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sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

La Cumbuca entrevista Bruno Levinson

Começou hoje o Festival Humaitá Pra Peixe, que este ano não é no Humaitá e sim em Copacabana! Inclusive já divulgamos a programação aqui mesmo no blog.



O Festival, originalmente uma ramificação musical do festival de poesias CEP 20.000, acontece desde 1994 no Sérgio Porto, que teve um incêndio ano passado e como ainda deve demorar pra ser reformado, a edição deste ano tem como base principal a Sala Baden Powell, em Copa, além de acontecerem shows também no Cinematheque e no Oi Futuro. Ou seja, este ano vai dar até pra VER as apresentações, ueba!



La Cumbuca conversou com o criador e produtor do HPP e atuante em diversas frentes na área cultural da cidade, Bruno Levinson!







La Cumbuca: Nos últimos treze anos o Humaitá Pra Peixe contemplou os mais variados estilos musicais, em especial aqueles com algum destaque no Rio de Janeiro (não necessariamente bandas do Rio, apesar de serem maioria). Você acha que tem algum estilo musical que ainda falta ter uma atenção especial do festival?
Bruno Levinson:
Sim. Sinto muita pena de nunca ter tido nenhum artista erudito no HPP. Adoraria ter algum concerto no Festival. Mas essa é uma turma que não se mistura muito e nunca recebi material de nenhum artista deste segmento. Acho que eles pensam que iremos rejeitá-los, ou sei lá o que... E também colocam nas condições técnicas vários empecilhos. Até entendo que para mostrarem a arte precisem de uma sala com boa acústica e tal. Mas no meu modo de ver mais importante que as condições técnicas seria o fato de estarem formando platéia. Jazz nós até já tivemos alguns artistas, mas também sinto falta de ter mais música instrumental. Este ano até tem o Macaco Bong que faz rock instrumental. Mas não é disso que estou falando, entende?




La Cumbuca: Quando o festival começou em 94, a "cena underground" musical no Rio era muito diversificada. Uma banda de hardocre tocava com uma de rap, com outra de guitar, com uma de ska e todo mundo assistia os shows. Hoje em dia parece que há um pouco de segregação, bandas de hardcore-pop tocam sempre em festivais que só tem esse som, o pessoal do rap se mistura menos, bandas como Eletro e Reverse, que tem um som parecido geralmente tocam juntas ou no máximo com bandas que tem um som parecido... Você percebe essa "setorização", digamos assim, e se percebe, você vê isso como algo positivo, negativo...?
Bruno Levinson:
Na verdade não concordo tanto que era assim no início dos anos 90. Mas o fato é que o público carioca é bem difícil. Acho um público pouco curioso. Modista. Se a moda é hip hop vai todo mundo no hip hop, se a moda é eletrônica vai todo mundo atrás, se é rock todo mundo vai de rock. E isto é muito ruim. E uma galera que vai muito mais no evento pelo evento do que pelos artistas. O lado positivo disto é que realmente o público acaba ficando mais diversificado. Mas por outro lado não se constrói, de fato, nenhuma cena. Sinto isto com o próprio HPP. No HPP vários shows lotam. Se faço show com o mesmo artista, no mesmo local, com o mesmo preço, mesmo horário, mas fora do HPP, o público será bem menor.




La Cumbuca: Como foi que aconteceu a entrada do HPP na ABRAFIN (Associação Brasileira de Festivais Independentes)? As conversas começaram durante o ciclo de debates Música Chappa Quente ou já havia algum contato anterior? E o termo independente, ainda existe alguma reticência em relação a ele?
Bruno Levinson:
Eu já estava em conversas sobre a Abrafin bem antes do evento do Chappa que eu participei. Lá foi só mais uma das conversas que tive. O Chappa é uma iniciativa muito legal assim como a de vários outros ciclos de debates e palestras que estão rolando pelo Brasil inteiro. Eu tenho participado de alguns. Acho que tudo isto, inclusive a Abrafin, é fruto de um amadurecimento de todos os envolvidos neste segmento do mercado. Hoje o que era dito "independente" está percebendo o quanto pode estar inserido no mercado. A Abrafin surgiu de várias conversas que os produtores de festivais iam tendo informalmente entre si em diversas oportunidades. Estamos vivendo um período de fortalecimento desses Festivais fruto, principalmente, do amadurecimento e profissionalização desses produtores, no qual me incluo. Tem vários festivais contemporâneos. Acho que agora estamos entrando no segundo grau. E assim, estamos fazendo história!! Ou melhor, estamos seguindo em frente com a história da música brasileira que sempre teve muita força nos festivais. Isto é o mais legal!!

Quanto ao termo "independente" é um termo que eu, particularmente, nunca gostei nem entendi direito. Independente de que? De quem? Eu venho falando em todos esses debates e oportunidades que o bacana é justamente buscar as relações de "dependências". Fazemos parte de uma cadeia produtiva, e quanto mais fortes os laços estiverem, melhor será para todos. Independente era há um tempo atrás, quando as majors dominavam. Naquela época sim o mercado da música, a indústria fonográfica, era independente, já que dependia e se bastava em si mesmo. Hoje, o comércio da música depende de estar associado a outros elos da cadeia. Este é o barato!




