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sábado, 26 de dezembro de 2009

200 Discos Nacionais dos Anos 00 - 005 a 001

E finalmente chegamos aos, na minha opinião, cinco melhores discos da década.


005 - Mula Manca e a Fabulosa Figura - Amor e Pastel (2007)


Mula Manca e a Fabulosa Figura faz com seu Amor e Pastel uma desconstrução de diversas vertentes da música brasileira. Desconstrói também relacionamentos, encontros e desencontros, em letras que retratam o amargor, quando canta "que malandragem você me deixar / Pra depois voltar com a cara lisa" em "Se Lavô, Lavú" ou "outro par me convidou / disse: Flor, tu vai gostar" em "Outro Par".


Quatro garotos de Recife, que devem ter ouvido muito Mundo Livre S/A e Cordel do Fogo Encantado e, melhor ainda, aproveitaram deles somente as boas idéias. As músicas possuem um aspecto de menos é mais, onde você ouve as teclas espreguiçadas do piano de Castor combinando com o pandeiro de Cupim, para o sambinha da já citada "Se Lavô, Lavú".


Em outro momento a guitarra de Dom Angelo solta frases pelo ar, enquanto um insistente órgão percorre de forma quase brega toda a duração de "Dinheiro". A voz de Tibério aceita até que se invente frases em francês e em inglês ou que se cante "dois coração" em "Galega". Castor, compositor de boa parte das músicas, tem sua chance de soltar a voz na sonhadora "Fórmula 1" e encerra os trabalhos com menos de um minuto de curta declaração em "Arrepio".


Instrumentações esparsas que privilegiam as melodias de cada instrumento. E as letras transitando entre a beleza de uma frase para chegar na galhofa do verso seguinte em canções que acabam antes da hora e por isso mesmo mesmo na hora certa de ouví-las de novo. Fundamental.



004 - Superguidis - Superguidis (2006)


Em janeiro de 2007 o site da Tramavirtual elegia os dez melhores discos nacionais do ano anterior e o primeiro colocado era o disco de estréia do Superguidis. Havia também o Supercordas na lista e haviam outros grupos "super" por aí, o que talvez tenha criado uma certa confusão até que eu conseguisse ouvir o super que era o primeiro lugar na lista. Ouvi sem expectativas, sem saber como era, quais as influências. Talvez o impacto tenha sido maior por conta disso.


As guitarras de introdução de "O Raio Que O Parta" já mostram que o som que eles tiram não é igual a NADA feito no Brasil. E a letra? O cara tá te mandando ir pro raio que o parta, pro diabo que te carregue. Logo depois vem "Malevolosidade", que tem todo jeito de hino (no sentido "cantar junto" da coisa), com poucas frases, onde cada sílaba parece ter uma importância enorme. Reparem que quando o vocalista/guitarrista Andrio Maquenzi canta "um objeto onde você possa despejar" ele praticamente cospe a primeira sílaba de "possa". Não é todo dia que se ouve alguém cantando assim.


Vai ficando claro com o passar das faixas que ali está um som vindo dos anos 90, com diálogos entre as duas guitarras e base agitada, talvez algo de Foo Fighters, Superchunk, muito de Guided By Voices, mas em "O Banana" uma influência fica clara: Pavement. A forma como as frases vão saindo ("um complé-é-to bun-dão") lembram o jeito de Stephen Malkmus cantar, a guitarra sujona que parece intrusa mas segundos depois já é amiga da canção, tudo nessa faixa faz recordar o clima do clássico disco Slanted & Enchanted.


Fiz esse texto acima, com algumas modificações, quando o Superguidis tocou no Rio de Janeiro no Humaitá Pra Peixe, em 2008. Praticamente dois anos se passaram desde então e não tenho nada mais a escrever sobre esse disco. Ouça "Bolo de Casamento", "Spiral Arco-Íris", pelo amor de Deus, ouça "O Véio Máximo" e grite junto "Porque cargas d'água os cabelos que cresciam na cabeça agora crescem na orelha?!", porra Lucas Pocamacha, que foda. É, eu poderia escrever um pouco mais, mas espero sinceramente que você já tenha entendido a importância desse disco.




003 - Los Hermanos - Ventura (2003)


Quando chegou em seu terceiro disco, Los Hermanos já tinha feito um sucesso nacional que tocou até em micaretas e bandas de forró, já tinha feito um rebú abafado pelo silêncio imposto pelo jabá alheio (um anti-jabá, talvez?) com o segundo disco e, retornando do ponto de princípio, reconstruindo o seu público, chegou em Ventura cercado de expectativas.


