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sexta-feira, 7 de março de 2014

O Carnaval que o prefeito do Rio tentou destruir - Parte 02





Continuando a falar sobre algumas das mazelas que o descaso dos governantes produz no Rio durante o carnaval (veja a primeira parte aqui, onde falo do trânsito e do metrô), não dá para deixar de falar dos ônibus.




Um capítulo já bem conhecido dos moradores durante os outros dias do ano, a trama sobre os coletivos fica mais densa na época do carnaval. Muitas ruas são fechadas e os ônibus não têm como passar nesses lugares. Falta sinalização e informação sobre esses pontos que passam a ser inexistentes.




Na Lapa, na rua do Passeio Público, foi possível ver um grupo de turistas estrangeiros esperando ônibus em um ponto onde, só mais tarde, vendo outra via por onde eles estavam passando direto, percebi que, pelo menos nas horas que se seguiriam, eles não passariam por lá. Nenhum dos milhares de funcionários que estão cuidando de trânsito foram deslocados para fornecer informações nessas áreas. Até porque muitos não sabiam de nada.




E os motoristas de ônibus também não. Muitos são surpreendidos com as ruas fechadas e passam a criar sua própria rota, às vezes com ajuda dos passageiros. Uma situação pela qual já passei em outros anos e que em 2014 me fez evitar sempre que possível essa modalidade de transporte público. Quando utilizei, vi desde motorista subindo em calçada a ônibus passando com o número de linha apagado, provavelmente para não pegar passageiros.




Se a sinalização para pontos de ônibus era escassa, não era muito diferente também a quantidade de banheiros disponíveis para os blocos autorizados pela prefeitura. Bom, blocos autorizados pela prefeitura não estavam muito presentes no roteiro do La Cumbuca, mas passando pelo Cordão do Bola Preta, mesmo algumas horas depois de terminado, era possível ver ainda filas enormes em banheiros imundos.




No dia seguinte, durante o desfile do Boi Tolo (que não é oficial), foi possível observar que um dos poucos banheiros colocados pela prefeitura com água corrente estava fechado por ter ficado entupido durante o Bola Preta, no dia anterior. Se depois de um dia com ele entupido ninguém fez nada a respeito, é bem provável que terá ficado assim até o desmonte do banheiro. A impressão que se tem é que a conservação deles é inexistente.




Esses banheiros costumam ter algum contratado para ficar na porta. Um outro banheiro feminino com essas mesmas características, perto do Odeon, e que estava em condições razoáveis no domingo, na terça à noite estava abandonado, sem condições de uso e, mesmo assim, com um homem lá dentro.




Se nos blocos oficiais a situação era essa, nos não-oficiais nem precisa falar que os banheiros simplesmente não existiam. Pode-se argumentar que, se a prefeitura não sabia o trajeto (e em alguns casos nem o próprio bloco, como acontece com o Boi Tolo), como fornecer banheiros químicos?




Bom, algumas ruas são utilizadas como passagem de milhares de pessoas. Não precisa saber que vai passar algum bloco por ali para fornecer alguma forma do cidadão aliviar suas necessidades básicas depois de horas bebendo a cerveja que é "patrocinadora" do carnaval de rua.




E a prefeitura não é cega e sabe que vai ter bloco ali atrás do IFCS, que vai ter bloco passando ou ficando pela região do MAM (onde ano passado tinha poucos banheiros, mas tinha, diferente deste ano), que vai ter em vários cantos de Santa Teresa... Acho que é claro para qualquer um que, apesar de ter gente que não está nem aí e urina em qualquer lugar, a quantidade de banheiros é menor do que o necessário.




Ao xixi pelas ruas, somou-se a grande musa do carnaval de 2014. Sim estou falando dele, o lixo. A greve dos garis que começou na sexta-feira e que já dura uma semana foi a maior demonstração do descaso que o prefeito teve com o carnaval de rua.




Foto: Mauro Pimentel - Terra



Em vez de dialogar com a categoria, preferiu ameaçá-la com demissão em massa e, ao que tudo indica, "enquadrar" o sindicato ("Em nota divulgada mais cedo à imprensa, o vice-presidente do sindicato, Antonio Carlos da Silva, que informou sobre a paralisação, ontem, voltou atrás e explicou que a categoria não estava em greve."), que, segundo notícias, tem ligação com Eduardo Paes.




