13 de julho de 2013
Dos 365 dias do ano, nenhum se comparou ao 13 de julho de 2013. Era sábado, e um dia antes começou a circular via facebook o convite para um evento muito especial, na Igreja do Carmo, centro do Rio de Janeiro.
Lá aconteceria o casamento da neta de Jacob Barata. Eu já tinha falado do Jacob Barata no mês anterior, quando começaram as manifestações pela tarifa de ônibus e não via nenhum jornal, rádio ou tv perguntar para os donos das empresas o que eles achavam sobre isso.
Na mesma hora e local aconteceria o casamento da Dona Baratinha. Finalmente, outras pessoas estavam interessadas em ir ao cerne do problema de transporte "público" (muitas aspas) no Rio de Janeiro e resolveram fazer um protesto que, apesar da seriedade da questão, tivesse bom humor e ao mesmo tempo trouxesse luz a esses personagens que, assim como o sobrenome da família em questão, preferem viver nas sombras.
E funcionou, de certa forma. O Rio ganhou a partir daí e posteriormente com a mal sucedida CPI dos Ônibus um personagem e um nome que já está no imaginário de muita gente. Ver na saída da igreja os noivos e familiares saindo correndo com dezenas gritando "a e i o u, todo mundo pra Bangu" foi um choque no mundo de fantasia que esses empresários achavam que viveriam para sempre, incólumes aos protestos contra a atuação e lucros de suas empresas em cima de um direito de qualquer cidadão, o transporte.
Mais divertido ainda que o desmoronamento desse mundo de fantasia tenha se dado com gente vestida de noiva, Branca de Neve, garçom, festa junina... No Copacabana Palace, onde foi realizada a festa (que, dizem, custou dois milhões de reais), o número de manifestantes dobrou.
Na igreja a polícia fez a segurança particular da cerimônia, mas no Copa o contingente policial era bem menor e mesmo assim um policial tentava apaziguar ânimos o tempo todo na base da conversa, algo raro de acontecer. E deu certo, até porque a intenção do manifesto era mesmo uma forma de escracho para criticar o sistema de transporte público na cidade, com direito a vários gritos que iam de "Não vai ter f...", parodiando o "Não vai ter Copa" bem comum em manifestações e ao mesmo tempo rogando praga na noite de núpcias, ao "Ei, garçom, cospe na comida!", entre muitos outros.
Talvez fosse melhor ter um policial dentro da festa, já que um imbecil, que depois seria identificado como primo da noiva, começou a arremessar notas de Real em forma de aviãozinho. A provocação surtiu efeito de enfurecer os manifestantes e em pouco tempo todas as janelas do Copacabana Palace mais próximas da Avenida Atlântica tiveram que ser fechadas.
Mais tarde, um dos convidados arremessou um cinzeiro, acertando e cortando a testa de um manifestante. Ainda há muito a ser feito para que certos donos do poder se deem conta de que eles não podem achar que vão sair impunes do que quer que façam. Mas desde então o governador Sérgio Cabral (que não estava no casamento da neta dos Barata) volta e meia muda de local, cancela ou antecipa eventos no qual estaria presente. Imagino que figurões pensem duas vezes antes de anunciar em colunas sociais o casamento de seus pimpolhos. O caminho é longo e talvez não cheguemos lá, mas que dia bonito foi 13 de julho de 2013. Foi um ano muito maluco, mas esse dia fez valer a pena.
Gravei 42 pequenos vídeos contando a história desse dia e recomendo que assistam vários deles aqui ou abaixo.
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