músicos fez uma viagem apertada e animada, com um som meio cigano, meio "Beirut encontra o candomblé".
A chegada no Jardim do Meier, após passar em silêncio pelo hospital Salgado Filho, é com um repertório um pouco fora das marchinhas, mas variado, acompanhado de pernas-de-pau e dançarinos com coreografias no estilo "amigos da onça"...
Mas o que impressionou foi a qualidade musical, algo que a gente não espera taaanto assim em blocos na rua, mas enquanto alguns exageram no desprendimento com a afinação, que bom que outros buscam o esmero, como é o caso da Charanga, onde dá para ouvir até banjo e outros instrumentos de corda! Não sei qual o critério para a seleção de músicas do bloco, mas tocando frevo e Metá Metá fica difícil achar ruim.
Antes da Charanga existir, um bloco que pensava em músicas diversas para apresentar dentro do carnaval no meio da folia, sem trio elétrico ou cantor, era a Orquestra Voadora. Música de diversas partes do mundo, de cumbia aos sons balcânicos, misturadas com Jimi Hendrix e Baden Powell, em um formato que era bloco e fanfarra ao mesmo tempo.
A cada ano que passa a Orquestra vai aumentando seu número de músicos, que ensaiam aos domingos pela região entre o MAM e o coreto modernista do Flamengo, locais próximos do desfile oficial na grande terça carnavalesca.
Neste domingo, com o ensaio colado no coreto do Jardim do Méier, dá para ver que estão mais que prontos. Quem ainda não toca muito bem parece que acaba indo no embalo das batidas e dos arranjos de percussão e sopros, numa pressão imensa para quem consegue ficar perto dos instrumentistas. Nenhuma novidade para quem já viu a Orquestra Voadora alguma vez, mas sempre impactante ouvir algo como "Expensive Shit", de Fela Kuti. No meio de tantas tragédias que se abatem sobre a cidade, o Prata Preta, Charanga Talismã e Orquestra Voadora são um alento.
Vídeos do pré-carnaval estão sendo compilados aqui:
(*) Músicos e foliões do Amigo da Onça já organizam há alguns anos um cortejo que parte da Central até Caxias para comemorar o aniversário de um dos criadores do bloco, o músico Cisão. Mas faltava algo digamos, menos pessoal, embora essa festa do pessoal do Amigos da Onça seja divulgada publicamente. Mas quanto mais, melhor.
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