Antes mesmo da demissão de 300 garis, a prefeitura já estava longe do caminho do diálogo, quando já no sábado de carnaval a PM jogara bomba e gás de pimenta na manifestação que os garis faziam na Avenida Presidente Vargas, sem que houvesse qualquer ato de vandalismo que pudesse ser usada de desculpa para a truculência.





(foto: André Di Mauro - R7)




No domingo, o cenário lembrava a locação do filme Ensaio Sobre a Cegueira, o que não deixava de ser apropriado, até certo ponto. No Aterro do Flamengo, altura do Monumento aos Pracinhas (onde o Boi Tolo fez um belíssimo desfile, mas deixemos as coisas boas para outra ocasião), um caminhão da Comlurb estava estacionado, sem movimento e diante de todo o lixo espalhado pela vasta região.




(Não tem exatamente a ver com o assunto "destruição do carnaval", mas li em alguns lugares pela internet algumas pessoas questionando sobre um fato que começou a ocorrer na quarta de cinzas: policiais e guardas acompanhando garis que faziam a limpeza. Vários testemunhos sobre isso e uma contestação: isso seria uma "escolta" para os garis que desejam trabalhar mesmo com a greve, e que seria absurdo pensar que os policiais foram até às casas dos garis para obrigá-los a trabalhar. O que vi acontecer foi: muitos garis batiam ponto e iam para o trabalho, mas faziam uma "operação-padrão" ou uma "greve branca", quando a pessoa vai ao local do trabalho mas não exerce sua atividade. O que aconteceu no Aterro não iria acontecer novamente se tivesse um policial, armado ou não, vistoriando o serviço. O que eu também presenciei: Na Rua do Riachuelo, Bairro de Fátima, três garis trabalhavam e uma espécie de fiscal, com logotipo da Comlurb na camisa, fazia anotações numa prancheta. Mais à frente, por coincidência ou não, pelo menos um guarda municipal. Cabe a cada um deduzir se essa era uma ação para inibir um possível piquete violento ou uma intimidação para forçar os que iam até o trabalho efetivamente trabalhassem.)




E onde estava Eduardo Paes enquanto a cidade ia apodrecendo com sujeira e fedor? No sambódromo, sambando e fazendo pequeno-politicagem. O que seria natural, se não houvesse uma crise cheirando mal pela cidade.




Muitas soluções poderiam ter sido adotadas para que uma das épocas que mais atrai turistas não tivesse o lixo espalhado pelas ruas e a fetidez generalizada e é claro que fico feliz de não ser o prefeito para saber exatamente qual seria a melhor opção. Mas posso dizer que sambar na Apoteose não é uma delas.




Independente do que você pense sobre uma greve deflagrada justamente no carnaval, é inegável a completa inabilidade e insensibilidade do prefeito com um assunto de extrema importância. Inábil por não ter resolvido. Insensível por parecer não se importar com o que acontece nas ruas. A não ser que a rua seja a passarela do samba...




Claro, temos nossa responsabilidade. Jogar menos lixo nas ruas, usar menos as paredes e árvores como mictórios, respeitar mais aquilo que é de uso público. Mas nada disso diminui a responsabilidade do poder público em nos fornecer mais (e melhores) latas de lixo, banheiros químicos em maior quantidade e mais lugares e com conservação periódica, instruções aos motoristas de ônibus sobre os trajetos durante a folia, sinalizações claras e bem atualizadas nos meios de transporte, forças policiais mais preocupadas com a segurança de quem quer se divertir do que com manifestações, que por sinal, pipocaram por todos os blocos, resultado de uma prefeitura e governo do estado que, desde muito tempo, tratam como inimigo quem está na rua. O que pode ser uma explicação para o tamanho do descaso do poder público com o carnaval de rua de 2014. O prefeito bem que tentou, mas no fim os blocos e o povo na rua prevaleceram e é sobre essa parte boa da história que passo a contar nos próximos dias.








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