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terça-feira, 31 de dezembro de 2013

Momentos 2013: Um milhão de pessoas na Avenida Presidente Vargas e o "soluço" do Brasil

20 de junho de 2013






Devo ter em algum lugar um rascunho de uma tentativa de texto sobre esse dia histórico para o Brasil. Histórico para o bem ou para o mal, mas histórico. O momento máximo das manifestações que começaram em junho pelo Brasil (no Rio, antes; em Porto Alegre, bem antes) foi bem diferente do que a maioria das pessoas poderia esperar, embora olhando hoje pareça tão previsível.




Como controlar uma multidão de um milhão de pessoas? Os (bem mais de) cem mil que estiveram na Rio Branco três dias antes mostraram que havia a possibilidade até certo ponto (e até certa hora), mas com uma quantidade de gente dez vezes maior, em um país que até outro dia quem fazia greve era chamado de vagabundo (e hoje, isso mudou?), com muito mais gente indo pelo oba-oba do que lutar por uma causa, qualquer que fosse ela, não poderia gerar bons resultados. Quando cheguei, o clima era de micareta-sem-beijo-na-boca, só que em vez de abadás, cartazes e faixas com reivindicações.







Aproximando-se da prefeitura, o clima ia ficando mais tenso e sombrio. Princípios de confusão e uma sensação muito estranha ao conseguir controlar uma pequena multidão que corria assustada, gritando "sem pânico", "sem correr".



Um pouco mais à frente começa a se tornar hábito pedir para que as pessoas se acalmem enquanto via pela primeira vez em uma passeata médicos voluntários, algo que seria bem comum no futuro próximo.










Logo, o motivo para as pessoas estarem correndo podia ser ouvido de forma bem clara. Bombas estouravam com uma intensidade cada vez maior, o que indicavam estar cada vez mais próximas. Seguir pela Avenida Presidente Vargas em direção à Candelária naquele momento seria roubada, então a opção foi procurar voltar "por dentro", em direção à estação da Praça Onze do metrô.




No meio do caminho já era possível sentir um pouco do cheiro do gás lacrimogêneo. Pessoas naquela área pareciam mais preocupadas em observar bolsos & bolsas do que as bombas. Como existia a possibilidade do metrô estar recebendo naquele momento algumas centenas de milhares de pessoas desesperadas, nova mudança de rumo, desta vez para a Estácio, sempre se distanciando da Presidente Vargas, mas ao mesmo tempo ficando um pouco mais próximo do epicentro do caos, que era a sede da prefeitura. a fumaça das bombas podia ser vista bem de perto.







Nas ruas por onde passava, muita gente perdida sem saber qual caminho tomar para sair da confusão. Em casa, imagens na televisão de causar lágrimas nos olhos, com um policial tentando defender, sozinho por alguns momentos, o Palácio do Itamaraty, enquanto pessoas tentavam incendiar o prédio. Multidões não podem ser controladas, mas podem ser "aproveitadas" para os mais diversos fins.




Ao mesmo tempo que não me parece ser correto apoiar ações que não pratico (incendiar um prédio público, por exemplo), pela internet, bem mais do que pela televisão, íamos tomando conhecimento de como estava se desenvolvendo a ação da polícia do Rio de Janeiro, perseguindo toda e qualquer pessoa que estivesse pela Presidente Vargas e estendendo sua perseguição para a Praça XV, Cinelândia, o Hospital Souza Aguiar, a Lapa e até mesmo em Laranjeiras, da única forma que eles sabem ser: brutais.




Muitos feridos, algumas pessoas até perderam a vista de um dos olhos ou tiveram parte do rosto desfigurado pelas balas de borracha. O vasto noticiário com fotos e vídeos dessa noite que foi de terror para muita gente pode ser encontrada facilmente na internet.




Depois de 20 de junho, as manifestações no país começaram a perder força, com exceção do Rio de Janeiro, muito graças à vergonhosa atuação do governo estadual daqui. De qualquer forma, no dia anterior várias cidades, incluindo aí as capitais de Rio e São Paulo, diminuíram as tarifas de ônibus, motivo inicial para as manifestações em junho. O governo federal e o congresso nacional tomaram medidas, bem tímidas, visando atender algumas demandas da população, desde que não prejudicassem seus próprios ganhos e alianças.



Mas no fim das contas, vejo esse dia 20 de junho como um grande "soluço" do Brasil. De onde vem o soluço? Existem muitas explicações relacionando ar, respiração, diafragma, mas às vezes um mesmo ato seu (comer rápido, por exemplo) pode causar soluço como pode não causar.




A política é vista com desprezo pela maior parte dos brasileiros há muito tempo. Tudo aquilo que foi motivo de protestos nas ruas já acontecia há muito tempo. Porque no dia 20 tanta gente resolveu sair às ruas? Porque decidimos reivindicar só agora? E porque mesmo sem muitas exigências atendidas, os protestos perderam força? Assim como o soluço, existem várias explicações (um susto, nos dois casos, pode ser uma explicação), mas nenhuma definitiva e completa.




Ainda precisamos de uma certa distância no tempo para compreendermos melhor o 20 de junho e o próprio ano de 2013. Ou será que não há melhor compreensão do que viver o momento? Se for assim, vivemos. Um dia, um mês, um ano que dificilmente esqueceremos.





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