Esperar o inesperado. Assim foi o show do Do Amor no Humaitá Pra Peixe, em um dia inesperadamente chuvoso, após tantos dias de sol no Rio de Janeiro.
Entrando com anteninhas e "óclinhos" de coração, a banda se especializa em trazer surpresas e estranhezas no meio das suas canções, como se o pop não lhes bastasse. Já na segunda música as anteninhas e óculos estão no chão, e logo depois eles apresentam "Morena Russa", egressa do repertório da banda antiga deles, Carne de Segunda.
Cada música é cantada por um integrante diferente da banda, com destaque para o baterista Marcelo Callado, que defende bem quando canta o seu repertório, além de ser o elo de comunicação entre banda e público, interagindo e fazendo graça naqueles momentos de silêncio entre uma música e outra.
E, além das gracinhas, o público que encheu a sala Baden Powell foi recebendo os ritmos e estilos mais improváveis de estarem num mesmo setlist, indo de guitarrada ("Isso é Carimbó") a semelhanças com Pavement nas partes mais sujas de "Vão", chegando ao dub de "Brainy Dayz".
Claro que no meio disso tudo passa o... axé. Por esse ritmo contagiante e alucinante do verão da alegria e da folia passam "Meu Coração", "Perdizes" e mais uma vinda do Carne de Segunda, a clássica "Pepeu Baixou em Mim", agora bem mais lenta que na versão original, mas que no fim acelera horrores, como se fosse uma música do... Coração-Melão, a banda-piada de uma música só do Hermes & Renato.
Claro que não estou me referindo a axé puro e simples, até porque as distorções e efeitos das guitarras de Bubu e Benjão jamais dariam essa impressão. E é no excelente riff vindo da guitarra deles que surge uma das melhores músicas do show, "Dar Uma Banda". Mas novamente o inusitado aparece, ainda mais forte, na hora que entram os vocais mongolóides (!) dos dois dizendo que também gostariam de ter uma banda.
E se uma banda dessas resolve fazer um cover, qual seria a canção eleita por eles? Acho que seria impossível dizer que "Sowing The Seeds Of Love" do Tears For Fears seria tocada naquele dia, ou em qualquer dia do festival, na verdade. Mas é o que eles fazem, com direito a tradução simultânea de um trecho da letra pelo Bubu. E se já tivemos surpresas o suficiente pelo que aconteceu, ainda surpreendem pelo que não acontece: não entra no show a melhor música deles, "Santo do Deserto".
Muito se fala do Vanguart, de supostas catarses em festivais Brasil afora, de shows antológicos em uma explosão de folk rock com reverências a Dylan e vocais enrolados que lembram Thom Yorke, e mesmo quem torce o nariz pro vocalista Hélio Flanders costuma reconhecer que o restante da banda é afiada e não deixa a peteca cair.
Era a hora de descobrir como, afinal, era o Vanguart em cima do palco. Antes de eles entrarem ouve-se como introdução o tema musical do antigo programa de TV Lone Ranger - O Cavaleiro Solitário, que aqui no Brasil ficou conhecido como Zorro - de onde vem o característico grito de hi-yo silver (thanks, Rodrigo!) e serve como ponte para a banda entrar e mandar a galopante "Hey Yo Silver".
Entram cheios de segurança, confiantes e... problemas no som. Violão muito alto, banda se perdendo. Pára tudo. Recomeçam, com mais humildade, e agora talvez um pouco mais inseguros. Mas logo estão mais confortáveis, cada integrantes da banda com uma movimentação própria em cima do palco, principalmente Hélio, com caras e bocas à la Mick Jagger e o baixista dançando com o mesmo molejo do Coisinha de Jesus.
Apesar de suas duas músicas mais conhecidas serem em português, é a língua inglesa que domina a apresentação. Mas um dos destaques é uma música que mistura inglês e espanhol, a linda neofolk "Chicos de Ayer".
Problemas no som continuavam deixando a banda não muito à vontade, até que o guitarrista se enrola com o microfone e deixa ele pendurado no pedestal. O baixista dançarino, vendo que ninguém arruma aquilo, resolve da maneira mais prática: derrubando o microfone no chão.
Isso parece que acaba servindo pra banda ficar mais ligada no show, que melhora bastante do meio pro final. Como no momento em que Hélio Flanders fica sozinho no palco. Ele, violão e gaita, cantando a bela "The Last Time I Saw You". Em "Semáforo", a música mais conhecida deles, Hélio ensaia uma rebeldia tentando derrubar duas vezes o microfone - na segunda ele consegue -, com muito mais gentileza do que a raiva normalmente necessária para tal.
Voltando para o bis, eles resolvem atender a sério/entrando na brincadeira os pedidos jocosos de "toca Raul" vindos da platéia e mandam "Medo da Chuva", talvez a música mais empolgante durante a apresentação e depois tocam mais uma bem agitada para terminar pra cima um show com altos e baixos, que no final deixa uma boa impressão e melodias grudadas na cabeça, exatamente como no disco.
5 comentários:
É, sei lá. Eu esperava muito mais do Vanguart.
ah, esse anonimo ai sou eu.
Aquilo foi basicamente o que eu esperava do Vanguart. Talvez o som tenha atrapalhado eles e o show seja melhor, mas acho que era bem por aí, nada extraordinário, mas tb bem longe de ser uma porcaria.
Do Amor foi um pouco melhor, mas deixar de tocar Santo do Deserto pra tocar tias fofinhas me abalou profundamente. u.u
as melhores críticas musicais dos ultimos anos eu tenho lido aqui, no la cumbuca. vcs fazem o contrário da maioria das editorias de cultura que existem por aí, como a do globo, ou seja, são muito mais comprometidos com a musica do que propriamente com a fofoca.
força e sorte na jornada... !
abras
Realmente, o som atrapalhou um pouco a banda Vanguart, pois, na passagem de som estava muito bom, redondinho... a banda é boa como disse o vocalista!!!
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