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sexta-feira, 7 de novembro de 2008

O fim da década 00

A eleição de Barack Obama para a presidência dos Estados Unidos da América tem muitos significados, muito mais do que vou me meter a falar neste blog cujo assunto é música. Mas para mim era impossível não se emocionar a cada vez que passavam imagens da multidão de centenas de milhares de americanos comemorando um novo presidente. Ou um presidente de verdade oito anos depois.


Por mais que até o dia da eleição eu achasse que pouco importava quem fosse o presidente do EUA, ver um negro no cargo mais alto dessa nação que tem essa ânsia em ser a polícia do mundo, em determinar a forma como o planeta deve se comportar é incrível, ainda mais considerando que no começo da década de 60 ainda haviam estados que tratavam os negros em uma categoria inferior de ser humano. Independente do que aconteça nos próximos anos, e é bom Obama reforçar a segurança já que a sociedade pode mudar, mas nem sempre todos os indivíduos acompanham essa mudança, só o que aconteceu no dia 04 de novembro e suas conseqüências nos corações e mentes de americanos e não-americanos já é um marco para a História.


Mas muito mais que isso, marca também o fim de uma década sombria. Se teve alguém que se tornou o símbolo dessa década não foi Osama Bin Laden, nem os Strokes, nem os desastres naturais, com suas tsunamis, Katrinas e terremotos devastadores. Não foi Tony Blair, nem o funk carioca, Michael Phelps, Usain Bolt, o ciclista multicampeão da Tour de France Lance Armstrong ou o irlandês maluco que tirou o Vanderlei Cordeiro da maratona nas olimpíadas de Atenas. Nem o presidente Lula ou a onda de esquerda que paira sobre a América Latina, com resultados bons em alguns lugares e em outros nem tanto.



Nem o emo.



Esta foi a década de George W. Bush. Desde a controversa derrota transformada em vitória no pleito americano de 2000, o que vimos foi um personagem conectado a diversos dos piores momentos da História mundial. Parecia que a cada ato ele queria provar algo. Não era somente deixar de assinar o protocolo de Kyoto, era fazer pouco caso do esforço concentrado de diversos países para um problema que afeta todo o planeta, a poluição. O que esperar de um sujeito que antes da política tinha uma empresa que trabalhava com petróleo?


Quando as torres gêmeas foram atacadas em setembro de 2001 e o mundo (ou pelo menos grande parte dele) se viu chocado e solidário ao sofrimento americano, e não somente americano, já que Nova York ultrapassa fronteiras, e os mortos dentro dos prédios vinham de vários países, Bush e sua equipe viu uma oportunidade de controlar a vida de seus cidadãos, suprimindo direitos e liberdades. Isso sem mencionar as teorias conspiratórias que questionam um ataque tão bem-sucedido acontecer em solo americano. Bin Laden, o líder da rede terrorista conhecida como Al-Qaeda, que executou o ataque, até hoje está solto, provavelmente em alguma montanha do Paquistão. Bush aproveitou para criar um eixo do mal, com países não-envolvidos no ataque, e entendeu como subserviência a cooperação de outros países em invadir o Afeganistão e acabar com o regime Talebã, que permitiu o crescimento da Al-Qaeda em seu território. E tentou utilizar dessa subserviência para seus próximos passos.


Abandonando completamente a diplomacia, Bush repetia que as nações deviam estar com a América ou contra ela, ameaçando quem não se aliasse a eles. E o 11 de setembro foi uma forma que eles arrumaram de invadir o Iraque, aquela enorme fonte de petróleo controlada por um ditador sanguinário que o pai de Bush não conseguiu destronar uma década e meia antes. O problema é que Bush precisava de um motivo forte para invadir outro país e os governos sabiam que Saddam Hussein, o tal ditador, não estava por trás do 11 de setembro. A solução foi inventar uma nova expressão para um novo século cada vez mais entrevado: é introduzida a nomenclatura Armas de Destruição em Massa nos discursos, nas conversas e no medo que ofegava quando esse monstro era mencionado.


Mesmo com todas as ameaças, os Estados Unidos vão começando a ficar cada vez mais solitários. A população de diversos países protestava contra mais uma guerra. A guerra começou e 5 anos depois Bush conseguiu a proeza de matar muito mais iraquianos do que Saddam Hussein havia conseguido em décadas de tirania. As Armas de Destruição em Massa no Iraque eram uma mentira. E enquanto isso a alma da sociedade americana foi criando fraturas e cicatrizes impossíveis de serem escondidas.


Veio o furacão Katrina e desnudou a realidade americana. Se Bush não pode ser acusado por desastres naturais, talvez devesse pesar sobre ele a demora em ajudar as vítimas e o que nos apresentaram: americanos saqueando lojas, se armando e instalando uma barbárie na cidade arrasada e inundada de Nova Orleans. E como se já não fosse tudo muito vergonhoso, foi sob seus cuidados que a economia americana entrou em colapso, causando uma crise financeira com efeitos globais. Suas ações arrogantes e desastradas em oito anos levaram a nação americana a um declínio inédito após anos e anos de supremacia.


Então sem dúvidas ele foi o personagem da primeira década. As coisas podem melhorar ou piorar daqui pra frente (e olha que a década nem foi tão ruim assim para o Brasil - bem que podia ser melhor, mais próximo dos nossos sonhos), mas saber que a partir de janeiro de 2009 não teremos mais essa figura tomando decisões que muitas vezes têm impacto no mundo todo é um alívio e uma esperança por um mundo melhor ou, pelo menos, um mundo sem Bush. Já é muita coisa.


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Ah, sim. Música.


Há dois anos atrás, Neil Young lançou um álbum espetacular chamado Living With War, onde no meio de barulhentas guitarras ele falava diretamente em pedir o impeachment do presidente Bush. Depois ele entrou em turnê com seus colegas Crosby, Stills e Nash e dessa turnê resultou no documentário CSNY: Deja Vu, dirigido por Neil sob um pseudônimo, que apesar de ter um formato "feito para TV" garante imagens impactantes, tanto dos shows quanto da guerra no Iraque. Eis um trecho da letra de uma das músicas, chamada "Lookin' For A Leader", lembrando, o disco foi lançado em 2006:

Someone walks among us
And I hope he hears the call
And maybe it's a woman
Or a black man after all

Yeah maybe it's Obama
But he thinks that he's too young
Maybe it's Colin Powell
To right what he's done wrong

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