La Cumbuca: Nesses anos de festival, você notou alguma mudança no público, na mentalidade, quantidade, comportamento? E em outros eventos no Rio, você acha que o público tem respondido bem às novidades?
Bruno Levinson:
É como disse antes: Acho o público carioca difícil. No HPP, com certeza, o público vem aumentando a cada edição e evidentemente fico muito feliz com isto. Acho ótimo o HPP ser um evento de "moda". Percebo que conquistamos também este público que vai no evento sem saber exatamente o por que. Acho isto positivo, já que quando o público chega lá sei que verá um show bem produzido e artistas com trabalhos de qualidade. Você pode até não gostar artisticamente de algum artista mas sei que todos têm trabalho por trás. Todos se preparam e levam sua carreira a sério. Isto tudo imprime para o público, que sai falando bem de um evento voltado para novos talentos. Isto vai formando uma opinião positiva para este nosso segmento. Tenho muito orgulho de perceber o quanto aumenta nosso público, nosso espaço na mídia, nossa importância na cena e saber que este ano temos quatro grandes marcas envolvidas: Petrobras, Oi, Toddy e Sol. Tenho também orgulho quando vejo que temos 30 pessoas trabalhando diretamente no Festival. Sei que o Festival também abre espaço para este novos profissionais. Isto é fundamental!!



D2 e Bruno Levinson, que escreveu o livro Vamos Fazer Barulho




La Cumbuca: Alguma banda que você queria muito trazer este ano e/ou em anos anteriores e não conseguiu? Frustra quando/se isso acontece?
Bruno Levinson:
Tem duas bandas em especial que me frustram: O Rappa e Los Hermanos. São duas bandas cariocas que desde que quando surgiram era nítido que desenvolveriam carreiras. Acontece que elas cresceram muito no decorrer de um ano e quando seria a hora de tocar no HPP elas já estavam grandes demais. Também queria que o Raimundos tivesse tocado. Acho que o Raimundos teve uma importância enorme em todo este caminho dos "independentes" (argh!). Mas tenho uma relação bem tranqüila com a direção artística do HPP. Acho que é um mérito grande do Festival nunca ter perdido seu conceito. No mais é evidente que a cada edição alguns artistas e público ficarão satisfeitos e outros frustrados. Isto faz parte. Normal. Mas tenho certeza que nosso saldo é bem favorável.




La Cumbuca: O patrocínio com a Petrobras facilitou a vinda de mais bandas de fora do Rio?
Bruno Levinson:
Todos os patrocínios ajudam em tudo. O da Petrobras tem um valor simbólico bem maior do que o da verba que eles colocaram. Só com a verba deles nós não faríamos o Festival que estamos fazendo. Acontece que quando a Petrobras entra num projeto é com um compromisso grande. Eles, além de darem muita credibilidade, tem uma relação muito íntima com a produção cultural brasileira. O que seria hoje da nossa cultura sem a Petrobras?! E a impressão que eu tenho é que quando eles entram numa cena eles, de fato, impulsionam esta cena. Isto é o que mais me empolga. Sei lá, parece um aval, um certificado de qualidade poder estampar a marca da Petrobras no HPP. E quando tenho a Petrobras e também a Oi, que tem um outro tipo de aproximação com o evento, aí sinto que estou no caminho certo. A Oi tem interesse no nosso conteúdo e nós encaramos a Oi como mídia. Através da Oi estamos criando mais caminhos para promover os artistas e assim, conseqüentemente, também o Festival. Enfim, acho que está tudo certo. Estamos montando uma bela relação de vários elos desta corrente. E se deixar eu fico aqui falando horas sobre este assunto....



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O primeiro show que eu assisti no Humaitá Pra Peixe foi do Little Quail com alguns artistas cantando junto, se bem que não me lembro de ninguém que tenha tocado com eles. Lembro do Gabriel Thomaz tocando "Eu Quero Ver o Oco", ou então explicando que não podia tocar porque não sabia tocar o solo. Pois é, as lembranças de dez anos atrás vão ficando assim, nebulosas. Mas ainda guardo a sensação de ter visto mais um grande (e último) show do Little Quail.


Amanhã no Humaitá Pra Peixe tem Do Amor, já falado aqui no blog, e Vanguart, que lançou um disco razoavelmente bom, com altos e baixos, ano passado, mas que dizem ter um ótimo show. Vamos ver.

7 comentários:

Lismar Santos disse...

Maravilha de equipe essa, hein!
:'-)) Mto grato ao Bruno.
Não deixem de espalhar nossos textos pelo mundo afora!!

O show do HPP em q eu fui e deu mais público (esgotou até) foi no dia de Gram e Ludov (em 2000 e alguma coisa).

E esse termo "independente" (ou indie, nhé :-p)? Nego véio, se vc não colar com ninguém nesse mundo, vc vai é ficar colado no mesmo lugar sempre. Saca?

abçs/bjs =**

Dine disse...

esse blog é muito bom mesmo. sempre recomendo pros meus amigos =)

Túlio disse...

Legal o Bruno ter cedido a entrevista ! Ficou muito bom mesmo =P
Parabens Otaner

Anônimo disse...

Esse Blog está crescendo de forma natural,sem pressa.A leitura das matérias é tranquila, a gente fica com vontade de ler mais e mais.
Parabéns moçada!!!

Bruno disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Bruno disse...

Também gostei bastante da entrevista. Queria pedir que, por favor, não postem anônimo; precisamos saber quem são nossos leitores (se é que eles existem).

Otaner disse...

Ué, Bruno nossos leitores existem. Eu mesmo adoro ler os textos daqui. :-)

Anonimo ou não, agradecemos a preferência.