Queria poder voltar a escrever tranquilamente sobre música, mas não posso ficar colocando aqui as dezenas de lançamentos de discos acumulados em vez de falar sobre o absurdo que está acontecendo no bairro de Santa Teresa, Rio de Janeiro. São muitos os absurdos que estão acontecendo pela cidade, mas como não há tempo para falar de todos, escolho este assunto, pelo tamanho da desfaçatez e cara de pau das autoridades ~competentes~.
Na foto acima, segundo informações de usuários do facebook e da página da Amast - Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa, o Tenente Bittencourt, à paisana, dá uma "gravata" em Zorraquino, morador do bairro que protestava pacificamente contra o fechamento de mais uma rua em Santa Teresa para as obras da reativação do sistema de bondes sem que os trechos anteriores tenham sido terminados. Nas duas fotos abaixo dá para ver toda a "periculosidade" do senhor Zorraquino, sentado no chão, o que só na cabeça de um policial, que sequer estava à serviço, pode justificar uma agressão dessas.
Dois vídeos demonstram bem como foi feita a agressão pelo policial que, repetindo, sequer estava de serviço naquele momento.
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Tentando resumir o que está acontecendo em Santa Teresa. Desde novembro de 2013 a Rua Joaquim Murtinho, uma das principais vias de acesso ao bairro está fechada para obras para reativação dos tradicionais bondinhos. Já estamos no final de março, as obras estão longe de acabar na rua e o governo resolveu fechar parte da Rua Almirante Alexandrino sem terminar a obra na Joaquim Murtinho. Os moradores, então, decidiram esta semana "empatar" a obra, impedindo que começassem os trabalhos na Almirante Alexandrino enquanto os trabalhos na Joaquim Murtinho não fossem terminados. O governo, em vez de dialogar e propor algum acordo para os moradores, como por exemplo, fixar uma data para terminar a obra na Joaquim Murtinho, garantir a presença de trabalhadores na primeira parte da obra inacabada, qualquer coisa, preferiu usar de turuclência.
A agressividade e boçalidade do policial não é nada mais do que o reflexo de um governo que também age de agressividade e boçalidade. Para responder aos protestos, soltaram a seguinte nota, onde destaco os trechos inacreditáveis:
Estado está cumprindo a sua promessa de reformulação e modernização do sistema
Nota à imprensa:
O Estado do Rio de Janeiro está cumprindo a sua promessa de realizar a total reformulação e modernização do sistema de bondes de Santa Teresa, o que inclui a aquisição de 14 novos bondes, a troca de todos os trilhos e rede aérea dos 16 km de vias e a construção da nova subestação elétrica para fornecimento de energia do sistema.
O Governo foi surpreendido, no entanto, com a atuação de um pequeno grupo de pessoas, que está tentando boicotar a realização das obras, com o nítido propósito político de inviabilizar o cumprimento do prazo de conclusão da reformulação do sistema de bondes de Santa Teresa. O objetivo dessas pessoas é claramente o de fazer com que o Estado não cumpra o prazo prometido, com a finalidade de causar aos administradores públicos responsáveis pelas obras prejuízos políticos, com vistas às eleições deste ano.
O argumento utilizado por líderes desse grupo político, de que o Estado não deveria abrir mais de uma frente de obra nas intervenções em Santa Teresa, atenta contra o interesse da população em ver a obra finalizada no menor prazo possível e contra o interesse público de a obra ser realizada com o menor dispêndio possível de recursos públicos. O Estado tomou todas as providências possíveis a seu alcance para minimizar os transtornos naturais que uma obra dessa natureza causa.
O Estado não pode permitir que cerca de 30 pessoas inviabilizem que milhares de residentes de Santa Teresa e visitantes da cidade do Rio de Janeiro venham a usufruir do transporte por bondes em Santa Teresa, um dos ícones da nossa cidade.
Diante disso, o Estado tomará todas as medidas que estiverem ao seu alcance para coibir a atuação ilegítima e ilegal desse pequeno grupo, a fim de poder cumprir o seu compromisso com a população do Rio de Janeiro, em especial a de Santa Teresa.
Como podemos ver, entre a medidas ao alcance para coibir o protesto, está arrastar um senhor de mais de 60 anos pelo pescoço.
À essa nota fantasiosa e autoritária, some-se declarações da Casa Civil do Estado (não deveria ser assunto da Secretaria de Transportes?) afirmando para jornais pró-governo Cabral que "as obras estão dentro do cronograma".
Esses mesmos jornais se esqueceram, mas noticiaram, em novembro de 2013, que as obras na Joaquim Murtinho não passariam de março.
Alguns trechos desses jornais (tá, de um só jornal, você sabem qual é):
"A primeira etapa de obras vai acontecer até março de 2014, no trecho da Rua Joaquim Murtinho, entre os Arcos da Lapa e a Praça Odylo Costa Neto."
"— Em março, iniciaremos os testes com os bondes na Joaquim Murtinho. Em junho, os bondes voltam a rodar do Largo da Carioca ao Dois Irmãos — afirmou Rodrigo Vieira" (subsecretário estadual de Projetos Especiais da Casa Civil)
"A primeira etapa de obras ocorrerá em fases. Na inicial, a partir de segunda-feira (11 de novembro de 2013), serão interditados, por quatro meses, os 1.200 metros da Joaquim Murtinho entre os números 40 e 1.033."
Então esse jornal poderia relembrar essas informações e colocar como ressalva na hora que o governo afirma que as obras estão "dentro do cronograma". Mas e o governo, será que está certo em dizer que a culpa do atraso das obras vai ser dos moradores? Vamos ver a nota à imprensa que a Casa Civil soltou em novembro:
Bondes voltam a circular em junho de 2014, para a Copa do Mundo
A nova fase de reestruturação do sistema de bondes de Santa Teresa começa na próxima segunda-feira (11/11). Ao todo, serão investidos pelo Governo do Estado R$ 110 milhões. Inicialmente, cerca de 10 quilômetros de trilhos serão substituídos pelos modelos originais, assim como a rede aérea. A primeira parte das obras, que vai dos Arcos até a Praça Odylo Costa Neto, será finalizada até março de 2014. Já o trecho entre a praça e o Dois Irmãos ficará pronto até junho do ano que vem. O espaço até o Silvestre, desativado desde a década de 1990, será entregue no segundo semestre de 2014. A previsão é de que os bondes voltem a circular no mês de junho, para a Copa do Mundo.
Faltam quatro dias para acabar março. No dia primeiro de abril, dia da mentira, alguém duvida que o governo vai continuar afirmando que as obras estão "dentro do cronograma"? Os moradores que lá protestaram não podem "fazer com que o Estado não cumpra o prazo prometido", porque o Estado, sozinho, já descumpriu o prazo prometido!
O que mais impressiona nisso é que as informações dos prazos que o governo estadual prometeu estão aí, ao alcance do google, mas eles fingem que nunca deram um prazo até março na mesma certeza de impunidade que o policial à paisana tem ao aplicar uma "gravata" em um senhor de idade.
E nem vamos falar da empreiteira que cuida do projeto, que já fez ponte ao contrário no Chile.
Para quem está indignado com esta situação, recomento participar da campanha que do Panela de Pressão está fazendo. É só clicar aqui.
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