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quinta-feira, 20 de março de 2014

Muita malhação e o último baile na Perimetral na segunda-feira de carnaval (03/03/2014)





Se o domingo é dedicado exclusivamente ao Boi Tolo, a segunda de carnaval tinha algumas opções bem legais, algumas acontecendo ao mesmo tempo. Ainda recuperando forças por conta do dia anterior, esta briosa equipe de reportagem de um deixou de lado o Surdos e Mundos, o Desce Mas Não Divulga Mas Não Sobe (risos) e o Comuna Que Pariu e só chegou ao centro para ver o começo do aguardadíssimo bloco-que-muda-de-nome-todo-ano.




Vamos tentar fazer um histórico desse bloco mutante. Em 2005, amigos que estudavam na Universidade Federal Fluminense, em Niterói, fundaram a Troça Carnavalesca de Regatas Se Melhorar, Afunda. Por três anos fizeram a travessia até o Rio de Janeiro através das Barcas para desembarcar na Praça XV e desfilar pelas ruas do centro.




O bloco foi ficando grande demais e, antes que o nome se tornasse realidade, fizeram o desfile de afundamento em 2008.




Em 2009, o renascimento e o começo dessa nova saga. A mesma turma resolveu criar o Exalta Rei, desfilando pelo bairro da Urca e cantando músicas de Roberto Carlos, para ter sua apoteose em frente à casa de seu homenageado. Melhor ainda (e sem afundar), o proclamado Rei saudou e sambou junto com seus súditos.



Com o grande sucesso, mais rápido até do que o Se Melhorar..., era de se esperar que reeditassem o Exalta Rei no carnaval seguinte, o que talvez fizesse a Urca afundar. Em vez disso, em tempos de choque de ordem, usaram de criatividade para sair ainda mais na encolha, com o nome de Epa Rei pelo Centro do Rio, mas assumindo status de "manifestação pela monarquia", em vez de bloco, e cantando músicas de outras realezas, como Michael Jackson e Xuxa.




E a partir de então virou tradição. Em 2011, muitas informações truncadas e desencontradas por aí davam conta que o bloco ia se chamar O Centrão Vai Virar Mar e as músicas aquáticas iam ser o tema da vez, com direito a carro-pipa e tudo.



Em 2012, sem água e sem reis, finalmente os caminhos do La Cumbuca se cruzaram com o bloco, quando uma multidão atravessava a passarela próxima ao aeroporto Santos Dumont. Era o Baianada, com músicas de autores baianos (indo de Raul Seixas a Asa de Águia) ou que tivessem Bahia como tema.



Foi o bloco com o momento mais divertido das histórias dos blocos. Dançar na travessia da barca Rio-Niterói devia ser muito divertido, o Roberto Carlos "abençoar" o bloco deve ter sido mágico, mas desfilar nas escadas rolantes do Santos Dumont... Provavelmente este é o sentido da vida e para isso fomos criados. Contei aqui sobre esse momento lendário da vida de todos que estavam lá.



Dá até dó, mas é absolutamente compreensível que eles não repitam a experiência no ano seguinte. Então no ano passado resolveram mudar o "turno" e vieram como Boa Noite, Cinderela, atravessando a madrugada, do centro até chegar no mar (mais uma vez, o mar) na Praia do Flamengo, no raiar do dia.



Se Melhorar Afunda, Exalta Rei, Epa Rei, O Centrão Vai Virar Mar, Baianada, Boa Noite Cinderela... Ufa! Natural que para os viciados na folia seja questão de honra descobrir com antecedência o que essa turma vai aprontar no ano seguinte.



A primeira informação era que o tema das músicas deste ano seria de música negra. Seria um black bloco, então? Não exatamente.... A segunda informação era que o nome do bloco era Saravaço.







O mistério era grande, a luta para saber o horário exato do bloco também (neste aspecto, o mesmo acontece com vários blocos), mas por volta de 16:00 a rua Araújo Porto Alegre estava cheia. Logo o pessoal e o "núcleo" do bloco se acomodou entre o Tribunal do Trabalho e o Palácio Gustavo Capanema para dar início à aventura de 2014.







