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quarta-feira, 17 de julho de 2013

Falando sobre protestos: a final da Copa das Confederações (30/06/2013)



Tentei falar sobre a manifestação do dia 20 de junho (a de 300 mil / um milhão de pessoas na Av. Presidente Vargas) aqui, mas não consegui. A cada instante pensava algo diferente, sobre toda aquela gente ali, com tantos propósitos, tantos objetivos e, ao mesmo tempo, sem objetivo nenhum...




Ver, na prática, o resultado de tantas teorias sobre um movimento que começou com grupos espalhados pelo país que lutaram por vários dias por uma causa específica, a diminuição do preço das tarifas das passagens de ônibus, objetivando uma finalidade maior, a gratuidade do transporte público, me geravam diversos sentimentos.




O movimento começou assim, e começamos a ver diversas teorias para que, de um grupo considerado inicialmente como baderneiro até o momento em que, em São Paulo, a imprensa foi massacrada pela polícia, e aí não teve jeito de esconder nas manchetes a truculência policial.




A imagem da repórter da Folha de São Paulo com a região do olho totalmente roxa, causada por uma bala de borracha, ganhou as manchetes e a comoção popular, “viralizou” e a partir daí as pessoas foram para as ruas e, aí é o mistério, a violência policial (e a desmilitarização das polícias estaduais) não foi o principal grito a ser bradado.




Os 20 centavos de aumento das passagens no Rio e SP tiveram rapidamente o mote de “não é só sobre 20 centavos” para “não é sobre 20 centavos” e a retirada do “só” é uma diferença enorme na frase.




Tentando resumir, entre causas legítimas e tentativas posteriores de grupos que não tem histórico de ir às ruas para lutar por certos direitos dos quais deveriam mesmo ter vergonha de lutar, e lobbies vitoriosos para causas específicas, há muito de positivo de pessoas reivindicando direitos, mas não há que se enganar que isso tudo é só um pequeno passo na gradativa conscientização de nossa sociedade, algo que ainda vai demorar muito para ficar em um nível aceitável. O número menor de pessoas se manifestando nos últimos dias mostra, na verdade, que aumentou o número de pessoas com desejos específicos e concretos de mudanças.




Ufa, que enrolação que estou fazendo... Em paralelo e, paradoxalmente, se misturando a tudo isso, a Copa das Confederações acontecia no Brasil e era nos estádios, antes dos jogos, que os protestos já pegavam fogo e, como não havia o ataque à imprensa por parte da polícia, não tinha a cobertura devida dos fatos. Presenciei isso no primeiro jogo no lugar onde fizeram outro estádio no lugar do Maracanã, entre Itália e Japão.




No último jogo, a grande final entre Brasil e Espanha, duas manifestações foram marcadas. A primeira, mais cedo ia da praça Saens Peña até a praça Afonso Pena, com uma passadinha pela São Francisco Xavier, bem perto do ex-Maracanã (ou MaracanãX).




Só cheguei no final dessa manifestação, já na Afonso Pena. Um clima de festa, já meio na dispersão. Bandeiras de várias causas sociais, do movimento LGBT (ainda escreve assim?) e um bandeirão enorme erguido em um dos prédios que cercam a praça, com os dizeres: UNFAIR PLAYERS – FIFA – POLICE – CABRAL – PAES.







Como esse é um blog sobre música, não dá pra deixar de mostrar um bloco compondo o ambiente, tocando “Rap da Felicidade”. Muito se questiona o posicionamento dos artistas sobre o nosso momento político atual, mas pouco se dá valor aos músicos de rua e de blocos carnavalescos, que tem comparecido aos protestos e “puxado” vários cantos e paródias contra nossos governantes.







Manifestação terminando, resolvi ir até o MaracanãX, ver como estava o “clima” por lá. Muito policiamento e ruas fechadas no trajeto, até chegar a um ponto onde os policiais só permitiam moradores do local e portadores do ingresso a seguir caminho. Ah, um grupo grande de crentes entregando folhetos pregando a palavra de Cristo também tinha livre trânsito.



Dei aquele “migué” e disse que um amigo estava com meu ingresso lá longe na estação de metrô. O policial foi falar com um superior e liberou minha passagem. Passando pelas fileiras de PMs, Choque, Força Nacional, soldados, etc, o ex-maraca era tomado pelas camisas amarelas da seleção e um público bem diferente do usual em partidas de futebol no Brasil.






Um fato curioso: pelo menos dois dos ajudantes em cadeiras elevadas e usando megafones eram estrangeiros, porém falando em português. Outra curiosidade era ver guardas municipais tirando fotos de turistas e sim, algo que foi bastante divulgado que era o deslumbramento turístico de torcedores que aparentavam ser de classe média com o temido Caveirão, veículo blindado das forças policiais do Rio de Janeiro.








Quem dera o Caveirão fosse aposentado e virasse peça de curiosidade para todos, ricos na final da Copa das Confederações e pobres em favelas, mas ainda não é o caso como foi possível ver na segunda manifestação que aconteceu à noite e compilei 50 vídeos que mostram grande parte do que aconteceu.



Não fui nessa segunda manifestação porque acho que faltava um pouco mais de organização e foco, mas são intoleráveis as desculpas esfarrapadas e reação desproporcional de um efetivo de mais de 10.000 agentes de segurança contra mil manifestantes que não foram dispersados e, sim, perseguidos, encurralados e aterrorizados pela polícia.




Enquanto outros governantes e congressistas tentam responder de alguma forma aos novos humores da população com medidas diversas, de decretos para desonerar impostos, promessas de auditoria em empresas de transportes, planos de mobilidade urbana, aprovações de leis e derrubadas de projetos que possam agradar os manifestantes, o governador do Rio de Janeiro dá de ombros quanto aos anseios da população e não faz absolutamente nada além de botar a polícia para bater e perseguir manifestantes, uma atitude que o faz levar uma pecha de “autoritário” e “ditador” a cada manifestação que acontece.



Nem seria preciso conversar com os movimentos que têm ido às ruas. Uma das soluções seria muito simples: permitir que um comitê popular investigue e tenha participação nas decisões sobre os gastos muito, muito excessivos com a Copa do Mundo. Decisões como demolir escola, pista de atletismo e centro de natação e um prédio de 200 anos onde índios moravam, sem consulta pública, sem consenso? Não, não pode(ria). O governador teria outras chances de mudar o curso do que se desenhava para ele, mas preferiu ir mais fundo no caminho errado, como veremos...

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