Após mais de 20 anos, a Plebe Rude continua rachando o concreto!
Antes de começar, vamos deixar algo bem claro: a Plebe Rude é uma das minhas bandas nacionais preferidas dos 80´s. Sendo assim, não me cobrem isenção. Alguém pode alegar que aquela não era a Plebe verdadeira, afinal, o único membro original no palco era Phillipe Seabra; o baixista e co-fundador, André X, estava viajando e não pôde comparecer ao show, sendo substituído temporariamente pelo discreto e competente Fred Ribeiro.
Voltando um pouco no tempo, em 2011, ali mesmo, no Circo Voador, lembro do show do Peter Hook tocando o Unknown Pleasures na íntegra. Ele também era o único membro original do Joy Division no palco e, nem por isso, o show deixou de ser emocionante e/ou vibrante.
E ainda temos o “fator Clemente”. O vocalista/guitarrista do Inocentes (uma das primeiras bandas punk do Brasil, até hoje na ativa) foi efetivado na Plebe em 2003 e sua entrada deu um novo gás renovando o fôlego da banda de Brasília. O Inocentes nunca foi tão popular ou vendeu tanto quanto a Plebe mas é uma das bandas brasileiras mais respeitadas pelos fãs. Clemente ainda mantém a energia e o vigor punk do inicio de carreira e isso combinou perfeitamente com a postura da Plebe Rude.
A divulgação do show enfatizava que a banda tocaria o ep O Concreto Já Rachou (o debut da banda, lançado em 1985, cujas setes faixas são os maiores sucesso da Plebe). Nem precisavam alertar, a Plebe sempre toca esse disco em seus shows, afinal, todas as faixas são clássicos.
A novidade (no caso desta moda onde as bandas executam, ao vivo, álbuns importantes de sua discografia) é que a Plebe não seguiu a ordem do disco, intercalando as músicas com o setlist de atual tour, o que foi bem melhor: os grandes clássicos espalhados com alguns lados B e/ou outras que só mesmo os Plebeus (como são chamados, carinhosamente, os fãs da banda) conheciam.
Dizem por aí que foi o melhor show carioca da Plebe no Circo desde a década de 80. Se isso for verdade, o público tem grande responsabilidade, pois interagiu de todas as formas possíveis com os músicos. É possível reparar o sorriso de Phillipe ao ouvir o coro da plateia em “Censura”, “Brasília” ou “Este Ano”. Os mosh e as rodas de pogo foram uma constante ("Johnny vai a Guerra", "Até Quando Esperar"). Phillipe, um gentleman, chega a pedir para as meninas se afastarem e se protegerem ("Sexo e Karatê").
Aliás, destaque para a quantidade considerável de mosh feminino. Em “Johnny vai à Guerra” os integrantes até se surpreendem com uma menina que sobe ao palco e, antes de pular, dá um beijo em cada um, até no baterista. Clemente comenta que antigamente, só os homens subiam para bater neles e, com o passar do tempo, as coisas mudaram pra melhor. Foi a deixa pra várias outras meninas subirem e sapecarem beijocas nas bochechas dos músicos!
As homenagens foram muitas... Um minuto de silêncio para Redson (vocalista do Cólera, outro importante grupo punk dos 80´s, que morreu em 2011). Bem, silêncio não, porque não combina com a Plebe e, em menos de cinco segundos, a banda faz uma barulheira danada, do jeito que o homenageado gostaria.
O centenário de Nelson Rodrigues, comemorado neste ano, foi lembrado em “Nunca Fomos Tão Brasileiros”. Uma referência (ou piada) ao U2 na introdução de “Luzes” (cover do Escola de Escândalos). Até o recém falecido Celso Blues Boy, recordista em shows no Circo Voador (104, diz a lenda), foi lembrado com o hino “Aumenta que isso aí é Rock and Roll!”.
E, assim como as homenagens, sobraram farpas também: para aquela MPB chata que assola a Lapa, para o Brasil que não mudou nada quando a maioria daquelas músicas de protesto foram feitas (há quase 30 anos atrás), para a campanha eleitoral sempre com as mesmas caras etc. Quando rolou uma espécie de free jazz chato ao fim de uma música, Phillipe interrompe e diz “O que é isso? Vocês estão pensando que estão no Mistura Fina? No People” (extintas casas noturnas cariocas).
Outro grande momento aconteceu durante a música “Minha Renda”. A música é introduzida por uma vinheta do saudoso Chacrinha anunciando a banda em seu programa. A vinheta volta a aparecer no meio da música quando Phillipe manda um “iô iô iô” e a plateia repete. O cantor constata que a banda nunca mais terá uma música na rádio porque não faz música com iô iô iô, afinal o que faz sucesso hoje em dia é “As Minas Pira”. Durante o trecho, “... tem que ter refrão, sim!”, Phillipe só sossega quando o público diz “Não!”.
Em “Proteção”, uma pegadinha do Mallandro: Phillipe encerra o show logo após a introdução, ao violão, e as luzes se apagam. Quando alguns pensam que o show acabou, a banda volta e dos melhores momentos do show: Phillipe (após pedir para todos se comportarem) desce no meio da multidão para cantar a música. Segue pelo meio do Circo Voador e, mesmo com todo mundo em volta o agarrando e puxando o microfone, faz um medley matador com “Selvagem?” (Paralamas do Sucesso), consegue voltar ao palco e emenda com “Geração Coca-Cola” (Legião Urbana), a já comentada homenagem a Celso Blues Boy e “Ódio às TVs” (do Coquetel Molotov).
A voz pode não ser a mesma mas a guitarra marcante e a mesma postura ideológica do começo se mantiveram lá: Phillipe estava em uma noite inspirada, talvez por ter sido pai recentemente (acontecimento que Clemente fez questão de ressaltar) ou por sentir a resposta calorosa da plateia e, claro, por estar no palco do Circo (algo que deve mexer muito com qualquer artista).
Enfim, festa ploc punk, nostalgia, saudosismo ou o que quer que seja, foi uma noite inesquecível: para a Plebe Rude, para os plebeus, para o rock nacional e para o Circo Voador.
Vejam 15 vídeos que gravei do show:
Ou clique aqui!
Lista de músicas:
- Plebiscito
- O Que Se Faz
- Censura
- Brasília
- Minha Renda
- Este Ano
- Luzes
- Mentiras Por Enquanto
- A Ida
- Johnny Vai À Guerra / Nunca Fomos Tão Brasileiros
- Códigos
- Sexo e Karatê
- Proteção / Selvagem / Geração Coca-Cola / Ódio às TVs
- Pânico Em SP
- Até Quando Esperar
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