Até o começo do mês era meio difícil classificar o que a Orquestra Voadora fazia como um show. Claro, a palavra é esta mesma, "show", mas o que eles faziam sempre passou longe de uma performance convencional, em cima de um palco.
Conhecida como um bloco de carnaval de inspirações fanfarronescas (não confundir com fanfarronices) que foi ingrediente fundamental para uma mudança positiva dos festejos momescos no Rio de Janeiro, a Orquestra Voadora também possui uma versão reduzida que volta e meia frequentava espaços fechados, mas que mantinha aquele jeito meio anárquico e sem hierarquia, com os músicos em pé de igualdade com o público, tocando no chão, como eu já tinha mostrado uma vez, na Fundição Progresso.
E agora, com o show de lançamento do primeiro disco, ficava a pergunta: o palco é um lance da Orquestra Voadora?
A preocupação com a cenografia do espetáculo era clara, com a inclusão de uma enorme escultura com ares de pássaro-versão-Transformers, feita com peças de sucata. Mas a surpresa aconteceu quanto alguns dos músicos da seção percurssiva utilizaram a escultura para dar o ritmo da música "Ferro-Velho", que também dá nome ao disco de estreia.
A transição para esse formato mais comum para um show foi interessante e não fez o grupo perder a sua essência, que é a de ser uma força musical sem ter um líder, um rosto que desponte entre os mais de dez músicos que compõem o núcleo da Orquestra. Dentro do caos que costumam promover há uma unidade indissolúvel, não importa quem está atacanado os instrumentos de sopro ou as baterias móveis ou fixas.
Dentro do numeroso contingente, ainda contaram com a participação da Abayomy Afrobeat Orquestra, que fez o show de abertura, para reverenciar Fela Kuti.
Com o repertório do disco somado com os temas que ficaram de fora do álbum mas são frequentes nos metais da Orquestra, além de algumas músicas inesperadas ("The Ocean" do Led Zeppelin, por exemplo), a festa já estava muito boa. Mas como velhos hábitos são difíceis de largar, lá foi a Orquestra Voadora pro meio da galera cantar mais um grande punhado de temas conhecidos, de Roberto Carlos a Raul Seixas, passando por Moacir Santos, Michael Jackson e Dick Dale, com direito até a roda de capoeira.
Velhos hábitos nem sempre devem deixar de acontecer, afinal.
Gravei 11 vídeos do show, que você pode assistir no player abaixo ou aqui:
Lista de algumas das músicas que gravei:
- Ferro-Velho
- A Praieira (Chico Science e Nação Zumbi)
- The Ocean (Led Zeppelin)
- Amor (Secos e Molhados)
- Know Your Enemy (Rage Against The Machine)
- Pra Viagem
- Todos Estão Surdos (Roberto Carlos)
- Rumba Tziganesca
- Canto de Xangô (Vinícius de Moraes e Baden Powell)
- Como Vovó já Dizia (Óculos Escuros) (Raul Seixas)
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