Musas na garagem
30 de agosto de 2008
Felizmente o festival Embaixada Pernambuco teve uma divulgação discreta até, e um certo desencorajamento pelo tempo chuvoso e desconhecimento do lugar. Afinal de contas o projeto 3 Na Massa, que tem potencial para encher um Circo Voador, mesmo assim lotou o salão do andar de baixo do Solar de Santa para sua apresentação.
Com um disco, Na Confraria das Sedutoras, que tem participação de cantoras como Pitty, Céu e Thalma de Freitas, além de atrizes recitando alguns textos musicados, com inspirações em Serge Gainsbourg e Milo Manara, podia gerar interesse de fãs dessas artistas mesmo que não tenham idéia do que é o Instituto ou não saibam estar diante da cozinha da melhor banda do Brasil, a Nação Zumbi.
Ali em Santa Teresa estavam três das cantoras que participaram do disco e uma quarta que não participou, mas deveria, cantando, além das músicas já interpretadas por elas no disco, as canções das moças ausentes.
De aquecimento para o show ainda tivemos, no salão de cima, Vitor Araújo ao piano rodeado de pessoas que superlotaram o pequeno espaço (nesse post dá pra ter uma idéia) e de muitos barulhos do lado de fora da casa.
Foi difícil conseguir entrar. Sobre o Vitor eu já mais do que falei nesse post aqui, então o que resta de diferente são os ambientes inusitados onde já vi ele tocando. Loja de discos, shopping center, planetário, e agora um casarão cheio de gente "descolada". Em todos esses lugares, com diferentes espectadores, ele gera muita simpatia e interesse por sua música e pelo que fala entre um número e outro.
Mas passemos ao salão de baixo, também chamado sabe-se lá porque de garagem, onde Pupilo e Dengue (a cozinha da Nação Zumbi) e Rica Amabis (Instituto) já estão a postos, acompanhados pelo guitarrista Junior Boca.
Marina de La Riva, que não participou do Na Confraria das Sedutoras, é a primeira a entrar e apesar de ser um nome relativamente comentado na mídia, por sua fusão de música brasileira com música cubana, eu ainda não tinha ouvido nada dela.
Ao vivo sua presença impressiona tanto pela voz quanto pela beleza. A iluminação do palco, muito bem feita, realçava ainda mais isso. A primeira música que cantou foi "O Seu Lugar", letra do - também Nação Zumbi - Jorge Du Peixe, que é originalmente cantada por Thalma de Freitas.
Depois teve que cantar uma música que no disco foi cantada por Céu, "Doce Guia", escrita por Junio Barreto, o que não deixa de ser uma responsabilidade já que a voz de Céu é bem marcante, mas o som parecia sair fácil dentre os lábios de Marina.
Porém, o que me marcou foi a versão dela para "Lágrimas Pretas", composição de Lirinha, do Cordel do Fogo Encantado, que no disco é cantada pela Pitty. Gosto muito da versão de disco e acho a música a melhor do cd, mas depois de ouvir na voz de Marina de La Riva não dá mais para imaginar outra pessoa cantando versos como "Você já viu uma mulher derramando lágrimas pretas na face?". Merece aparecer num próximo disco do 3 Na Massa, o que deve acontecer, no mesmo esquema do primeiro.
Nina Becker entrou logo depois mantendo o nível, apesar de algumas falhas do microfone. Mas durante sua participação foi possível notar que a iluminação era feita especialmente para cada uma das cantoras, como se fossem cenários diferentes, privilegiando cores e movimentos que mais condiziam com elas.
Nina começou com a música que canta no disco, "O Objeto", que o pessoal do Mombojó criou com o 3 Na Massa, letra de uma sacanagem solitária quase explícita. Enquanto o resto do palco estava azul, Nina se movimentava em vermelho. Ela continuou com a malvada "Estrondo", de Rodrigo Brandão do Mamelo Soundsystem, velho parceiro tanto do Instituto quanto da Nação Zumbi.
Cabe aqui falar um pouco sobre a parte zumbística da banda. Nunca vi Dengue tão bem no baixo. Talvez por não ter do lado o guitarrista Lúcio Maia, como acontece na Nação Zumbi e tantos outros projetos da Nação, seu instrumento se sobressai mais e ele não decepciona nos graves, que casam muito bem com o som mais cool e dançante do 3 Na Massa, com destaque para as linhas dub de "Lágrimas Pretas". O mesmo vale para o Pupilo, que conta com um maquinário eletrônico-percussivo do lado de sua bateria.
Lurdez da Luz, a mina parceira de Rodrigo no Mamelo Soundsystem, entra depois de Nina e canta outra excelente música do disco, "Sem Folêgo", a única do repertório escrita por uma mulher: justamente ela, contando sobre aventuras amorosas e automobilísticas na noite de São Paulo em forma de rap.
Com um figurino que eu não saberia descrever de outra forma que não fosse "New Rave", ela mandou melhor do que quando participou do show do Maquinado no festival Humaitá Pra Peixe, no início do ano e não deveu nada às duas cantoras anteriores.
Inclusive se movimentando e dançando mais que elas. "Certa Noite" foi a segunda música cantada por Lurdez, que começa como monólogo e de repente vira canção. E quando ritmo e melodia são acrescidos, é como se várias cenas de diferentes tipos de sensualidade estivessem sobrepostas e Lurdez representa bem todas as possibilidades.
Karine Carvalho é a última beldade da noite. Atriz, casada com Rodrigo Amarante, o vocalista do... Little Joy, a voz dela não chega a impressionar como a de Marina de La Riva, é mais contida, mas não fica atrás da competência das outras meninas.
A iluminação agora é mais colorida, há verde, laranja, rosa, se misturam e correm. É muito legal que haja essa (aparente) preocupação com esse tipo de coisa num show de um projeto que talvez nem precisasse disso, considerando as dimensões do lugar e ansiedade de quem conhecia já o disco e estava mais curioso de ouvir as músicas ao vivo.
Karine começou com a lânguida "Quente Como Asfalto", letra de China, mais uma com partes faladas e cantadas no melhor estilo Serge Gainsbourg (pra quem não leu, favor ler sobre o show que Jane Birkin, sua eterna musa, fez no Canecão meses atrás). Depois mais uma de Junio Barreto, "Morada Boa".
E pra finalizar, a música que ela canta no disco, "Tatuí", que apesar da boa letra parece a mais distante do clima sensual que permeia as outras composições. Mais romantismo do que sexo. Ou mais contido, assim como a voz a cantá-la. Mas funciona bem no show.
No bis, as meninas entram em duplas, num ménage musical. Primeiro Karine e Marina, que depois de mandarem um Roberto Carlos, atacam com uma música chamada "There Is an End" do Greenhornes, a banda "oficial" do baixista e baterista do Raconteurs (ouve aí a versão original: http://www.goear.com/listen.php?v=ddf67d2 ).
Então é a vez de Lurdez e Nina se apresentarem para encerrar de vez, com uma música completamente desconhecida pra mim, chamada "Deeper". Um show fenomenal que merece lugares maiores até mesmo para que todo mundo que esteve lá não tenha que ficar tão apertado. Se bem que apertadinho é bom...
Mais fotos em http://lacumbuca.multiply.com/photos/album/83
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