Nós tropix mas não cai
Dizem que uma longa fila se espalhou pelos Arcos da Lapa naquela noite. Dentro do Circo Voador, enquanto Dr. Swing e o DJ Eppinghaus animavam a pista, dava gosto de ver a casa enchendo cada vez mais para prestigiar o show de uma artista da nova geração.
A noite começou quente com a introdução, alucinada, como sempre, do mestre de cerimônias Lencinho, que lamentou o extermínio do Ministério da Cultura e parabenizou os estudantes e as ocupações escolares que acontecem pela cidade, nos aconselhando a ocupar e desobedecer, dica importantíssima nestes tempos tão difíceis em que estamos vivendo.
Aliás, antes da belíssima Amor Pixelado, Céu também se pronunciou, repetindo o conselho de Lencinho e afirmando que "cultura é necessária, cultura é vida" para, logo em seguida, ser engolida pelo mantra "Fora Temer" o que faz a banda segurar um pouco a introdução e a cantora aproveitar para não-dedicar a música ao interino golpista.
Tropix já vem sendo considerado por muitos (eu, inclusive) como o seu melhor disco. Nele, Céu deixou um pouco de lado a brasilidade e levada dub que marcaram seus trabalhos anteriores investindo mais nos beats eletrônicos, como se quisesse tropicalizar e atualizar a disco music. Perfume do Invisível, o primeiro single, já dava a pista, com sua sua estética retrô futurista.
No show de lançamento do quinto álbum, ela cantou doze das onze músicas do cd, deixando apenas de fora a fofinha A Menina e o Monstro. Aqui no Rio, a cantora foi acompanhada por Davi Bovée Swan (guitarra), Lucas Martins (baixo), João Leão (teclado) e Thomas Harres (bateria), este último, substituindo Pupillo que tem feito os shows desta turnê.
A participação da plateia foi tão intensa que Céu não parava de comentar. Por exemplo, entre as músicas Rapsódia Brasilis e Perfume do Invisível, ela, aparentemente, perplexa, solta um "Meu Deus, o que que é isso?". Nova demonstração de surpresa surge em Varanda Suspensa: "Vocês sabem as letras!". Em Contravento, elogios ao público que, aliás, fez o backing vocal direitinho em Arrastar-te-ei e caprichou nas palmas sincronizadas em Minhas Bics.
Na dobradinha Etílica / Interlúdio, destaque para guitarra e bateria; a música começa numa pegada que lembra até New Order para depois emendar em pura psicodelia na parte final, muito mais delirante que na versão em estúdio. Das antigas, a que mais me surpreendeu foi Cangote que, com sua levada, sei lá, meio disco punk, me fez perguntar "Cadê a vagarosa que estava ali?". Em Camadas, Céu fala sobre a parceria com Fernando Dinho Almeida e mais elogios, desta vez, ao Boogarins.
E, claro, foi lindo ver alguém gritando Fellini no começo da música, da cult banda paulistana, que a cantora regravou. No final do show, antes do bis, em A Nave Vai, Céu finalmente se declara e diz que estava ansiosa pra lançar o disco ali e que sente-se em casa no Circo Voador. A percussão precisa de Thomas marca Sangria e o início do bis, onde Céu resgata alguns clássicos da sua discografia para finalizar essa noite tropixelizada.
Vejam 15 vídeos que gravei:
Ou clique aqui, se preferir.
Lista de Músicas:
- Rapsódia Brasilis / Perfume do Invisível (abertura do show)
- Arrastar-te-ei
- Contravento
- Amor Pixelado (falando sobre a extinção do Ministério da Cultura)
- Etílica / Interlúdio
- Cangote
- Minhas Bics
- Varanda Suspensa
- Camadas
- Chico Buarque Song
- A Nave Vai (apresentação da banda)
- Sangria
- Lenda / Malemolência
- Sonâmbulo (encerramento do show)
Momento "Retrospectiva Céu". Lá se vão, pelo menos, dez anos vendo a cantora ao vivo o que já me rendeu inúmeros vídeos de sua carreira (em apenas três shows não fiz nenhum registro: 2006 - ao lado de Marcos Valle e Bossacucanova - no CCBB, em 2007 na Caixa Cultural e em 2013 no Bourbon Festival em Paraty). Outros momentos, como shows, participações e até discotecagem, vocês podem checar aí embaixo.
Maio de 2011 no Arpoador
Setembro de 2012 na Fundição Progresso
Abril de 2013 no Oi Futuro Ipanema (com Silva e Kassin)
Novembro de 2013 no Circo Voador
Fevereiro de 2014 no tradicional Baile Pré-Carnaval da Orquestra Imperial no Circo Voador
Outubro de 2014 no cantando Bob Marley em Catch a Fire no Circo Voador
Dezembro de 2014 no SESC Ginástico
Agosto de 2015 participando do acachapante show do Letuce no Circo Voador
Setembro de 2015 divindo a noite com B.Negão & Seletores de Frequência no Circo Voador
Maio de 2016 atacando de DJ ao lado do João Brasil na loja da Farm
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