Dos vários shows legais da semana passada, não consigo deixar de pensar que assistir Rogério Skylab, Chelpa Ferro e Zumbi do Mato num espaço de 4 dias não pode ser sinal de sanidade. No meio disso pude assistir Cabruêra no Oi futuro e ainda deu tempo de pegar metade da apresentação de Paulinho Moska dentro do Projeto Geringonça, fazendo um show conjunto com Negro Mendes, um grupo de dupla nacionalidade que mostra ritmos afro-peruanos (!).
E que boa surpresa foi. Diante de um Sesc Tijuca cheio, foram apresentadas canções com uma harmonia muito grande entre percussão e melodia, ao mesmo tempo que aquilo era agradável, também era algo novo, instigante. No final tudo acabou em samba, mas um sambão retorcido por ritmos latinos (fotos aqui). Já o Cabruêra, duas horas antes, fez da mistura de ritmos nordestinos com o rock e elementos eletrônicos um som animado para um público muito mais preocupado em observar a banda e se espreguiçar nas almofadas vermelhas do Oi Futuro e contemplar as coloridas imagens projetadas em cima de bandeirinhas de festa junina que funcionavam como um telão. Perto do fim o vocalista Arthur Pessoa, que já havia tocado escaleta, pede para o público se levantar e pega seu violão e a caneta esferográfica que ele utiliza para produzir um som diferente. Com essa particularidade, tocaram pelo menos duas músicas que tinham como ritmo preponderante o ska, o que foi inesperado pra mim, e ótimo (fotos aqui).
Mas voltando a Skylab, Chelpa e Zumbi do Mato... Não é que eles tenham tanta semelhança assim. Mas os três tentam levar a música e os sons para além dos limites daquilo que é considerado "normal". Dos três, Rogério Skylab pode ser considerado, musicalmente, o mais "normal", com o formato canção sendo mais respeitado. Com ele os limites são avançados nas letras, que tratam como poesia o humor negro, escatologias, assassinatos e perversões, geralmente envolto em nonsense e cada vez mais em repetições de frases ad infinitum (fotos aqui). Já o Chelpa Ferro, adicionados pela Duplexx de Bartolo e Léo Monteiro (ambos da Orquestra Imperial), não tem poesia, não tem letra, não tem canção... Não à toa eles terem participado em 2004 de um festival chamado "Isto é Música?!". Havia baixo, havia umas guitarras também. E toda uma parafernália de fios, pedais, botões, bateria eletrônica, teclados e aparelhos não-identificados, servindo mais do que a fazer música; estavam ali produzindo uma obra de arte sonora. Do lado de fora do Plano B, na Lapa, era assim que aqueles sons deveriam ser apreciados e, de alguma forma, vendo por esse ângulo, aquilo fazia muito sentido! Afinal de contas eram artistas plásticos ali dentro, acionando os instrumentos, introduzindo timbres, tons e ruídos que normalmente não se juntariam (fotos aqui).
No dia seguinte, em Niterói, o Zumbi do Mato mostrava poesia, letra, canção, música, mas tudo completamente subvertido, como se fosse a trilha de um sanatório (fotos aqui). As letras chegam a se aproximar de Rogério Skylab (alguns membros do Zumbi já contribuíram/participaram em músicas de Skylab), mas o nível de retardadice e nonsense aumenta exponencialmente a cada verso em comparação. Chegando ao show, num minúsculo teatro que mais parece um estúdio de ensaio (onde o Rockz tinha tocado duas semanas atrás), era entregue uma folha contendo as letras das músicas novas, que serviam também de cola para o vocalista Lois Lancaster não errá-las, afinal eles estavam gravando ali um CD/DVD. Tenho lá minhas dúvidas se ele acertou letras como "Gussna tradjou batram xadráis". Demências das antigas também tiveram espaço, como "Travestibular" e "Peidão". Bom, pelos títulos talvez dê para ter uma idéia das letras. E nem mencionei ainda que a banda consiste de baixo, bateria, teclado e ocasionalmente um trombone soprado por Lois. E com isso eles vão tocando rock, punk e até reggae, tudo de forma desconexa. Impossível não se divertir. E para terminar, Lois que pintou os olhos no melhor estilo emo para a apresentação, fica sozinho no palco e, com a ajuda das palmas da diminuta platéia, canta a capella uma música de Sandy & Junior com uma letra melhorada ("Se eu te jogar no caixão você não vai levantar / Enquanto a tampa não abre"). Cabruêra e Moska com Negro Mendes fizeram ótimos shows, mas se a semana passada for lembrada daqui alguns anos, será pela sequência delirante de Rogério Skylab, Chelpa Ferro e Zumbi do Mato. Poucos seriam capazes e muitos não sabem o que perderam.
Um comentário:
alô!
agradecemos pelos comentários sobre nosso show, fizemos tudo com amor e carinho!
abraços!
- do zumbi do mato
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