Quando me entregam um folheto com o "programa" do bloco, percebo que "música negra" significava tocar de "Olhos Coloridos" (Sarará Crioulo) a "16 Toneladas" a "Cordão do Bola Preta", de "Black or White" a "Preta Pretinha", de Mr. Catra a Beyoncé, de "Lá Vem o Negão" a "Nega do Cabelo Duro". Há um pouco de sentido e um outro tanto de nonsense no bloco clandestino. O início, com um batuque potente, só percussão, sem metais, foi arrasador.







Ao mesmo tempo, na Praça Tiradentes ia acontecer o bloco-flash-mob Bunytos de Corpo. Em sua terceira edição no Rio, esse bloco-evento foi "importado" de Recife e fez muito sucesso ano passado. Um repeteco, para depois voltar ao Saravaço, acabou se tornando necessário.



Entre o Saravaço e o Bunytos, Jesus se fez presente. Não, não era um dos muitos fantasiados do personagem bíblico quase tão famoso quanto os Beatles. Era um bloco de Jesus mesmo, louvando e sambando na Avenida Rio Branco com algumas centenas de fiéis-foliões. No carnaval os Beatles são mesmo mais famosos, já que não muito longe dali o Bloco do Sargento Pimenta reunia mais de 100 mil pessoas no Aterro do Flamengo...







Chegando na Praça Tiradentes, muita gente pronta para ir para a academia de ginástica, se essa academia fosse localizada na vila do Chaves, nos anos 80. Cores berrantes, faixas na cabeça, camisetinhas, collants e... cadê os "instrutores"? E, mais importante, cadê a Bananobike, guiada pelos músicos da banda Biltre e que dão suporte mecânico-sonoro para esse e outros blocos?







Quando eles aparecem é tudo muito rápido e de repente está todo mundo na frente do Batalhão de Polícia Militar no fim da praça. A rua é tomada e começa a malhação bizarra no meio do carnaval.







À medida que o Bunytos de Corpo vai andando, fazendo alongamentos, agachamentos e outros movimentos muito incomuns para esse período carnavalesco, mais e mais gente vai se juntando. Ao chegar na avenida Gomes Freire já era um número considerável de gente e lá começam aqueles "piques" de 100 metros que ano passado assustaram muitos desavisados no caminho.







Da Gomes Freire, para a Rua do Lavradio e depois para os Arcos da Lapa. Nessa hora já eram milhares de bunytos, em uma cena que impressionou e surpreendeu quem estava meio perdido por ali.






A partir daí ficou quase impossível ouvir o som da Bananobike. Em 2015 acho que vão ser necessárias duas bicicletas para dar conta do recado. Foi o suficiente para correr de volta para o Saravaço, mas primeiro era preciso saber onde eles tinham ido parar.





Segundo contam as lendas, o Saravaço saiu ali de trás do Palácio Gustavo Capanema, e pegou a Rua Santa Luzia. De lá, foram até o Largo da Misericórdia, onde fica a Igreja Nossa Senhora de Bonsucesso e o terminal de ônibus da Praça XV.


E, embora exista um pouco de nonsense e acaso nas escolhas dessa turma, esse trajeto tinha um objetivo. Logo à frente estavam os escombros do Viaduto da Perimetral. Ano que vem, se as obras não atrasarem, não existirá mais nenhum pedaço de concreto pairando sobre a Praça XV. Como dito por aí, este era o último baile da Perimetral, uma versão carnavapocalíptica do Baile da Ilha Fiscal







Reencontrei o bloco quando eles voltavam a dar um passeio ali pelas margens da Baía da Guanabara (relação usual do bloco secreto) em direção à Estação de Barcas da Praça XV, já no começo do anoitecer. Mas, na verdade, eles estacionaram embaixo de mais um dos pedaços da Perimetral, na passarela que fica acima do começo do Mergulhão. O refrão de "Mama África", de Chico César, era repetido diversas vezes debaixo dos restos do viaduto, enquanto o humorista Rafucko andava com uma fantasia de William Bonner Mariposa Sexy (?).







O colorido dos enfeites de um prédio histórico logo à frente, somado com os escombros do viaduto, se tornaram um cenário "natural" para uma festa que jamais acontecerá de forma igual. Exatamente do jeito que o bloco secreto sempre quer.



A terça-feira teve blocos na Tijuca, no Aterro e na Cinelândia, mas sobre a saga cine-voadora-egípcia, no próximo post.

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