Para você ter uma idéia do quanto ele era aguardado por uma parcela de pessoas que se interessam por música, Ventura foi o primeiro disco nacional a "vazar" na internet, em versões que ainda não haviam sido finalizadas no estúdio. Eu não consigo lembrar de outra banda brasileira onde isso tenha acontecido (sem a permissão do artista) até hoje.


É difícil resumir um disco como esse, mas se você quiser, em poucas linhas podemos explicar através do comportamento dos compositores/guitarristas/vocalistas da banda: o Marcelo Camelo emulando Chico Buarque e Amarante criando uma identidade. Isso de forma nenhuma é um desmerecimento ao trabalho de Camelo. Há um pouco de Belchior ali, Ivan Lins acolá e até o rock aparece. Mas quando você abre com uma música ("Samba a Dois") com claras referências a "Tem Mais Samba" de Chico Buarque, fica exposto quem está te norteando.


E o que dizer sobre compor a partir do ponto de vista feminino, outra característica de muitas letras de Chico, que Camelo executa com "A Outra"? Mas influências e homenagens à parte, as construções de pequenas histórias carregadas dos mais diversos tipos de sentimentos só podem ser feitas por quem aprendeu a dominar essa arte como poucos dominaram nos últimos dez anos.


Um desses poucos é justamente o cara ao lado de Camelo nos shows. Rodrigo Amarante faz a música mais bonita do disco, "Último Romance", uma declaração sobre um amor definitivo, que é último por ser para sempre. E ainda conta boas histórias também, como pode ser visto em "Do Sétimo Andar" e na preguiça animada de "Deixa O Verão". O baterista Barba e o tecladista Bruno Medina têm a missão de, junto com o produtor Kassin, fazer essas pequenas histórias de Camelo e Amarante tomarem rumos musicais que ficam guardados no coração de quem se apaixona por Ventura.




002 - Violins - Tribunal Surdo (2007)


Se você pensar que uma banda que vem de um disco que fala sobre formas de infidelidade (Grandes Infiéis, de 2005) consegue se afundar ainda mais na obscuridade que nos permeia, pode considerar que o disco a seguir é um convite ao suicídio. Talvez sim, mas tudo depende de como as coisas são ditas.


Tribunal Surdo abre uma Caixa de Pandora em formato de esgoto humano. O que há de vil e de baixo pode ser encontrado aqui em letras que espantam pela naturalidade como essas coisas vão sendo descritas. Materialistas sem alma, batedores de carteira, neonazistas, canalhas, estupradores, assassinos, soldados sem causa, loucos e delinquentes de toda espécie, tudo é jogado no meio da sua cara como se fosse um soco desferido pela voz de Beto Cupertino.


Curioso que, mesmo perdendo um guitarrista em relação ao disco anterior, este seja o disco mais barulhento do Violins até hoje. Todo o lirismo existente em discos anteriores ainda existe aqui, mas a maior parte do tempo está afogado no meio de feedback e muita, mas muita distorção. A sujeira musical é como se fosse um espelho para as letras fortes de cada canção.


Claro que, considerando que este é o meu segundo disco preferido da década, não há uma única música que eu considere mediana. Mas "Grupo de Extermínio de Aberrações" salta aos olhos pela temática, enterrando vários dedos na ferida da discriminação e racismo velados com uma letra polêmica: "E eu garanto que seus filhos agradecem por crescer / sem ter que conviver com bichas e michês / e pretos na TV, discípulos de Che / putas com HIV". E o final, com "Manicômio", quando com um sussurro, Beto pede "tenha cuidado", é quase um aviso tardio para quem acabou de ouvir um disco que desmonta, emociona e inspira.




001 - Los Hermanos - Bloco do Eu Sozinho (2001)


Foi aqui que tudo mudou. Para Los Hermanos e para a música brasileira. Grande parte dos outros 199 discos que foram listados aqui sofreram alguma influência direta ou indireta do Bloco do Eu Sozinho. Mesmo artistas que influenciaram Los Hermanos ou contemporâneos que surgiram na mesma época não estiveram imunes à importância que este disco teve na música brasileira.


