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sexta-feira, 18 de outubro de 2013
Cinco declarações estapafúrdias do governador Sérgio Cabral
(Foto: Mauro Pimentel/PUC-RIO)
De todo esse absurdo estado de exceção que temos vivido no Rio de Janeiro, um dos aspectos mais esdrúxulos desde muito antes de junho/2013 tem sido as falas do governador Sérgio Cabral. Na verdade, era algo que todos nós deveríamos ter prestado atenção há mais tempo, mas nunca é tarde para pelo menos comentar algumas delas e também prestarmos mais atenção no que dizem os péssimos candidatos ao cargo desse... desse... ano que vem.
1 - CULPANDO ORGANIZAÇÕES ESTRANGEIRAS EM MANIFESTAÇÕES
19 de julho de 2013: “Você tem, nesses atos de vandalismo, a presença de organizações internacionais cujas redes na internet permitem um nível de comunicação que não se tinha no passado”
Links da sandice:
Estado de São Paulo
Revista Fórum
Correio Braziliense
Em uma coletiva à imprensa, sem nada que tivesse levado o governador à essa "revelação", surgiu essa acusação gravíssima. E também ninguém mais questionou que organizações seriam essas, o que pretendiam, de onde vinham, nada. Também o governador nunca mais nos deu uma atualizações sobre essa grava crise internacional. Teria sido a KGB? O ETA? Zapatistas? O Facebook? Ou a AFP, que teve um fotógrafo agredido por um policial? Será que foram essas organizações internacionais que levaram o Amarildo? Ficou tudo por isso mesmo porque Sérgio Cabral sabe que tem licença para falar a besteira que quiser que a "grande" imprensa não o questiona nem o confronta.
Neste mesmo dia foi criado o infame CEIV - Comissão Especial de Investigação dos Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas, uma espécia de DOPS 2.0. Mas vamos continuar com o besteirol.
2 - USANDO OS FILHOS PARA PEDIR O FIM DOS PROTESTOS EM FRENTE À CASA DELE
29 de julho de 2013: “No Palácio Guanabara, manifestação é do jogo democrático. Estou aberto ao diálogo, às manifestações. Agora, na porta lá de casa, eu faço um apelo de coração, como pai” // "Tenho crianças pequenas, de 6 e 11 anos. É um apelo de paz, aqui tudo bem (protestar no palácio). É um apelo de pai, porque para meus filhos é difícil"
Links da sandice:
SRZD
Correio Braziliense
Terra
Com a ocupação em frente à rua onde mora, no Leblon, e as constantes manifestações onde o bairro sentiu pela primeira vez o cheirinho do gás lacrimogêneo jogado pela polícia, Cabral apelou para a família e suplicou que as manifestações acabassem por ali por conta de seus filhos pequenos. "Como pai", repetiu algumas vezes. A infelicidade da declaração se intensifica pelo fato de acontecer dias depois ao desaparecimento do ajudante de pedreiro Amarildo, agora considerado morto, deixando sua mulher viúva e seis filhos sem um pai. Qualquer um tem certeza que os pimpolhos do governador tem muito menos do que se preocupar do que os muitos filhos de vários "Amarildos" nas favelas. Sensibilidade zero com o que estava (e ainda está) acontecendo no rio.
3 - DEFENDENDO UPP COM O EXEMPLO DO AMARILDO, MORTO PELA POLÍCIA DA UPP
06 de outubro de 2013: "O caso Amarildo é um caso triste que demonstra que só pôde acontecer o que aconteceu, com investigação e punição, porque temos uma UPP na Rocinha.
Links da sandice:
Estado de São Paulo
Essa talvez é a pior de todas, por causa do cinismo e da completa falta de nexo, mais uma vez garantida pela completa falta de contestação por parte da imprensa. Uma declaração desastrosa dessas, se tivesse divulgação o suficiente, levarias os 10% de aprovação do governador para um número abaixo de zero. Acho que nem preciso explicar que a UPP foi a CAUSA de morte do Amarildo. Dezenas de policiais que estavam na noite em que o ajudante de pedreiro foi, segundo as investigações e o testemunho e um PM, torturado e morto, estão presos. Antes disso eles coagiram, subornaram e ameaçaram testemunhas, forjaram provas (o que parece ser um hábito da PMERJ) contra traficantes e o próprio Amarildo, difamaram sua família, enfim... É impossível elogiar o trabalho da UPP da Rocinha diante de um quadro desses. O caso Amarildo não passou impune como milhares de casos de abuso policial nas favelas por conta da PRESSÃO POPULAR. Os gritos de "Cabral bandido, cadê o Amarildo?" ecoaram por todo o país e a situação mostra a farsa de uma polícia que nada tem de pacificadora. É por isso que houve empenho da polícia civil e ministério público em investigar e elucidar o caso, senão ele seria mais um em uma estatística aterrorizante de desaparecidos. Dizer que o caso só foi investigado e teve punição por causa das UPPs é ofender a inteligência dos cidadãos do Estado do Rio de Janeiro.
