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domingo, 6 de outubro de 2013

Forja do flagrante: a mudança de opinião da Globo e do seu "especialista em segurança" em poucas horas




Como qualquer um que acompanha as manifestações bem sabe, uma das instituições mais criticada nas manifestações desde junho (e desde muito tempo, na verdade) é a Globo. Já disse aqui que motivos existem de sobra para essas críticas, mas que muitos profissionais dentro das "Organizações" são excelentes e, com algum esforço, conseguem fazer jornalismo de verdade lá dentro.


Ótimo exemplo disso foi a divulgação, no dia 02 de outubro, do vídeo onde um policial forja flagrante durante protesto no Centro do Rio no dia 30 de setembro. Este é exatamente o título da vídeo-matéria (que não tem o nome do autor do vídeo, mas fazendo uma pequena pesquisa deduzo que seja do repórter Lauro Sobral), não é "teria forjado" ou "suposto flagrante" como costumamos ver em outras reportagens, até porque as imagens do vídeo não deixam dúvidas.


Sabe-se lá como se chegou à decisão de publicar o vídeo na íntegra na edição online do jornal, mas foi um grande ato jornalístico e uma demonstração da utilidade que a "grande imprensa" pode ter quando faz o seu trabalho.


Assim foi com o Globo e assim foi com a Globo na manhã do dia seguinte, através do telejornal Bom Dia Rio, onde as afirmações foram mantidas e as imagens mostradas com som, repetidas vezes.

O apresentador Flávio Fachel é enfático ao mostrar a reportagem, embora logo no começo diga que são os manifestantes que acusam de forjar o flagrante, quando na verdade a acusação também partiu d'O Globo. Logo depois aparece o "especialista em segurança" Rodrigo Pimentel para comentar o episódio. Alguns trechos do que eles dizem:


Flávio Fachel:
"Manifestantes acusam os PMs de forjar o flagrante" / "São imagens preocupantes e que devem repercutir em todos os telejornais durante o dia" / "Dá pra ouvir o policial dizer que ele está com três morteiros".

Rodrigo Pimentel:

"Na imagem está claro que ele diz pro menor detido que ele está com três morteiros" / "A revista pessoal é sempre legal se baseada em fundada suspeita. Esses jovens depois da manifestação estavam andando, sem máscara, nenhuma atitude suspeita, plenamente identificados".

Flávio Fachel:

"Claramente ele joga o morteiro na frente do garoto, aí abre a mochila e pronto".

Rodrigo Pimentel:

"Alguns segundos depois o major Pinto afirma que ele estava portando três morteiros".




Poucas horas depois, no RJTV primeira edição, o mesmo Rodrigo Pimentel resolve encampar uma versão que a PM repassou a ele sobre o que aconteceu. Mas não é só o "Capitão Nascimento" que tem uma certa mudança de opinião. Não vemos mais em nenhum momento no telejornal a afirmação bancada pelo Globo de papel (mesmo que virtual) de que houve forja de flagrante. A diferença de linguagem se estende à ausência de som quando as imagens são mostradas pela primeira vez e assim não ouvimos o major Pinto gritar "aaahhh" um segundo depois que o tenente Andrade joga os morteiros logo abaixo da mochila do garoto, mediante um contato visual entre os dois policiais antes disso acontecer.


Alguns trechos do diálogo entre a apresentadora Mariana Gross e o capitão nasc...Rodrigo Pimentel.

Mariana Gross:

"Nesse momento o morteiro cai ali no chão" / "O momento em que o PM coloca o morteiro no chão e o jovem é acusado de estar com explosivo"

Rodrigo Pimentel:

Diz que viu as imagens exaustivamente e conversou com o relações públicas da PM que deu uma versão.

"Segundo o coronel Cláudio, o tenente (Andrade) joga o morteiro no chão para que ele possa, é, é, é..."

A apresentadora precisa socorrer: "para que ele possa olhar a mochila".

Rodrigo Pimentel:

"Para que ele possa olhar a mochila, para que ele possa fazer a revista. Nisso o major Pinto entende que esse morteiro pertencia a esse jovem".

Mariana Gross:

"O que tava no chão".

Rodrigo Pimentel:

"É, e dá voz de prisão".


Ele frisa que o tenente não deu voz de prisão e "não forjou o flagrante". "No entanto, o Major Pinto, ele acusa o jovem e está claro que ele (o jovem) não estava portando (os morteiros)".

Depois repete sobre a prisão ser arbitrária.

Mariana Gross então faz uma pergunta dentro do script (ou vocês acham que alguma coisa ali é improvisada?), já que é o que qualquer pessoa com dois neurônios faria:

"Porque o tenente Andrade não informou ali, na hora, para o Major Pinto que o morteiro não era do menino?"

Rodrigo Pimentel:

"Olha, eu também não entendo".




Embora tenham mantido a opinião sobre a arbitrariedade da prisão do garoto de 15 anos, o telejornal da hora do almoço acabara de mostrar tibieza no principal objeto da matéria do jornal online. O tal especialista em segurança, que pela manhã mostrava tanta indignação com o assunto, na hora do almoço ignora que o major só poderia dar a voz de prisão porque o tenente jogou os morteiros aos pés do garoto. Ignora também o contato visual que o tenente estabeleceu com o major, que aparece um segundo depois no vídeo.



A questão aqui é bem simples. A imprensa merece elogios quando busca a verdade dos fatos e não nos dá a impressão que age ou deixa de agir motivadas por interesses comerciais. E merece críticas quando faz o contrário disso. Infelizmente, o que foi visto na hora do almoço é o padrão do que costumamos ver. Não fosse assim, não haveria tantas críticas à cobertura jornalística.


A esperança é que os bons profissionais continuem lutando dentro de todo esse sistema. Ontem, dia 05 de outubro, o vídeo que teve tanta popularidade na internet não teve mais destaque ou sequer menção na capa da versão online d'O Globo ou mesmo na editoria Rio dentro do portal. O que mostra que a luta vai continuar sendo muito dura...


Aqui os links para as reportagens dos dois telejornais. Reparem na diferença dos títulos:


Bom Dia Rio
PM joga rojões e forja flagrante em ato no Rio




RJTV
Corregedoria da PM abre sindicância para apurar se flagrante foi forjado por policial

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