Podemos citar aí Mombojó, Mula Manca e a Fabulosa Figura, Violins, +2, Frank Jorge, Vanguart, Carne de Segunda, Romulo Fróes, Cidadão Instigado, Móveis Coloniais de Acaju, Pullovers, Moptop, Wado, China, Ludov, Supercordas, Ronei Jorge e os Ladrões de Bicicleta, Céu, Orquestra Imperial (da qual Amarante faz parte), Hurtmold, Wonkavision, Momo, Luisa Mandou Um Beijo, Lucas Santtana, até mesmo medalhões como Paralamas do Sucesso, Erasmo Carlos e Caetano Veloso, todos esses e um pouco mais, que chegaram antes ou depois são, em maior ou menor escala, devedores da quebra de paradigmas que esse disco representou.


E porque? Los Hermanos vinha de um primeiro disco que teve um grande hit, "Anna Julia". Tocou até saturar, e uma banda que na época mais underground era conhecida pela animada mistura de hardcore com instrumentos pouco comuns no gênero (sax, teclado, tamborim) e temática romântica do estilo Noel Rosa, tinha um iê iê iê como seu maior sucesso. Então eles resolvem se reinventar no disco seguinte e enfrentar uma gravadora que muito provavelmente queria 14 novas "Anna Julias". Essas histórias estão ligadas e fazem parte do disco tanto quanto as músicas contidas nele.


Mas claro que sem as músicas que foram criadas pelo grupo, essa provavelmente seria uma história sem final feliz. O disco tem ares de - desculpe a heresia - London Calling, álbum duplo do The Clash, onde o grupo punk inglês conseguia colocar a sua cara nos mais diversos estilos. Em Bloco... Los Hermanos vai de ska, samba, hardcore, Weezer, dixieland, polca, Noel Rosa, tudo amarrado pela doce melancolia que o grupo apresenta nas letras, onde os elementos do carnaval aparecem dentro de uma quarta-feira de cinzas.


Amarante, mesmo sendo o compositor menos assíduo da dupla, contribui - da mesma forma que faria em Ventura - com a melhor canção do disco, "Sentimental". Mas na boa, é um disco pra ouvir inteiro, de "Todo Carnaval Tem Seu Fim" a "Adeus Você". Arrisco dizer que Bloco do Eu Sozinho é um disco que, em 2011, vai ter reportagens e comentários sobre os 10 anos passados de seu lançamento. Não há medida melhor para o efeito que ele causou.

7 comentários:

Where I'm Anymore disse...

Eu até discordo de algumas posições, mas a lista dá uma panoramica nos grandes nomes da década. Gostei em particular da segunda posição, não apenas porque Los Hermanos era algo óbvio, mas porque talvez o grande nome da década seja Beto Cupertino. Justo. Mas agora fica uma dúvida: é impressão minha ou o disco de estréia do Nervoso ficou de fora?

Abraço e valeu pela iniciativa!

Otaner disse...

Realmente, Beto Cupertino é um dos grandes compositores surgido nos últimos dez anos. Não gosto muito da produção do disco do Nervoso, mas adoro algumas das músicas. Uma delas entra no top 100 de músicas que vem a seguir.

Obrigado e abraço!

Diego Albuquerque disse...

Tu nao vai comentar as 100 musicas tambem nao ne?! :P

hahahahahahahaha

Cara, beto é um dos monstrinhos da decada musicalmente falando realmente.

Eu ainda acho o grande infieis melhor que o tribunal surdo, e nao acho que seja apenas sobre infidelidade, mas o TS ai é muito bem representado.

Massa a lista!

Matheus Pinheiro disse...

Fechou com chave de ouro, nada a acrescentar.

César M. disse...

Violins é uma das maiores piadas do pop nacional... só é batido pelo horroso Terminal Guadalupe...

Já o primeiro lugar não poderia ser de outro álbum...

Otaner disse...

Nem rola de comentar as músicas mesmo.

Valeu, pessoal!

Anônimo disse...

Achei legal sua iniciativa, entrei mais pra ver se achava link pra um disco que to procurando (katia Dotto 2003).

Mas a idéia, como voce disse não era postar links e sim sua lista. Iidependente de gosto sua lista só veio provar uma coisa latente, a primeira década desse século foi péssima para a musica nacional.

Vivemos de artistas requentados do "mangue beat" fazendo carreira solo ou novas bandas, alguma ou outra coisa legal (não pra ignorar a qualidade de violins ou los hermanos), mas a verdade é, a década foi péssima, espero que melhore, mas ta dificil rs.

Tanto é que foi ruim, que Los Hermanos, na sua lista, tem dois discos entre os 10 primeiros. Se fizer uma lista da década de 90, 80, não vai ter uma banda emplacando dois discos entres os 10 melhores.


Mas legal seu blog, parabéns pelo trabalho.


XXXRONINXXX