4 - CHAMANDO OS BOMBEIROS EM GREVE DE VÂNDALOS (ANTES DA PALAVRA VIRAR MODA!)
04 de junho de 2011: "Não negocio com vândalos. Eles responderão administrativamente e criminalmente pelo que fizeram." // "São vândalos, irresponsáveis, que não irão de forma alguma prejudicar a imagem de uma instituição tão respeitada e querida pelo povo do Rio de Janeiro."
Links da sandice:
UOL
R7
Folha de São Paulo
A gente já deveria ter ficado alerta e se precavido desde 2011, quando os bombeiros entrarem em greve (ganhando R$ 950,00!) e foram duramente reprimidos pela Polícia Militar. O governador meio que estreou o uso hoje em dia excessivo da palavra "vândalo", mas não adiantou de nada. A luta da categoria sensibilizou a população que passou a apoiá-los e são aplaudidos sempre que passam em manifestações hoje em dia.
5 - O SILÊNCIO
Se é para falar besteira, é melhor ficar calado? Pode ser, e com os quatro exemplos acima isso parece bem claro, mas um governador tem que ter a responsabilidade de responder as dúvidas que a sociedade tem sobre sua conduta no cargo para o qual foi eleito, sem ser de forma evasiva. Qual foi a declaração efetiva que ele deu sobre seus passeios semanais de helicóptero do Estado com a família para sua casa de praia em Mangaratiba? E sobre seu deslocamento diário de helicóptero do Estado (nosso dinheiro) para o trabalho em um trajeto que, de carro, não levaria 15 minutos? Porque esse helicóptero não foi comprado por meio de licitação? Porque as babás dos filhos iam e voltavam de Mangaratiba em voos separados? É verdade que o helicóptero fez o trajeto Mangaratiba-Rio-Mangaratiba por causa de um vestido que a primeira-dama esqueceu em casa? Não existe no mínimo um conflito de interesses quando o escritório de advocacia de sua esposa representa alguns dos maiores concessionários de serviço público do Estado, como é o caso da Supervia e Metrô Rio?
Ótimo exemplo: no caso dos helicópteros ele chegou a fazer um monte de declarações estapafúrdias. Aí, na hora de ter que dar uma resposta efetiva... "Perguntado se estaria disposto a abrir mão de parte da frota, Cabral virou as costas e deixou a rápida entrevista sem responder a pergunta"
Enfim, são essas e muitas outras perguntas para as quais o governador não deu uma resposta que não fosse evasiva ou por meio de nota (ou nota$?) à imprensa. Para algumas dessas perguntas, nada. Apenas o silêncio de quem tem a certeza da impunidade.
Outras besteiras ditas pelo governador:
"Posso garantir ao Rio que nunca tive qualquer decisão pública baseada no relacionamento pessoal que tenho"
"Quem aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?"
"Esses vagabundos (passageiros no trem que protestavam) tem que ser identificados, presos e punidos"
Professores em greve protestando em 2011? "Bando de vagabundos"
Como bônus, uma entrevista do Lindbergh Farias (atualmente com uma dúzia de inquéritos por conta de sua passagem na prefeitura de Nova Iguaçu) em 2011 falando sobre sua preocupação com o modo de proceder do governador contra manifestantes. Repito: em 2011.
"UOL Notícias: O senhor é sempre lembrado como líder do movimento dos caras pintadas. Hoje em dia as condições para fazer manifestações são melhores do que no começo da década de 90?
Farias: A gente tem um período de lutas democráticas no país que vem depois da [lei de] anistia, na década de 80, as Diretas Já. É um período de grandes manifestações e muita liberdade. Teve um caso agora em uma manifestação contra o [presidente dos EUA, Barack] Obama em que houve um coquetel molotov contra a embaixada dos Estados Unidos, no Rio. Prenderam indiscriminadamente várias pessoas. Eu liguei para o governador Cabral por causa deste caso porque eu fiz tantas passeatas... Claro que não joguei coquetel molotov, nem isso está correto, mas [não pode] sair prendendo todo mundo. E fizeram algo que nunca houve na história recente do país: rasparam o cabelo de 21 militantes estudantes universitários, prenderam no presídio e botaram um garoto de menos de 18 anos na Febem. Na minha época, no governo Fernando Henrique Cardoso, eu era líder estudantil e era deputado, participei de movimentação contra as privatizações, entramos na bolsa de valores, nós invadimos ministérios. Eu, esse que vos fala, que hoje é senador, se tivesse essa prática [de prender e raspar o cabelo] na época do governo Fernando Henrique... [bate três vezes na mesa]. Tem algumas coisas que não dá. Teve exagero. Eu me vi ali na garotada. Eu estou com 41 anos, me vi 20 anos atrás."
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