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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Resenha, fotos, vídeos: Arrigo Barnabé e Rogério Skylab no Circo Voador (21/10/2016)





Na ida para o Circo Voador uma voz surgia no fundo do ônibus, meio robótica, meio parecida com personagens do Chico Anísio: "Boiola... Safado... Pilantra..." A voz repetiu esse e mais uns dois ou três xingamentos de forma pausada e mecânica até saltar nas imediações da Lapa.







Poderia ser uma letra de Rogério Skylab. Não deixava de ser um indicativo que a noite prometia no quesito maluquice. Pois Skylab e Arrigo Barnabé, cada qual a seu jeito, acabam atraindo uma quantidade considerável de gente doida com suas formas que subvertem formalidades. E era deles a noite de sexta no Circo.







Não dá para chamar de show de abertura, já que foi uma apresentação completa, mas quem dá início às maluquices é Rogério Skylab. E talvez da forma mais surpreendente, com um cover de Stereolab, "French Disko".







Fora essa surpresa e da ausência do violonista Alexandre Guichard, o show mantém o mesmo espírito que permeou a série de dez discos Skylab e suas apresentações durante esse tempo. Desde então ele já lançou três discos com interpretações livres sobre o carnaval e agora um DVD reunindo esses trabalhos, o Trilogia dos Carnavais. O lançamento do DVD é a justificativa para o show.







Mas, fora "Eu e Minha Ex", música de Júpiter Maçã que já frequenta o repertório de Skylab há anos, nenhuma música gravada no DVD foi executada. Além da série de Skylabs, tiveram vez músicas do projeto Skygirls, como "Eu Me Contradisse Ou Não Me Contradisse?" e "A Festa No Meu Ap". "Bengala de Cego", da nova trilogia iniciada em Skylab & Tragtenberg, Vol. 1, também teve espaço.







Mas Skylab sabe o que o povo quer. Em especial o povo fã de Skylab. O pessoal quer berrar a letra de "Carrocinha de Cachorro-Quente". Quer os anti-hits fora da discografia "Câncer no Cu" e "Fátima Bernardes Experiência". Quer rir com a kraut-poesia de "Tem Cigarro aí?" (essa também fora das séries Skylab, música do disco Rogério Skylab e Orquestra Zé Felipe, mas uma das favoritas há muito tempo) e com o bacanal matemático de "Dedo, Língua, Cu e Boceta". E, claro, "Matador de Passarinho".







Com a ausência de Guichard no violão, o peso dos arranjos perde qualquer contraponto e discretas rodas de pogo encontram espaço de vez em quando, estimulados pelo trio pesado que acompanha Skylab faz tempo (Thiago Martins na guitarra, Bruno Coelho na bateria e Yves Aworet no baixo). Já que começou surpreendente, termina mais ainda, com "Hoje", música do Taiguara. É provável que por conta da presença na trilha-sonora no filme Aquarius, mantendo assim uma característica pouco percebida do Skylab, que é não dissociar seu trabalho do que nos cerca.







Essa faceta de "cronista do contemporâneo" talvez também não seja o mais reconhecido na carreira de Arrigo Barnabé. Mas não é de uma crônica que se trata seu disco de estreia lançado em 1980, Clara Crocodilo? Em linguagem que remete aos quadrinhos e à arte pop, muitas vezes de forma bem-humorada, o álbum alarga fronteiras das possibilidades existentes em se fazer música. Ópera-pop, vanguarda, experimental, nada disso é suficiente para defini-lo.







Tem sido recorrente durante os anos que Arrigo retorne ao seu debut. Em 2009, por exemplo, o álbum foi tocado na íntegra no Theatro Municipal de São Paulo, durante a Virada Cultural de São Paulo. Desde 2014 ele tem feito pelo país apresentações com releituras das faixas de Clara Crocodilo, chamando de Claras e Crocodilos.







Quando trouxe esse show para o diminuto espaço da Audio Rebel foram necessárias três noites e mais duas sessões extras para conseguir dar conta da procura. No Circo Voador sobrou espaço, e fiquei com a impressão que não foi divulgado o suficiente do que se tratava o show, mas não faltou interesse de quem esteve presente.







A releitura do disco se dá ao direito de tirar e colocar músicas. O começo é num embate entre os teclados tocados por Arrigo e Paulo Braga, com uma versão parcial de "Outros Sons", gravada na época por Eliete Negreiros, cantora ligada ao movimento da vanguarda paulista, assim como Arrigo. Outra música de fora do disco é o semi-rap paranóico "Dedo de Deus", ótima pedida para nossos tempos.







Além desses acréscimos, uma ou outra ausência e mudança na ordem das músicas, o grupo que acompanha Arrigo também deixa de ser o Sabor de Veneno da época para uma formação que com bastante presença feminina, antes restritas ao apoio vocal e agora acumulando forças e funções nos instrumentos, tendo Mariá Portugal na bateria, Ana Karina Sebastião no baixo, Joana Queiroz e Maria Beraldo nos sopros. Além delas e do já mencionado tecladista Paulo Braga, na guitarra está Mário Manga.







Mas as músicas que formam a estranha história de Clara Crocodilo estão lá. O jeitão detetive noir-cientista maluco de Arrigo também, com seu sobretudo preto e suas locuções entre um tema e outro. As cadências quebradas de "Sabor de Veneno", os gemidos histéricos de "Orgasmo Total" (bem mais intensos do que no disco), o balcão de bar de fórmica vermelha de "Diversões Eletrônicas".







Os pontos esperados não espantam a permanente sensação de inesperado. O ápice não poderia deixar de ser com a faixa-título do disco. Ainda tivemos direito a um bis, mas os malucos já estavam em êxtase numa madrugada que prometia estranhezas, mas hey, não são assim todas as noites na Lapa?








Quatro vídeos de Rogério Skylab aqui ou clicando abaixo:





- "Carne Humana"

- "Câncer no Cu"

- "Você Vai Continuar Fazendo Música"

- "Fátima Bernardes Experiência"




Três vídeos de Arrigo Barnabé aqui ou clicando abaixo:





- "Outros Sons"

- "Dedo de Deus"

- "Diversões Eletrônicas"




Para fotos do show do Arrigo e do Skylab é só clicar nos nomes deles. Foram tiradas por Dine Araújo e Otaner.

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